Fotógrafo registra a vida de cães em situação de rua e seu trabalho é incrível

Um fotógrafo húngaro radicado na Inglaterra registrou dezenas de cães de rua em Cabo Verde.

Zoltan Kecskes é húngaro e vive há muito tempo em Eastbourne, no sul da Inglaterra. Anos atrás, este fotógrafo apaixonou-se por cachorros de uma forma quase acidental: ele foi contratado por uma jovem inglesa para registrar os seus pets.

Atualmente, Zoltan é o marido de Agnes, a tutora que o contratou para fotografar os cães, sete anos atrás, quando teve início a especialização profissional: clicar cães e gatos. Recentemente, o casal fez uma viagem para Cabo Verde e deparou-se com uma situação deplorável.

Os cães de rua de Cabo Verde

O país insular, situado a mais de 600 km de distância do continente africano, é um destino turístico muito procurado por viajantes do mundo inteiro. O que atraiu a atenção de Zoltan e Agnes, no entanto, foi o grande número de animais abandonados – cães e gatos – pelas ruas de Praia, a capital de Cabo Verde.

As ruas e praias, especialmente nas ilhas de Boa Vista e Santiago (onde fica Praia), são lotadas por animais de rua. Os gatos ficam mais escondidos, mas os cachorros circulam livremente, demonstrando as necessidades e riscos a que estão sempre sujeitos, mas também revelando muita alegria.

Alguns grupos de defesa dos direitos dos animais têm atuado com força nos últimos anos. Diversos abrigos foram instalados em Cabo Verde, muitos deles com recursos da Humane Society International, da UIPA (União Internacional Protetora dos Animais) e da Peta (People for Ethical Treatment of Animals).

Voluntários residentes no país também contribuem para atenuar a situação dos cães e gatos vadios. Eles distribuem alimentos, constroem casas e realizam campanhas de vacinação, castração e vermifugação regulares, para reduzir o número de animais abandonados e garantir um mínimo de conforto para eles.

Mas nem sempre foi assim. Ainda hoje, não é incomum encontrar animais feridos em brigas e atropelamentos, com sarna, doentes e famintos, com os ossos à mostra. Até 2019, a política pública de Cabo Verde para os cães e gatos de rua era o extermínio.

Os animais eram capturados, eletrocutados ou envenenados com estricnina e os corpos eram incinerados, gerando outro problema ambiental – a contaminação do ar, do solo e da água com cinza, fuligem e material particulado.

Atualmente, está em tramitação, no Parlamento de Cabo Verde, um projeto que criminaliza os maus tratos a animais domésticos, semelhante à Lei de Crimes Ambientais brasileira. Mas ainda não há uma solução definitiva para adoção dos pets.

As fotos de Zoltan, além de mostrarem a beleza e a resiliência dos cães de rua de Cabo Verde, também servem para divulgar a situação dos animais vadios no país – uma situação que, aliás, é comum em praticamente todos os países.

As fotos

Ao desembarcar em Praia, Zoltan e Agnes foram rapidamente atraídos pela quantidade imensa de cães e gatos de rua, que são onipresentes na cidade. O fotógrafo chegou a lamentar não ter levado as lentes de close-up na bagagem, para poder retratar as muitas faces que se apresentavam.

Mais tarde, ele chegou à conclusão de que foi melhor ter apenas lentes grandes angulares para fazer as fotos. Com elas, não é necessário aproximar-se demais dos cachorros vadios e isto garantiu mais espontaneidade nas imagens registradas.

Por outro lado, o casal precisou interagir com os cachorros, estabelecendo uma conexão imediata com eles. Zoltan disse que simplesmente precisava fotografar os cachorros: mesmo em péssimas condições, eles transmitiam amizade, curiosidade e proteção.

As imagens de Zoltan, que viralizaram nas redes sociais e foram vinculadas a diversos projetos de promoção dos direitos dos cães e gatos, mostram a forma peculiar como os animais vivem em Cabo Verde.

Os peludos desenvolveram diversas técnicas de sobrevivência, aproximando-se da população local e dos turistas em busca de alimento, atenção e um pouco de carinho. Desta maneira, eles praticamente se integram à paisagem local: são atores ao mesmo tempo de um drama e de uma comédia.

Um cão de rua a menos

No final da viagem, Zoltan e Agnes resolveram adotar um dos cães com que interagiram durante a viagem. O peludo esperava o casal todas as manhãs, na entrada do hotel. Era alimentado, brincava por algumas horas e seguia a sua rotina.

Zoltan não conseguiu resistir. Inicialmente, o cachorro – que recebeu o nome de Beau – foi levado ao veterinário. Castrado, vacinado e vermifugado, o fotógrafo decidiu também introduzir um microchip de identificação, um pré-requisito para viajar com pets na Europa.

Beau foi levado para Eastbourne, onde vive atualmente com Zoltan, Agnes e Alfie – o cachorrinho que foi fotografado no primeiro encontro do casal, quando Agnes contratou Zoltan para registrar os seus pets.

Cães de rua no Brasil

O abandono de animais de estimação é uma realidade também no Brasil. O país tem uma população de 20 milhões de cães e dez milhões de gatos. Nas grandes cidades brasileiras, há um cachorro para cada cinco habitantes.

Entidades de defesa dos animais estimam que dez por cento desta população vive abandonada, perambulando pelas ruas. Eles sofrem todo tipo de privações: falta de alimento, de condições adequadas, maus tratos, etc.

Felizmente, é possível fazer alguma coisa para modificar esta situação. Quem quer viver com um pet deve considerar a possibilidade de adotar um animal abandonado: há abrigos e feiras em todo o país oferecendo peludos de todos os portes e temperamentos.

Mas quem não tem condições de receber um animal em casa também pode ajudar. É possível fornecer água e ração nas calçadas, colaborar com os abrigos e centros de resgate, visitar os peludos e até mesmo compartilhar postagens de associações protetoras nas redes sociais.

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