Alguns acham curioso; outros, divertido. Para muitos, o sexo à frente de todos pode ser considerado indecoroso, mas pouca gente saber responder por que os cachorros ficam grudados enquanto acasalam. A resposta é bastante simples: o “grude” aumenta as probabilidades de fecundação.
Apesar de também serem uma fonte de prazer, as relações sexuais têm uma finalidade específica: a reprodução das espécies. A natureza levou milhares de milênios para desenvolver a fecundação interna (a gestação uterina é recente: tem “apenas” pouco mais de 60 milhões de anos).
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Fecundação interna e gestação
Os cachorros ficam grudados para garantir que as relações sexuais tenham êxito: o objetivo principal é gerar uma ninhada. Para compreender os motivos, é necessário conhecer um pouco de anatomia.
A fecundação interna não é comum entre os seres vivos: ela se restringe aos mamíferos e a algumas espécies de anfíbios e peixes. Ela apresenta vantagens em relação à fecundação interna: os animais precisam produzir um número menor de gametas (óvulos e espermatozoides) para ter sucesso na reprodução.
Além disso, na fecundação interna, os zigotos (a união dos gametas masculinos e femininos) ficam protegidos no trato reprodutivo das fêmeas, mesmo entre espécies que botam ovos. Isto garante maior probabilidade de sobrevida para os seres que estão sendo gerados.
Especialmente entre os mamíferos, ocorre também a gestação uterina: os embriões e fetos ficam protegidos até que estejam maduros. Durante a gravidez, eles também são nutridos e recebem oxigênio do organismo feminino.
O cio da cadela
Os cachorros fazem parte deste grupo, mas, ao contrário das mulheres humanas, as cadelas nem sempre estão receptivas ao acasalamento. O ciclo menstrual na espécie é longo e segue uma série de etapas.
Chamado cio ou estro, a maioria considera apenas o chamado período fértil, mas o ciclo é bem mais sofisticado. As cadelas geralmente entram no cio a cada seis meses, que se manifesta durante três semanas. Mais uma vez, ao contrário das mulheres, os ciclos irregulares são bastante incomuns entre as cachorras.
O cio inclui as seguintes etapas, determinadas pela maior ou menor produção dos hormônios sexuais:
- proestro – a cadela ainda não está fértil, não permite o acasalamento e surgem alguns sangramentos leves. A vulva começa a inchar e destacar-se;
- estro – é o período reprodutivo propriamente dito;
- diestro – ocorre depois do acasalamento e a fêmea pode estar grávida. Se não tiver ocorrido fecundação, o diestro é passivo (e também é o período em que as cadelas podem desenvolver a gestação psicológica);
- anestro – é a fase imediatamente posterior ao período fértil ou ao parto. Pode durar até seis meses, as fêmeas não demonstram interesse sexual nem produzem feromônios para atrair os machos.
O cio das cadelas segue um ritmo constante, do anestro (inatividade sexual) ao estro, ou ao nascimento e aleitamento dos filhotes. Ele é bem diverso do que se observa entre os gatos, cujas fêmeas são poliéstricas: elas apresentam diversos cios no decorrer do ano, inclusive induzidos pela presença de machos ou de outras fêmeas em fase reprodutiva na região.
O “grude” dos cachorros
Compreendidas as fases do ciclo menstrual, é possível avaliar o motivo por que os cachorros ficam grudados quando acasalam. Quando o período fértil se estabelece, a vulva fica inchada e proeminente, uma condição absolutamente normal.
Durante o estro, as cachorras liberam feromônios para atrair os machos. Apesar de essas substâncias serem inodoras para nós, elas podem ser percebidas a distâncias de dois ou três quilômetros, de acordo com o vento.
Este é também o período das fugas, escapadas, brigas entre os candidatos ao acasalamentos, muitos acidentes, como quedas e fugas, e, por fim, o nascimento de ninhadas indesejadas. Quem não pretende dar início a uma criação de cães precisa providenciar a castração dos machos e fêmeas antes que eles atinjam a maturidade sexual.
Quando as cadelas finalmente escolhem os parceiros sexuais, os machos montam na fêmea depois de poucos minutos do “cortejo nupcial”. Os cachorros não conseguem manter a posição por muito tempo. Por isso, ao fim da monta, o pênis fica preso à vagina.
