A castração não prejudica em nada a saúde dos cães. Como toda cirurgia, existem riscos associados, mas trata-se de um procedimento minimamente invasivo e francamente favorável. Podem ocorrer mudanças de comportamento, especialmente entre os machos, que deixam de responder aos estímulos dos feromônios exalados pelas fêmeas durante o cio.
A personalidade e o temperamento dos cães tendem a se tornar um pouco mais dóceis e o nível de atividade física pode decrescer; por isso, os tutores precisam organizar um novo programa de exercícios, para manter o equilíbrio orgânico e evitar problemas como sobrepeso e obesidade, por exemplo.
O pós-operatório da castração é um pouco mais delicado para as fêmeas, mas é bastante simples: os cães retomam a vigília em poucas horas e as pequenas incisões cicatrizam em alguns dias, permitindo que os peludos retomem as atividades normais. Os tutores precisam apenas manter os cortes higienizados e a maioria dos pets tem de usar um colar elisabetano, para evitar lambidas e mordidas.
Uma possível contraindicação para o procedimento: alguns cães idosos, a partir dos seis ou sete anos, podem não ter condições de enfrentar a anestesia geral – isto depende da avaliação veterinária, que deve ser realizada em todos os casos. De qualquer maneira, o ideal é realizar a castração nas primeiras semanas ou meses de vida.
O procedimento de castração
A cirurgia de castração é um procedimento médico corriqueiro, mas requer a atuação de anestesistas, cirurgiões e enfermeiros veterinários. Ela pode ser realizada em hospitais e clínicas equipadas com o instrumental necessário. Alguns hospitais-escola e clínicas credenciadas (geralmente por prefeituras) realizam alguns mutirões gratuitos ou a preços populares.
Nas fêmeas, o procedimento consiste em uma histerectomia radical, com a retirada do útero e dos ovários. Nos machos, na retirada dos testículos. Existem outros métodos cirúrgicos, como a vasectomia para os machos, mas, neste caso, os peludos conseguem manter a vida sexual, apesar de não gerarem filhotes.
A cirurgia é menos complexa para os machos, mas é realizada em poucos minutos para todos os cães. O despertar da anestesia geral ocorre entre seis e 12 horas, de acordo com o metabolismo de cada animal. O colar elisabetano é necessário por cerca de uma semana, para evitar que os pets puxem e arranquem os pontos do procedimento.
Em alguns casos, é necessário ministrar analgésicos e anti-inflamatórios, mas, em geral, os cães operados se recuperam rapidamente, sem exibir sinais de dor e incômodo. Exercícios leves já podem ser feitos em apenas uma semana, na maioria dos peludos.
Vantagens e desvantagens da castração canina
O principal benefício para os cães ocorre em longo prazo: a castração reduz sensivelmente o risco de desenvolvimento de tumores nos genitais e demais órgãos reprodutores. Nas fêmeas operadas, os riscos de endometriose e piometra caem praticamente a zero.
Alguns estudos indicam – e muitos tutores concordam – que a castração torna os cães menos agressivos e possessivos. Há indícios de que eles também podem se tornar menos ativos, mas ainda não há conclusões definitivas sobre o assunto.
Relacionamos a seguir os principais benefícios e vantagens da castração, tanto para os machos quanto para as fêmeas:
- prevenção de doenças – como já foi dito, a castração reduz drasticamente o número de casos de câncer genital. Entre as fêmeas, a cirurgia também elimina os riscos de tumores nas mamas.
Vale lembrar que a endometriose afeta virtualmente todas as fêmeas intactas, especialmente as que não geram ninhadas, sendo igualmente fatores importantes para o desenvolvimento de infecções e inflamações incapacitantes e muitas vezes fatais;
- prevenção de fugas – quando as cadelas entram no cio (período em que ficam receptivas ao acasalamento), elas podem escapar de casa para encontrar parceiros sexuais.
Os machos, atraídos pelos feromônios (substâncias exaladas pelas fêmeas para indicar a receptividade, que podem ser identificadas a quilômetros de distância), também podem percorrer muitos quarteirões em busca da parceira. A maioria fica desorientada e não consegue encontrar o caminho de volta para casa;
- prevenção de agressões, brigas e acidentes – quando dois machos ou mais disputam uma fêmea, eles se tornam agressivos e violentos – as brigas são comuns e bastante frequentes. Além dos possíveis ferimentos nos peludos, eles também podem investir contra os transeuntes que encontrarem pelo caminho.
