A briga eterna entre cães e gatos é verdadeira?

“Como cães e gatos” é uma expressão que indica relacionamentos difíceis. A briga eterna entre eles é real?

Apesar do que diz o senso comum – a briga eterna entre cães e gatos é considerada uma verdade inconteste –, as duas espécies não são inimigas, nem competem nos mesmos nichos. A domesticação gerou diversas raças caninas e algumas podem considerar os bichanos como presas, mas esta é uma exceção e não a regra.

Cães e gatos são seres gregários – vivem em grupos relativamente complexos – e, por serem inteligentes e sofisticados, podem aprender outras formas de interação e sociabilização. É isto que costuma acontecer na maioria das casas que abrigam as três espécies (humanos incluídos).

Como cães e gatos

O relacionamento entre humanos e caninos é muito antigo: a parceria já existe pelo menos desde o fim da última Era Glacial, há 14 mil anos, mas pode ser bem mais antiga. Existem evidências de que a caça compartilhada entre as duas espécies já era praticada há algumas centenas de milhares de anos. A longa convivência concedeu aos cachorros diversas vantagens competitivas.

A briga eterna entre cães e gatos é verdadeira?

Afinal, eles são testemunhas oculares da construção da civilização humana e foram beneficiados com as nossas mais diversas inovações tecnológicas. Por outro lado, os cachorros se tornaram muito mais dependentes: hoje em dia, os nossos melhores amigos não saberiam o que fazer se, de um instante para outro, se vissem de volta para a vida selvagem.

Os gatos convivem com os humanos há menos tempo. A parceria surgiu quando nós começamos a acumular grãos e estocá-los em quantidade suficiente para sobreviver até a safra seguinte. Isto ocorreu no Egito antigo (a espécie é nativa do norte da África) há pouco mais de cinco mil anos.

É provável que os gatos já exercessem um certo fascínio sobre os humanos, graças ao seu comportamento independente e inesperado, e também à sua fertilidade: as fêmeas se congregam em grupos numerosos, onde os filhotes são maioria. Não por acaso, a deusa egípcia Bastet, da fecundidade e da família, era representada com cabeça de gato.

Seja como for, os gatos mantiveram certa independência: eles permaneceram a distâncias seguras, nos silos e depósitos, pouco interagindo com os humanos. Os cachorros, ao contrário, graças à extrema versatilidade, assumiram mais e mais funções e se tornaram cada vez mais próximos aos tutores – caçadores, exploradores, guerreiros, fazendeiros, etc.

A aproximação foi tardia, já nas aldeias, cujos rejeitos eram acumulados nas proximidades e atraíam milhares de roedores. Só então os gatos passaram a viver nas mesmas casas dos humanos, mas com a manutenção da independência. Até hoje, o número de gatos semidomiciliados, que têm uma família, mas também têm livre acesso à rua, é muito superior ao de cães na mesma condição.

Naturalmente, abandonados à própria sorte, os gatos são muito mais frágeis que os cachorros, devido aos muitos riscos à saúde e à integridade. Mas os pets não são previdentes – eles não planejam o futuro e, sem saber que têm muito pouco de vida, os bichanos são mais bem-sucedidos no que diz respeito a encontrar alimento e abrigo nas ruas.

Um cachorro abandonado no fundo do quintal, sem receber comida, provavelmente morrerá de inanição em poucos dias. Um gato, ao contrário, inclusive por possuir muito mais mobilidade, consegue caçar insetos, anfíbios, passarinhos, pequenos répteis, etc.

A estratégia dos cachorros talvez tenha sido demonstrar imensa lealdade aos humanos, em troca da satisfação das necessidades básicas. Os gatos, conseguindo supri-las por conta própria, optaram por conviver com os humanos. As motivações são diferentes, mas é inegável que, em ambos os casos, cães e gatos desenvolvem sentimentos verdadeiros em relação à família humana: se os gatos são mais sedutores, os cachorros são mais apaixonantes.

