Não existe um diagnóstico oficial, mas alguns cachorros exibem sintomas de autismo.
A ciência ainda não tem elementos suficientes, mas alguns dados indicam que os cachorros também podem ter autismo, ou uma condição semelhante à síndrome que afeta parte dos seres humanos.
Os sintomas do autismo em cachorros, que ainda precisam ser estudados e sistematizados, incluem:
- comportamentos repetitivos, como perseguir a cauda ou andar em círculos;
- demonstração de angústia em situações inusitadas ou apenas fora da rotina;
- indisponibilidade para aprender coisas novas;
- introspecção – o cachorro prefere a solidão ou, pelo menos, uma distância segura de outros seres;
- persistência excessiva – cães portadores dos genes associados ao autismo tendem a repetir ações, mesmo sem obter êxito;
- ansiedade social – timidez ou agressividade excessiva nas interações com humanos e outros cães.
Diagnóstico e tratamento do autismo em cachorros
É comum que os cachorros se ressintam da presença de estranhos, seja em casa, seja durante os passeios diários. Eles podem se mostrar agressivos, amedrontados ou tímidos, sem que isso possa ser caracterizado como um comportamento anômalo.
O autismo em cachorros deve ser caracterizado pela incapacidade de interação e pelas respostas inadequadas e desproporcionais. Os sintomas nem sempre são claros: um cachorro pode revelar-se autista apenas em função do medo da claridade, por exemplo.
Quando os sinais se tornam mais patentes, é importante levar o cachorro para uma avaliação veterinária. O profissional fará os exames clínicos, testes comportamentais, conhecerá o histórico e o temperamento do pet e poderá firmar um diagnóstico, com o devido tratamento.
Os tutores precisam fornecer o máximo de detalhes sobre o comportamento anômalo dos cachorros. No médio prazo, o autismo pode favorecer alguns transtornos emocionais, como a ansiedade e a depressão.
O diagnóstico consiste em dois critérios que caracterizam o autismo: os desafios enfrentados na comunicação e a exibição de comportamentos repetitivos, com a consequente restrição do repertório de gestos e atitudes.
Para firmar o diagnóstico, o veterinário precisa identificar sintomas persistentes de dificuldade de interação, presença de comportamentos repetitivos e compulsivos e alguns problemas sensoriais, como a reação a estímulos como a luzes, sons e toques.
Para caracterizar o autismo, no entanto, não basta que estes sinais estejam presentes. É necessário que eles interfiram na vida diária dos cachorros. É o caso, por exemplo, de um animal que lamba as patas obsessivamente, evite a interação com a família e também fuja de alguns estímulos sonoros ou visuais.
O tratamento consiste em criar estratégias para redirecionar as condutas inadequadas. Se o cachorro, por exemplo, tende a morder a cauda (e passa muito tempo nessa atividade, a ponto de automutilar-se), o veterinário poderá sugerir treinos de habilidades para desviar a atenção.
Nos casos mais graves, pode ser recomendado que o cachorro autista não transite em locais muito movimentados, como praças e avenidas, e tenha um esconderijo em casa, quando os tutores receberem visitas.
O autismo é uma síndrome determinada geneticamente. Isto significa que ele é transmitido pelos pais, mesmo que estes não tenham nenhum comportamento antissocial. Sendo definido pelo DNA, ele não é passível de cura.
Desta forma, o tratamento consiste em evitar as situações que despertem o medo, a raiva ou a agressividade. É um desafio para os tutores, mas certamente é um obstáculo ainda maior para os cachorros.
Cachorros autistas certamente não serão os animais mais populares do bairro e talvez nem se mostrem os melhores companheiros de brincadeiras, especialmente nos ambientes por eles identificados como perigosos. Mesmo assim, eles continuam sendo os melhores amigos dos humanos.
Respostas da ciência
Estudos sobre a possibilidade da ocorrência de autismo em cães vêm sendo realizados desde a década de 1960. As primeiras pesquisas analisavam apenas as reações e manifestações caninas, mas, com o avanço dos conhecimentos sobre o autismo em humanos, novas pesquisas têm lançado luz sobre o assunto.
Na década de 1990, com o mapeamento das sequências de DNA, foi possível constatar que o transtorno do espectro autista é vinculado a alterações nas informações genéticas herdadas dos pais pelos filhos.
Mais que isso, foi possível detectar que uma série de condições anteriormente atribuídas apenas à espécie humana era comum, pelo menos, a diversas espécies de mamíferos. O autismo parece ser uma dessas condições genéticas.
Um estudo sueco
Ainda não há estudos definitivos sobre o tema, mas uma avaliação realizada por pesquisadores da Universidade de Linköping (cidade no sul da Suécia, a 200 km da capital Estocolmo) levantou suspeitas de que os cães também apresentam sintomas do transtorno do espectro autista.
Os cientistas suecos investigavam as modificações genéticas nos cachorros depois de milhares de anos de convivência com os humanos, quando identificaram alguns genes ligados à comunicação presentes tanto no DNA humano quanto no canino.
O líder do experimento, Per Jensen, professor de Etologia (comportamento animal) da universidade, afirma que os genes identificados nos cães parecem ser os responsáveis, nos humanos, pelo transtorno do espectro autista.
Os testes comportamentais realizados com cachorros corroboraram a tese. Existe uma grande possibilidade de os cachorros exibirem um distúrbio bastante semelhante ao autismo, transtorno que afeta a capacidade de sociabilização.
O estudo comportamental consistiu em apresentar caixas tampadas para um grupo de cães e instruí-los a abri-las. Na segunda etapa, as tampas eram pregadas às caixas, o que tornava a tarefa impossível.
A resposta natural dos cães seria pedir ajuda dos tutores (ou de outros humanos presentes nos testes): eles fazem isso o tempo todo, latindo ou tentando estabelecer contato visual. Mas alguns “voluntários” do estudo insistiram em completar a tarefa sozinhos, sem pedir ajuda.
Análises do DNA dos animais testados apontaram alterações nas sequências genéticas associadas ao autismo em humanos.
A persistência excessiva dos cachorros em abrir as caixas, característica quase sempre identificada como teimosia no dia a dia, também indica a dificuldade de interação, mesmo quando esta é a maneira de obter o que se deseja.
O autismo
Trata-se de uma condição genética tecnicamente conhecida como transtorno do espectro autista, porque a síndrome se manifesta de maneiras diferentes, afetando a comunicação, sociabilização e comportamento.
Em humanos, o autismo pode se tornar patente a partir dos dois anos de idade e determina algumas características nas crianças, tais como dificuldade na fala (e em outras formas de expressão dos pensamentos e sentimentos).
Nos cachorros, o autismo reduz a capacidade de contato visual – os animais afetados evitam encarar os tutores (e especialmente os estranhos). Além disso, os cães parecem sentir desconforto em relação a outras pessoas e animais, apresentando tendência mais ou menos pronunciada ao isolamento.