Cães braquicefálicos: tudo o que você precisa saber

Eles estão entre os preferidos dos criadores. Descubra tudo o que você precisa saber sobre cães braquicefálicos.

Estes peludos são mais conhecidos como cães de focinho achatado. A Medicina Veterinária classifica os cães, em relação ao comprimento do crânio, como:

dolicocefálicos – cabeça longa e estreita, com a testa inclinada e o focinho comprido. É o caso do whippet, dachshund, afghan hound, etc.;

mesocefálicos – é o meio termo. A cabeça é mais larga e o focinho tem o comprimento equivalente ao do alto do crânio. Beagle, retriever do Labrador, golden retriever e a maioria dos sem raça definida (SRD) são exemplos;

braquicefálicos – o focinho é encurtado, dando impressão de ter sido achatado. É sobre estes cães que vamos discorrer neste artigo.

Cães braquicefálicos
Buldogue inglês

As características dos cães braquicefálicos

A palavra vem da junção de dois termos latinos: “brachys”, que significa “curta distância” e “cephalus”, que significa “cabeça”, “relativo à cabeça”.

Cães braquicefálicos apresentam o focinho, da cana nasal à trufa, muito mais curto do que os demais. Em função desta característica anatômica desenvolvida artificialmente (ela não é encontrada na natureza entre os canídeos), estes animais têm propensão a algumas doenças respiratórias.

Estes cães são bastante populares entre os brasileiros. Em 2019, das cinco raças mais registradas na Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC), três eram braquicefálicas, perdendo apenas do lulu da Pomerânia (spitz), o campeão de registros.

Independente do porte, os cães braquicefálicos se caracterizam pela alegria, docilidade e apego aos tutores. São 11 as raças de “cara amassada”:

  • pug;
  • shih tzu;
  • pequinês;
  • maltês;
  • buldogue inglês;
  • buldogue francês;
  • boxer;
  • lhasa apso;
  • boston terrier;
  • cavalier king Charles;
  • dogue de Bordéus.

Até alguns anos atrás, os criadores continuavam tentando obter cães com focinhos cada vez menores e mais achatados. Para isso, os canis privilegiavam os animais de cara amassada como padreadores e matrizes.

Há um problema, no entanto: ao encurtar mais e mais o focinho, as vias aéreas superiores (narinas, laringe e traqueia) ficam cada vez mais comprometidas, prejudicando a capacidade respiratória dos pets e favorecendo o surgimento de doenças pulmonares e cardíacas no médio prazo.

Outro problema é que, com o crânio encurtado, falta espaço no focinho para o maxilar desenvolver a dentição superior. Nos cães braquicefálicos, ocorre o prognatismo, em que a mandíbula se sobrepõe ao maxilar.

Isto determina uma mordedura em tesoura invertida (a mordedura em tesoura ocorre quanto os dentes superiores, especialmente incisivos e presas, se posicionam à frente dos inferiores). A mordida dos cães braquicefálicos pode comprometer a mastigação, levando a distúrbios gastroesofágicos.

É importante lembrar que, nos cães, o aparelho respiratório é fundamental também para a termorregulação. Uma vez que os cachorros quase não suam através da pele (a exceção são os coxins plantares, dotados de glândulas sudoríparas), é principalmente através da respiração que os peludos regulam a temperatura corporal.

Os cachorros de focinho achatado quase sempre apresentam anomalias indesejadas, tais como:

narinas estenóticas – aberturas nasais pequenas, que, com a flexibilidade da cartilagem nasal, obstruem a passagem do ar. Nos filhotes, a estenose prejudica inclusive a amamentação;

sáculos da laringe evertidos – sáculos são estruturas semelhantes a dedos de luvas que, no caso destes cães, mostram-se atrofiadas e disfuncionais;

palato mole alongado – o palato mole é o tecido que constitui a parte de trás do céu da boca. Quando ele se prolonga pela entrada da traqueia, prejudica as funções respiratórias;

traqueia hipoplásica – é a redução, desde a gestação, da atividade de formação dos tecidos da traqueia.

Veterinários e biólogos consideram que os cães braquicefálicos tendem a sofrer mais com problemas respiratórios e digestórios – é a chamada síndrome braquicefálica. Por isso, atualmente os criadores vêm tentando manter ou aumentar os focinhos destes pets.

A síndrome braquicefálica

Ao longo de alguns milênios, os homens promoveram alterações anatômicas nos cachorros. Prova disso é que atualmente existem minúsculos chihuahuas e pinschers convivendo, às vezes lado a lado, com imensos bloodhounds e dogues alemães.

A maioria dos cruzamentos seletivos visou a desenvolver características ideais para a caça, combate, controle de rebanhos e guarda de patrimônio. Os cães braquicefálicos, no entanto, foram desenvolvidos apenas por questões estéticas.

Aparentemente, a humanidade gosta bastante dos cães de focinho achatado. Pequineses, shih tzus e lhasa apsos foram desenvolvidos no Oriente, enquanto boxers e buldogues são criações ocidentais.

Efetivamente, o focinho alongado lembra o de um lobo, com a ferocidade característica da espécie. Os cães de cara amassada passaram a ser privilegiados porque apresentam um aspecto mais dócil, menos perigoso.

A síndrome, mais comum nos cachorros de pequeno porte, é resultante desta seleção artificial. O principais sintomas são os seguintes:

  • respiração ofegante e ruidosa;
  • dispneia (dificuldade para respirar);
  • cianose das mucosas;
  • tosse constante;
  • espirros reversos;
  • engasgos;
  • alterações nas vocalizações.

