Os cachorros amam incondicionalmente, mas eles sempre escolhem uma pessoa favorita.
Os cachorros são extremamente leais e companheiros. Eles convivem com os humanos há milhares de anos, sem interrupções, justamente pelas características de fidelidade, proteção e companhia. Mesmo assim, em cada família, eles tendem a escolher uma pessoa favorita.
Tentar entender como os relacionamentos são formados e mantidos não é uma tarefa fácil. Muitos componentes entram em jogo e aquilo que traz felicidade precisa ser alimentado continuamente.
Quando um cãozinho é adotado, quase todos os membros da família querem ser escolhidos como “o favorito”. É certo que ele dedicará amizade, atenção e carinho a todos os parentes, mas, quando a recíproca é verdadeira, fica mais fácil estabelecer e perpetuar os vínculos.
As raças
A maioria dos cachorros estabelece relacionamentos positivos e produtivos com toda a família, mesmo com os “parceiros eventuais” – aqueles que passam apenas algumas horas ou dias da semana em casa.
De qualquer maneira, algumas raças caninas, tendem a escolher “um tutor só”. Geralmente, são os animais mais independentes, cujos ancestrais passaram muito tempo em atividades isoladas, como os pastores e boiadeiros, por exemplo.
Cães das raças basenji, shiba, cairn terrier e todos os galgos (whippet, greyhound, etc.) quase sempre se vinculam a uma única pessoa favorita: é o líder da casa, ou pelo menos o parente que eles entendem exercer o papel de chefia.
Os demais são apenas membros mais ou menos importantes da matilha. Mesmo que o cachorro se coloque no último patamar da hierarquia, ele guiará as ações baseado apenas na figura do líder.
É o caso do pastor australiano. Acostumado a permanecer semanas inteiras sozinho com os rebanhos, ele tende a reconhecer a liderança apenas do “fazendeiro”. Os cães da raça podem seguir e obedecer aos demais, mas sempre encarando-os como personagens secundários.
Por outro lado, os cães que foram desenvolvidos para trabalhar em grupo estabelecem relações profundas com toda a família. Mesmo identificando o líder, eles criam relacionamentos positivos com todos os parentes. Quem já viveu com um beagle ou um husky siberiano sabe disso.
Os motivos
São várias as razões que fazem um cachorro escolher a sua pessoa favorita. Em geral, eles se aproximam especialmente dos humanos que cuidam deles: fornecem alimento, agasalho, atenção e brincadeiras.
Da mesma forma, fica fácil que eles irão tentar se afastar das pessoas mais distantes (talvez por timidez ou por não saber expressar os sentimentos), mas também daquelas muito efusivas: carinhos do tipo “Felícia” quase nunca são bem-vindos.
Em geral, os cães (especialmente os filhotes) decidem manter distância das crianças pequenas, que ainda não sabem dosar os afagos e acabam puxando rabos ou enfiando os dedos nos olhos e orelhas.
Os responsáveis pela educação inicial – o treinamento do “sim” e “não”, por exemplo – também podem ser ignorados pelos cães nos primeiros contatos. Afinal, há outras pessoas na família que não ditam tantas regras e imposições.
Felizmente, os peludos rapidamente assimilam as normas da casa e, como gostam muito de agradar os seus humanos – principalmente os que dão carinho, diversão e comida – é muito provável que eles escolham como favorita justamente aquela pessoa que impõe as regras, mesmo que seja alguém maníaco por limpeza.
Contatos iniciais
Os relacionamentos, como todos sabem, são vias de mão dupla. Para que a amizade e amor possam florescer, é necessário que os tutores também façam a sua parte. Quase sempre, os cães se vinculam primeiramente com quem supre as necessidades básicas.
Mas é possível tornar-se a pessoa favorita apenas por ser o companheiro de brincadeiras – e, neste quesito, as crianças costumam levar vantagem. Filhotes e adultos saudáveis são muito ativos e podem se apaixonar facilmente por quem corre, pula, persegue, puxa, estica, etc.
Os filhotes não entendem muito bem o que está acontecendo. De um momento para outro, eles são privados da companhia da mãe e dos irmãos, levados para um ambiente totalmente estranho e sentem-se sozinhos.
A experiência não deve ser gratificante. Neste caso, o candidato a “pessoa favorita” pode ser aquele que atenua as dificuldades iniciais, mesmo que seja justamente aquele que faz coisas “ruins”, como dar banho ou levar para tomar vacinas.