As brigas

Mas, se eles não são rivais, por que brigam tanto? Cães e gatos que partilham ambientes comuns costumam realmente brigar, mas não mais do que dois animais da mesma espécie, ou um pet e uma criança pequena. No caso de tamanhos diferentes, a preocupação deve ser ainda maior, uma vez que os pequenos quase nunca se deixam intimidar pelos grandões.

A briga eterna entre cães e gatos é verdadeira?

Muitas vezes, as brigas surgem em função das expectativas dos tutores. Apesar de terem se reunido à família por último, os gatos vivem conosco (e com outros animais domésticos) há tanto tempo que parece terem vivido desde sempre. A sinergia entre humanos e cachorros é ainda mais evidente.

Mesmo assim, eles pertencem a espécies diferentes – e não escolheram dividir espaços comuns. Ao longo do processo de domesticação, nós aproximamos diversos animais ao nosso núcleo familiar pelos mais diversos motivos, que muitas vezes se confundem: não é raro observar galinhas, porcos e carneiros sendo tratados como pets, mesmo que, em algum momento mais ou menos próximo, o destino deles seja a panela.

Muitos atritos entre cães e gatos decorrem de reações diferentes e até mesmo opostas frente a algumas situações cotidianas. Um cachorro, por exemplo, abana o rabo sempre que está excitado, na maioria das vezes para brincar ou festejar. Um gato, ao contrário, balança o rabo quando está estressado ou quer demonstrar desconforto.

Os gatos se conectam aos ambientes – e aos seres ao redor – basicamente através dos cheiros. Os cachorros, apesar do faro apurado, usam principalmente a linguagem corporal e as expressões fisionômicas – um “talento natural” aprimorado na convivência humana.

Os cachorros costumam marcar o território através da urina. Mesmo que não sejam dominantes, eles reconhecem a “casa” através do cheiro do xixi. Os gatos suam muito entre os dedos e espalham odores arranhando móveis, utensílios, objetos de decoração e até mesmo as pernas dos tutores.

Os cães são mais sociáveis e a maioria adora visitas. Os gatos, ao contrário, preferem o sossego do aconchego familiar e consideram todos os visitantes como verdadeiros invasores. Não por acaso, eles costumam se esconder assim que ouvem os passos dos visitantes.

Os gatos são animais notívagos, um comportamento herdado dos ancestrais que viviam em territórios quentes e áridos: era mais fácil caçar no crepúsculo e durante a noite. Os cachorros sincronizaram o relógio biológico ao nosso, quase sempre dormindo no mesmo horário dos tutores.

As diferenças são muitas: afinal, cada espécie animal está no auge da evolução justamente por ter superado todos os desafios propostos pela natureza. Mas talvez o segredo das amizades sejam justamente essas diferenças: os opostos se atraem.

Cães e gatos não chegam a ser opostos, mas certamente podem ser complementares. O segredo é dividir a atenção, o carinho e o cuidado na medida certa. Isto não significa partilhar tudo, porque cada um tem preferências próprias.

Ao adotar dois filhotes simultaneamente, os tutores dificilmente terão dificuldades para educá-los. O cãozinho e o gatinho provavelmente agirão como irmãos de ninhada. Mas não é incomum que um animal adulto acolha um filhote e se encarregue da segurança e até mesmo do conforto do recém-chegado, desde que ele não se sinta alijado do processo e “deixado de lado”.

Existem várias histórias de cães que recolheram gatinhos na rua e os levaram para casa: a decisão sobre a adoção partiu do próprio cachorro. Ainda mais frequentes são os relatos de gatas e cachorras que amamentaram ninhadas rejeitadas ou abandonadas.

Nestes casos, os elos formados são muito fortes, mas a experiência de dois animais reunidos em um lar que proporciona alimento, abrigo, carinho e brincadeiras é sempre gratificante. Basta um pouco de cuidado e muita paciência – aliás, pré-requisitos que todo candidato a pai ou mãe de pet deve cumprir.

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