A oclusão das vias aéreas pode causar um deslocamento das aletas (asas) das narinas. Gradualmente, o cachorro passa a respirar com apenas uma narina e, no caso de oclusão total, somente pela boca.

As narinas apresentam a função de filtrar o ar inspirado, umidificá-lo e dosar a temperatura com que ele entra nos pulmões. Nos animais destas raças, o ar chega muito aquecido, causando indisposição e mal-estar.

Sem tratamento, existe o risco de formação de edemas pulmonares (acúmulo de líquidos nos pulmões). Os edemas causam redução da pressão intratorácica (e são ampliados por ela), colapsos respiratórios e até a morte.

O diagnóstico da síndrome braquicefálica é realizado através do exame clínico, com a inspeção das narinas, palato, faringe e laringe. O veterinário pode solicitar exames de imagens, para verificar a extensão dos comprometimentos; uma ressonância magnética é útil para identificar a hipoplasia da traqueia, por exemplo.

Nos casos graves, pode ser necessário uma cirurgia para ampliar os orifícios nasais externos, extrair o excesso de palato mole e/ou os sáculos comprometidos. O procedimento é simples e melhora sensivelmente a qualidade de vida dos pets afetados.

Outros problemas

O achatamento do crânio que caracteriza os cães braquicefálicos pode ser responsável por outros transtornos de saúde. O mais comum é o fôlego curto, que impede os exercícios intensos e as caminhadas prolongadas.

Estes cães também podem apresentar:

problemas oculares – os olhos dos cachorros braquicefálicos tendem a ser esbugalhados, justamente em função da falta de espaço craniano para os globos oculares. As pálpebras também podem não se desenvolver corretamente. Além dos riscos maiores de traumas, ocorre baixa produção lacrimal (o popular olho seco);

problemas odontológico – também por falta de espaço, os dentes definitivos “disputam espaço” no maxilar e tendem a nascer tortos e desalinhados. Os cachorros apresentam tendência maior para o desenvolvimento de tártaro e placa bacteriana;

aerofagia – literalmente, é a ingestão de ar pelas vias digestórias. Com a respiração comprometida, os cães para a inspirar pela boca e parte do ar se desloca para o esôfago e o estômago. Podem ocorrer refluxos esofágicos, flatulência, náuseas e vômitos.

Os aviões

Viajar com cachorros de avião quase sempre é uma experiência desgastante. No caso dos animais braquicefálicos, é necessário tomar algumas providências. Algumas companhias aéreas não permitem a viagem de cães destas raças no compartimento de bagagem.

Isto ocorre porque, além de serem muito suscetíveis a temperaturas elevadas, os cachorros braquicefálicos se ressentem das temperaturas baixas – e o porão dos aviões é climatizado justamente para não comprometer a bagagem dos passageiros.

Pugs, boxers & cia. têm dificuldade para respirar normalmente. Em situações de estresse, o desconforto pode ser ainda maior. Além disso, existe o risco de vasoconstrição (redução do calibre dos vasos sanguíneos), em função do ar frio e rarefeito dos aviões. Nestas condições, os cães podem sofrer com desmaios, paradas cardíacas e respiratórias.

Os cuidados com cachorros braquicefálicos

De qualquer maneira, o focinho achatado não é uma sentença de morte. Os cachorros braquicefálicos precisam de cuidados veterinários mais frequentes e não podem ser submetidos a atividades muito intensas. Por isso, tutores que fazem o gênero atlético precisam pensar duas vezes antes de adotar um boxer ou um pug, por exemplo.

Estas raças são mais indicadas para pessoas tranquilas, mas isto não significa que os exercícios físicos devam ser negligenciados. Todos os cães braquicefálicos, assim como os demais, precisam caminhar diariamente e brincar com bolinhas e outros objetos. Um boxer saudável pode inclusive praticar agility (com autorização médica).

Apenas a intensidade deve ser dosada. Especialmente nos dias quentes, maioria no Brasil, a atividade física deve ser limitada. Os tutores precisam ficar atentos à respiração dos pets, sempre levar água para eles e parar para descansar aos primeiros sinais de desconforto.

Quando os cães braquicefálicos são forçados ao exercício, podem inclusive desenvolver intolerância a eles, mostrando-se tensos, irritados, amedrontados. Alguns desenvolvem ansiedade apenas ao aproximar o momento da “malhação”.

Especialmente no verão, devem ser evitados os passeios muito longos nas horas mais quentes do dia (dê preferência ao início da manhã ou final da tarde). O ideal é definir um percurso mais curto, com trechos de sombra e fazer paradas estratégicas par que os pets recuperem o fôlego.

Deixe água fresca à disposição dos pets na casa toda (esta é uma forma de incentivar os cachorros a ingerir líquidos). Nos dias quentes, coloque algumas pedras de gelo no bebedouro: elas refrescam e são um brinquedo interessante por alguns minutos.

Sempre que os tutores perceberem a respiração muito ofegante, o ideal é refrescar os pets com uma toalha umedecida (ao nosso tato, a temperatura pode estar à temperatura ambiente). Fora de casa, leve um borrifador e jogue água no dorso e nas patas.

Qualquer manifestação estranha – cansaço, apatia, indisposição para brincar e interagir, indigestão, aceleração dos batimentos cardíacos, etc. – é motivo para levar estes pets ao veterinário. Muitas doenças podem ser curadas ou amenizadas, desde que sejam diagnosticadas precocemente.

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