Quem já recebeu um filhote em casa sabe que as primeiras noites podem ser bastante incômodas. Durante o dia, o cãozinho se distrai com a comida, os brinquedos e as primeiras explorações, mas, à noite, com tudo escuro e silencioso, ele quase sempre se apavora: e o tutor perde algumas horas de sono para dar atenção e carinho.
De qualquer maneira, este é um gesto que não será esquecido. O cachorrinho, nestes casos, quase sempre transfere o afeto que sentia pela mãe e irmãos para o humano disponível, que dá atenção, limpa, alimenta e pega no colo.
Quando os cães são adotados já adultos, eles tendem a se vincular especialmente com o primeiro humano que encontram: é o candidato a tutor que visita um abrigo, ou simplesmente recolhe um animal das ruas.
Esses peludos certamente passaram por experiências difíceis, com um histórico de abandono e talvez de privações, maus tratos, frio, fome e medo. Fica fácil entender por que eles se apegam rapidamente aos “salvadores”, de quem se tornam defensores incansáveis.
As atividades
Algumas atividades estimulam o desenvolvimento integral dos cachorros e ao mesmo tempo fortalecem os vínculos. Em pouco tempo, os peludos estarão totalmente adaptados à família e o parente mais disponível para as brincadeiras com certeza terá chances maiores de se tornar o favorito.
Passar pelo menos 30 minutos diários envolvido em brincadeiras com os cães é uma chave poderosa para formar uma amizade sólida e duradoura. Os tutores podem adaptar as atividades, de acordo com os ambientes, mas o objetivo é sempre estreitar os laços.
Buscar objetos (gravetos, bolinhas, etc.) é uma das brincadeiras favoritas da maioria dos cachorros. Ensiná-los a entregar o objeto recuperado é um pouco mais difícil, já que, para eles, correr, procurar e “dominar” a bolinha ou bicho de pelúcia é a essência das brincadeiras.
Os tutores também podem optar por cabo-de-guerra, esconde-esconde, potes de petiscos (para que os cachorros descubram formas de abri-los), correrias, saltos de obstáculos, etc. O melhor método é o da tentativa e erro: alguns se apaixonam por atividades intensas, outros preferem um bate-papo tranquilo com os amigos.
Falando em conversas, alguns cães ficam deslumbrados quando o tutor fala com eles. Os peludos não entendem quase nada, mas percebem que é um momento especial de atenção e dedicação. Para os mais pacatos, uma sessão de massagem, alguns minutos de colo ou mesmo uma soneca com os humanos pode ser a forma de ganhar corações.
Características individuais
Os cachorros, no entanto, podem simplesmente associar um episódio isolado ao prazer e à satisfação. Nesses casos, até mesmo um quase desconhecido pode ser escolhido como a pessoa favorita. Pode ser um vizinho mais atencioso, um idoso da casa que dedica mais cuidado ou até mesmo um entregador ou prestador de serviços.
Por exemplo: em uma casa “muito tranquila”, sem muita coisa para fazer, um cãozinho pode se encantar com o carteiro que traz a correspondência e dispõe de alguns minutos para brincar e acariciar. Esse momento do dia passará a ser muito esperado, tornando o carteiro uma pessoa especial.
Isto não significa que o cachorro não ame as pessoas da família. Muito provavelmente, ele já está disposto, desde os primeiros dias da convivência, até a sacrificar a vida para defender os parentes. Mas o colega de brincadeiras acaba ocupando um lugar especial.
A socialização
Os cachorros são animais gregários. Eles vivem em grupos e estabelecem relações diferenciadas com cada membro. É importante ambientar o animal assim que ele chega à casa nova, oferecendo oportunidades para ele conviver com todos: os parentes, vizinhos, desconhecidos que passam na rua, etc.
Durante muito tempo, os humanos conviveram com os cachorros por razões estritamente utilitaristas: os peludos eram necessários para a caça, a guarda, a defesa e ataque, etc. Eles se envolveram com muitas outras atividades, da tração de carga ao pastoreio de rebanhos, da guerra ao resgate de pessoas perdidas ou acidentadas.
Ainda existem cachorros mantidos exclusivamente por causa das suas características de fidelidade. Muitos peludos são mantidos em ambientes externos, com pouco ou nenhum contato com a família, apenas para prevenir ou conter roubos e invasões.
Seja como for, eles precisam de muito mais. Ao adotar um cachorro, o tutor precisa ter em mente que ele se torna automaticamente o centro das atenções do animal. É importante ajudar o peludo a se relacionar com todos.
Em casa, o cachorro estabelece relações individuais com cada membro da família. Ele encara alguns como companheiros de brincadeiras, outros como provedores, outros como líderes da matilha, etc.
