Barba tem mais germes do que pelo de cachorro, aponta estudo

Estudo indica que a barba pode ter mais micro-organismos nocivos do que a pelagem dos cães.

Esta é uma notícia ruim para os tutores que têm barba. Um estudo, conduzido por pesquisadores suíços e austríacos, e publicado na prestigiosa revista “European Radiology”, concluiu que a barba ostentada orgulhosamente por muitos homens podem ter mais micro-organismos nocivos à saúde do que o pelo dos cães.

Para quem não permite que os cachorros deem lambeijos para demonstrar carinho, mas aceita a proximidade física de um ou mais barbados, o estudo indica que é preciso rever os conceitos sobre higiene. Mas, para sorte dos barbudos, a pesquisa já recebeu algumas refutações.

O estudo

Andrea Gutzeit, professora do Departamento de Radiologia da Universidade de Salzburg (Áustria), coordenou uma equipe de pesquisadores nas universidades de Lucerna e Zurique (Suíça). O estudo foi publicado inicialmente em 2019 e vem recebendo atualizações e revisões nos últimos anos.

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A pesquisa procurou responder à seguinte pergunta hipotética: “Seria viável, do ponto de vista higiênico, avaliar humanos e cachorros em um mesmo aparelho de ressonância magnética?”. Para tanto, foram comparadas as cargas bacterianas em unidades formadoras de colônias de micro-organismos patogênicos.

Os pesquisadores colheram amostras da barba de 18 voluntários humanos e dos pelos de 30 cães, todos selecionados aleatoriamente. A extensão da contaminação bacteriana foi comparada com scanners usados exclusivamente em homens.

Os homens barbudos tinham entre 18 e 76 anos no momento em que as amostras foram colhidas. Os cachorros selecionados pertencem a raças distintas (a maioria era composta por pastores alemães e schnauzers).

Um dado interessante: os cachorros “doaram” pelos retirados da região da cernelha, entre as omoplatas. O motivo é que esta área concentra um número elevado de dermatites, só superado pelas orelhas dos peludos.

Os resultados demonstraram que a carga bacteriana é significativamente maior entre os homens. Entre os 18 voluntários barbudos, todas as amostras de pelos foram contaminados por micro-organismos (sete delas – ou pouco menos de 40% –, por bactérias nocivas à saúde humana); entre os 30 cães, 23 amostras (pouco mais de 75%) revelaram a presença de germes e apenas em quatro havia germes mais preocupantes.

O estudo não autorizou a liberação geral e irrestrita dos lambeijos, mas mostrou um fato preocupante: a má higienização da barba, que pode ser semelhante à higidez de cabelos, pelos humanos, etc.

Seja como for, a conclusão é que é possível compartilhar scanners em clínicas para humanos e caninos, desde que os equipamentos sejam cuidadosamente higienizados depois de cada uso. Mesmo assim, não há notícias sobre médicos e veterinários usando os mesmos equipamentos.

Algumas comparações

É importante lembrar que bilhões de bactérias habitam os corpos humanos. As maiores colônias estão na pele (onde os micro-organismos se alimentam de células mortas e contribuem para a renovação do tecido epitelial).

Outra importante colônia está fixada em toda a extensão do intestino. Ao absorver e excretar substâncias em nosso organismo (e de praticamente todos os seres vivos, especialmente animais e vegetais), estas bactérias permitem melhor aproveitamento dos nutrientes.

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O problema começa com a proliferação excessiva. Na pele, o aumento do número de bactérias responde por mau cheiro (nas axilas, virilhas, dedos dos pés, etc.), acne, reações alérgicas e algumas doenças dermatológicas mais severas.

No intestino, tanto o excesso quanto a escassez de micro-organismos podem causar alguns problemas: desnutrição e diarreias são os mais frequentes, mas as bactérias podem migrar e causar infecções em outros órgãos (o mais frequente é a bexiga urinária).

Entre os micro-organismos identificados pelos pesquisadores, dois deles atraíram atenção especial:

  • o Enterococcus faecalis, naturalmente presente no intestino humano e de outros mamíferos, mas potencialmente causador de infecções urinárias, meningites e sepses (especialmente em ambientes hospitalares);
  • o Staphylococcus aureus, que vive na pele e nas fossas nasais de metade da população humana, mas que, em excesso, é responsável por diversas infecções, que vão de casos de acne até pneumonias e endocardite.