Além disso, sem a supervisão de humanos, machos e fêmeas ficam expostos a uma série de acidentes graves e até mesmo fatais: quedas e atropelamentos são os eventos mais comuns, mas eles também podem indiretamente causar colisões de automóveis, quedas de transeuntes que tentem escapar das brigas, etc.;
- prevenção de doenças infectocontagiosas – nas ruas, os animais estão expostos a diversas doenças que podem ser fatais. A raiva está controlada, mas os cães podem contrair leptospirose, cinomose, sarna sarcóptica e otodécica, por exemplo.
Os animais que se perdem ao procurar parceiros sexuais pelas ruas também estão sujeitos às más condições. Eles passam fome, frio, riscos de acidentes e agressões, etc. a expectativa média de vida de um cachorro é de dois ou três anos, entre os animais que fugiram de casa ou foram abandonados já adultos.
- prevenção de ninhadas indesejadas – sem a castração, a maioria das cadelas está apta, a partir do segundo ano de vida, a gerar ninhadas que podem ser numerosas – em média, uma cachorra dá à luz quatro filhotes a cada gestação (e elas podem engravidar e parir duas vezes por ano). A imensa maioria vive nas ruas ou, na melhor das hipóteses, é recolhida a abrigos.
O Brasil possui uma população estimada de 52,2 milhões de cães e gatos. Destes, 40% são abandonados ou semidomiciliados (estes últimos têm um lar de referência, mas livre acesso às ruas).
De acordo com um estudo da Organização Mundial de Saúde, uma cadela nas ruas e seus descendentes podem gerar, em três anos (a expectativa média dos cachorros abandonados), até 1.400 animais. É uma progressão geométrica.
Mais vantagens da castração em cães
Existem benefícios mais amenos, mas nem por isso menos importantes. As cadelas castradas deixam de sangrar durante o ciclo estral e os tutores não ficam sujeitos a sinfonias inacabáveis de uivos e latidos, vocalizações empregadas para atrair os machos.
Os meninos, por seu lado, deixam de responder aos atrativos sexuais: eles não são sensibilizados pelos feromônios exalados pelas cadelas. O risco de fugas e acidentes diminui consideravelmente e todos os cães se tornam mais tranquilos e saudáveis.
Outra vantagem é que os machos (e algumas fêmeas) deixam de usar a urina para demarcar o território. Muitos cães usam a urina para delimitar a sua área de influência. Mesmo durante os passeios, as paradas passam a ocorrer apenas para esvaziar a bexiga, não mais para sobrepor as marcações de um macho desconhecido.
Os riscos da castração
A castração é um procedimento cirúrgico e, como tal, envolve os pacientes em alguns riscos relacionados à anestesia, à operação em si e ao período de convalescença. Ao decidir-se pela esterilização, os tutores devem seguir as orientações do veterinário e verificar as condições da clínica em que o procedimento será realizado.
Nenhuma cirurgia é um passeio no parque, mas o pós-operatório é especialmente complexo para os cachorros. Ao voltarem da anestesia, eles percebem que estão muito sonolentos, mas não conseguem entender os motivos. Da mesma forma, o desconforto dos pontos é difícil principalmente para os cães mais ativos.
Existe outra desvantagem que deve ser muito bem avaliada: as alterações hormonais. Na castração, são removidos os testículos (machos) e ovários (fêmeas), órgãos responsáveis pelos hormônios sexuais que também interferem no temperamento dos animais, que produzem muito menos testosterona e estrogênio.
Muitos cães castrados sofrem interferências metabólicas: cai o metabolismo basal, cuja taxa determina a demanda calórica diária. O organismo passa a exigir menor quantidade de alimentos; se for mantida a dieta de antes da cirurgia, os peludos terão ganho de peso. São necessários alguns ajustes nas refeições.
Os tutores que queiram retardar o acasalamento podem optar por anticoncepcionais injetáveis e orais. A maior parte desses medicamentos é receitada para as cadelas e não altera o comportamento dos machos. De qualquer maneira, os anticoncepcionais também provocam alterações hormonais e não podem ser usados no longo prazo.
Para quem não pretende ter uma criação de cães, o ideal é optar pela castração. Ao contrário do que ocorre entre os humanos, o relacionamento sexual para os cães é estritamente uma necessidade fisiológica e, desde que ela não aflore, não há motivos para satisfazê-la. Em outras palavras, os cachorros não sentem falta de sexo.