A escolha da pessoa favorita também passa por essas relações. Alguns cachorros mais brincalhões ficarão mais próximos dos parceiros de jogos. Os mais tranquilos podem procurar a companhia dos membros menos ativos – talvez os idosos –, junto aos quais eles poderão descansar no colo ou deitados aos pés do companheiro.
Passeios
Mas, independentemente do temperamento dos cachorros, eles devem ser estimulados a conhecer o maior número de pessoas e o momento mais adequado para isso é justamente a hora da caminhada diária.
Depois de liberados pelo veterinário (normalmente, alguns dias depois das doses de reforço das vacinas e vermífugos), os cachorros devem passear diariamente. A atividade fortalece os vínculos – e talvez o peludo descubra que “aquele chefe exigente não é tão má pessoa assim”.
Além disso, nas caminhadas, os cachorros descobrem outros seres – humanos, caninos e outros. Alguns nem são seres, mas são bastante curiosos: é o caso de motos, automóveis, caminhões, etc.
Ao travar contato com pessoas diferentes, os cachorros passam a estabelecer formas diferentes de se relacionar – e isso é muito útil para melhorar o comportamento em casa.
Eles também superam medos e fobias, que podem limitar os contatos, especialmente com os parentes menos “disponíveis”.
Nos passeios, os cachorros também conseguem compreender melhor que existem ambientes distintos para atividades distintas. É possível correr no parque ou “escalar” uma avenida íngreme, mas a sala de estar, por exemplo, não é o local adequado para brincadeiras tão intensas.
Os cães são animais inteligentes e sofisticados. Eles conseguem entender perfeitamente a função dos objetos e ambientes, da mesma forma que estabelecem formas de contato diferentes com as pessoas.
Os passeios são importantes também para o cachorro aprender a diferenciar o comum do especial, o agitado do tranquilo, a novidade do rotineiro. Para os filhotes, jovens e adultos, o responsável pelas caminhadas quase sempre é a pessoa favorita.
Outros motivos
Evidentemente, cada indivíduo é único, com características exclusivas. Alguns cachorros não gostam de passear (mas, mesmo assim, devem ser incentivados a pelo menos dar uma voltinha no quarteirão). Outros, apesar de apreciarem a atividade, dão preferência às brincadeiras em casa – ou até mesmo às sonecas no sofá e no tapete.
Todos os cachorros são gulosos – o apetite e até mesmo a voracidade são quase sempre sinais de saúde e equilíbrio. Alguns, no entanto, são mais esfomeados do que outros. Nestes casos, o “fornecedor de petiscos” tem grandes chances de se tornar a pessoa favorita.
Vale lembrar: muitos alimentos humanos são vetados para os cachorros, por serem tóxicos ou favorecerem o ganho de quilos (ou gramas) extras. O oferecimento de petiscos deve ser limitado e, se for o caso, descontado da quantidade diária de alimentos fornecida para os peludos.
Os cachorros estão sempre tentando entender os humanos. Nem sempre eles atingem os resultados pretendidos, muitas de nossas atitudes são verdadeiros mistérios. Por exemplo: por que algumas vezes o uso da coleira e da corrente, que indicam incursões em território hostil (ou pelo menos neutro), às vezes sinalizam para uma simples ida até a esquina?
Seja como for, as atividades conjuntas quase sempre são momentos ideais para fortalecer o relacionamento. Mesmo aquelas saídas de carro, que terminam na casa do homem que aperta e espeta (o veterinário) podem ser bastante divertidas: o trajeto é diferente, na casa há outros animais, muitas vezes o peludo ganha recompensas na volta para casa.
Quando o cachorro associa uma atividade qualquer a uma sensação prazerosa, ele certamente se sentirá feliz em repetir a dose. E, se a sensação surgir sempre na presença do mesmo humano, este tutor passará a ser indicativo de alegria e diversão: um sério candidato, portanto, ao título de “pessoa favorita”.
Por outro lado, alguns tutores não têm tempo para se dedicar aos cachorros. A correria do dia a dia afasta os humanos durante a maior parte do dia e o tempo que sobra é escasso, sem atenção nem brincadeiras.
Para se tornar a pessoa favorita – e manter o título –, é importante que o tutor invista no relacionamento. Alguns petiscos e brincadeiras fora de hora, uma soneca à tarde em pleno inverno, um brinquedo novo para interagir.
Tudo isso garante um relacionamento saudável e equilibrado. E, como os cães não mantêm relações com um grande número de pessoas, a repetição das experiências positivas serve para fortalecer os vínculos.