Os motivos do estudo

Mas, pode-se pensar: o que os pesquisadores suíços e austríacos queriam encontrar com uma pesquisa aparentemente tão despropositada? O objeto principal da pesquisa foi aferir a segurança de partilhar equipamentos de diagnóstico por imagens.

As bactérias foram encontradas nos scanners radiológicos usados para avaliar as amostras da barba e da pelagem canina, e não nos pelos ou na pele dos voluntários. Exames de imagens são frequentes em clínicas em hospitais para humanos, mas relativamente raros entre os cachorros.

Naturalmente, todos estes micro-organismos podem causar danos, em condições higiênicas precárias. Pode ocorrer contaminação através de alimentos manuseados com mãos sujas e os germes podem ser carreados pelos dedos para regiões sensíveis, como boca, olhos e orelhas.

Em outras palavras, os médicos e biólogos envolvidos no estudo queriam saber se é seguro usar os mesmos equipamentos. Afinal, são poucas as clínicas veterinárias que dispõem de aparelhos para tomografia ou ressonância magnética.

Em tempo!

O estudo suíço-austríaco não é motivo para pânico, nem para temer riscos de infecções sem fundamento. Os seres humanos convivem com bactérias e fungos desde que a espécie surgiu, há 350 mil anos. Se fôssemos totalmente suscetíveis aos micro-organismos, já teríamos sido extintos há muito tempo.

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A pesquisa também não aponta para a necessidade de eliminar a barba de todas as faces masculinas do planeta – inclusive, em algumas regiões, por costumes e crenças, os pelos faciais são obrigatórios. De qualquer maneira, cultivar ou não uma bela barba depende das preferências individuais.

Os cientistas apontaram apenas para a necessidade da adoção de métodos e técnicas mais eficazes para a higienização. O estudo indicou alguns pré-requisitos para a partilha de instrumentos e equipamentos – e não apenas com cães, mas também com outros pacientes humanos.

Os micro-organismos estão igualmente muito bem adaptados às condições de vida que o planeta oferece – e muitas vezes os humanos as transformam. Alguns objetos lugares insuspeitos podem ser focos de bactérias e fungos.

Nem por isso, nós adoecemos – e o mesmo pode-se dizer sobre os nossos pets. Em condições normais, o nosso sistema imunológico é capaz de combater a maioria das invasões microbianas ou eliminar os riscos, que são maiores para os portadores de doenças crônicas e neoplasias, convalescentes de acidentes e de cirurgias e, de modo geral, para as crianças e os idosos.

O botão do elevador pode parecer inocente, mas, depois de ser apertado por milhares de dedos, ele sempre está repleto de micro-organismos. Vale o mesmo para qualquer área comum: parques, praças, mobiliário urbano e até mesmo a área de descanso do local de trabalho ou estudo.

Você já parou para pensar que raramente nós lavamos as nossas malas e mochilas? Quanto mais elas circulam, mais bactérias e fungos podem “colecionar”. Outros objetos insuspeitos são cardápios de restaurantes, carrinhos de compras em supermercados, cédulas de dinheiro, máquinas de cartões, etc.

Os micro-organismos também estão presentes em um aparelho que se tornou “de primeira necessidade” nos últimos anos: o telefone celular. Continuamente tocado e manuseado por dedos que foram expostos das mais diversas maneiras, eles são repositórios de fungos e bactérias.

Tudo isto, para os seres humanos comuns, serve para lembrar a necessidade da higiene. Banhos diários, lavagens frequentes das mãos, trocas de roupas e calçados e limpeza dos objetos que manuseamos são tarefas importantes, que devem ser muito bem executadas.

No caso da barba, não é preciso eliminá-la para garantir a saúde. Basta tomar os devidos cuidados: os pelos faciais também merecem atenção, com produtos específicos, assim como fazemos com os cabelos.

Com relação aos cachorros, não é preciso afastá-los do nosso convívio. No caso dos animais que passam muito tempo ao ar livre, é importante escovar a pelagem diariamente, usar repelentes de insetos e, para todos, não esquecer os banhos (que podem ser mensais), a escovação dos dentes (a cada dois dias) e as visitas regulares ao veterinário.

Viver é sempre um risco: estar vivo, vale lembrar, é pré-condição para morrer. Felizmente, alguns bons hábitos de higiene eliminam a maioria dos riscos – e isto vale também para os agentes infecciosos).

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