Isto ocorre porque a glande do pênis recebe irrigação sanguínea extra, justamente para garantir a ereção e a penetração. Os órgãos sexuais dos cachorros são relativamente finos e alongados, adaptados ao canal vaginal das fêmeas, que é estreito, apesar de bastante elástico.
Outro motivo para o grude: os cachorros não desenvolveram a capacidade de ejacular de forma “explosiva”. A liberação do esperma ocorre por gotejamento e, por isso, machos e fêmeas ficam grudados para que o líquido seminal (cujo volume varia de 1 ml a 80 ml) possa ser transferido para a vagina e chegar à tuba uterina na maior quantidade possível.
O orgasmo dos machos é dividido em três fases: a primeira não carreia espermatozoides e acontece em um ou dois minutos depois da monta. A segunda, já com as células sexuais, aumenta a vascularização da glande. Na terceira etapa, em que se concentra a maior parte dos espermatozoides, o casal já está grudado.
As cadelas também são equipadas para garantir o sucesso do acasalamento. Elas são dotadas com uma região chamada anel fibromuscular, localizado na entrada do canal vaginal, que é mais estreito do que a glande (ou “cabeça” do pênis).
O que fazer quando ver cachorros grudados?
Quem presencia cachorros acasalando não deve interferir no processo. Entre a monta e o fim do “grude”, podem transcorrer de 15 minutos a uma hora. Se ocorrer uma invasão do quintal, por exemplo, é preciso impedir que o macho se aproxime antes do início do coito.
Não adianta jogar água, nem tentar puxar os animais. Eles estão apenas obedecendo ao chamado da natureza. Não há nada imoral nem impróprio no acasalamento. Quem não quiser observar estas cenas deve providenciar a esterilização ou procurar outro local na casa enquanto os cachorros estão grudados.
Intervir no acasalamento depois da monta pode inclusive ser perigoso para os cachorros, que podem sofrer lesões internas e externas, mas a separação é praticamente impossível. Quando o coito finalmente terminar, macho e fêmea irão se separar naturalmente, sem nenhuma necessidade de ajuda externa.
Alguns tutores, mesmo depois de ter planejado o acasalamento com vistas a obter uma ninhada, podem se assustar com os ruídos emitidos pelos cachorros enquanto eles estão grudados. A situação parece desconfortável, mas é absolutamente natural. É preciso deixar a natureza seguir o curso.
Certas situações, no entanto, devem ser evitadas – antes do encontro entre os parceiros sexuais. Nos casos em que as fêmeas intactas (que não foram castradas) entram no cio e passam a atrair os machos, o que resta a fazer é isolá-las dentro de casa e fechar todas as entradas possíveis.
Atualmente, os tutores têm a possibilidade de apenas esterilizar os peludos, submetendo-os a vasectomias ou laqueaduras. Nestes casos, é possível que eles continuem tentando acasalar – e as cenas de cachorros grudados continuarão ocorrendo.
Em geral, no entanto, com a queda da produção dos hormônios associados ao acasalamento e à procriação, tanto machos quanto fêmeas perdem o interesse pela atividade sexual.
O acasalamento dos cachorros
Quem quer obter filhotes precisa providenciar um parceiro de porte compatível. Um macho muito grande pode machucar a fêmea, mas o risco maior é o de que os fetos se tornem grandes demais, o que pode redundar em abortos espontâneos ou partos difíceis. As cadelas, nestes casos, correm o risco de morrer.
No caso inverso (machos pequenos e fêmeas grandes), o acasalamento é possível, mas, em muitas ocasiões, os tutores precisam dar uma forcinha: por exemplo, apoiando os cachorros no colo (ou em um banquinho) enquanto eles estão grudados às fêmeas.
Se o acasalamento se efetivou, provavelmente já existem “bebês a bordo”: a fêmea está grávida. Isto, no entanto, não a impede de continuar atraindo outros parceiros, enquanto os hormônios sexuais estiverem em alta. Uma cadela pode gerar filhotes de diferentes pais.
No caso das gestações indesejadas, os tutores que não tomaram providências para impedir os acasalamentos podem perceber os primeiros sinais em poucos dias. Cachorras grávidas apresentam aumento de apetite quase imediato, podem ocorrer vômitos, a barriga começa a inchar, os mamilos escurecem e ficam proeminentes.