Os cachorros gostam de abraços?

Na verdade, muitos cachorros não gostam de abraços. Entenda os motivos e o que isto significa.

Nós, humanos, consideramos os abraços como manifestações de carinho e amizade. Especialmente, entre os brasileiros, estes gestos são sinais de afeto distribuídos com muita generosidade. A maioria dos cachorros, no entanto, não encara estas manifestações de forma positiva. Apesar dos milênios de parceria, as nossas linguagens corporais ainda mantêm algumas diferenças.

Por outro lado, os cachorros gostam muito de agradar os tutores e, com o tempo, podem se acostumar com os abraços, mesmo que eles se sintam desconfortáveis. Com pessoas estranhas, no entanto, a situação é muito diferente.

Nem sempre replicar comportamentos gera bons resultados. Alguns cachorros realmente não toleram ser abraçados e podem reagir usando sons e gestos próprios: rosnados e posições de ataque para alguns, ganido e tentativas de fuga para outros, de acordo com a personalidade. Mas, conhecendo as características dos peludos, os tutores conseguem facilmente atingir um “ponto de equilíbrio”.

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Os motivos

Os cachorros, em maioria, não conseguem compreender o significado de um abraço, especialmente quando ele é forte e apertado. Nesses momentos, a mente canina deve se perguntar: “o que diabos esse cara está fazendo?”. É importante considerar que é mais fácil interpretar o gesto de dois braços se aproximando como uma agressão, não um agrado.

Stanley Coren, psicólogo americano especializado em comportamento animal, mundialmente famoso pelo livro “A Inteligência dos Cães”, fez uma análise com 250 duplas de cães e seus tutores. Ele analisou fotos dos amigos abraçados e, enquanto todos os humanos estavam sorridentes e satisfeitos, 81% dos peludos exibiam sinais de estresse na linguagem corporal.

Para os cachorros, um abraço significa limitação de movimentos, uma técnica de imobilização das vítimas. Vale lembrar que os cães são exímios caçadores e sabem muito bem como neutralizar as presas antes do golpe final, para facilitar a tarefa.

Especialmente entre os filhotes e os animais de pequeno porte, mas também entre os mais tímidos, ansiosos e os que revelam características evidentes de subordinação, o abraço, na maioria dos casos, equivale à aproximação final, minutos antes do “golpe de misericórdia”: não é apenas uma situação desagradável, é a deixa para a fuga.

Não é difícil aquilatar a situação. O cachorro está dormindo ou brincando, chega uma pessoa e, de repente, abre os braços, agarra-o firmemente e, em muitos casos, levanta-o pelos ares, a alturas vertiginosas. Para um chihuahua ou um pinscher miniatura, o rosto de uma pessoa de 1,80 metro está muito, muito longe do chão – e de uma altitude segura para quem não sabe voar.

O ponto de vista dos peludos

O abraço não faz parte do repertório canino. Observando-os, é possível perceber que o gesto entre cachorros só ocorre em duas situações: nas lutas e nas simulações de luta, que nada mais são que uma forma de aprendizado para os embates reais que enfrentarão em algum momento da vida.

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Na verdade, um abraço é essencialmente uma forma de apreensão e imobilização. Ele ocorre de maneira amistosa apenas entre animais bípedes, como nós, os chimpanzés e os lêmures, porque a atitude não impede o caminhar nem a atenção ao que acontece ao redor.

Para um cachorro, abraçar equivale a prender. Se não conseguem se soltar nem fugir de uma situação de emergência, em que a melhor estratégia quase sempre está envolvida com violência. Além disso, um abraço quase sempre é acompanhado por um “olho no olho” e, como o cão está incomodado, as encaradas possuem significados de advertência e castigo.

É falta de amor?

Mesmo com motivos tão fortes para manter uma distância segura de braços tão poderosos, muitos tutores ficam frustrados com as reações dos peludos. Alguns chegam a considerar que o peludo não está feliz com a parceria: em outras palavras, o filho de quatro patas não corresponde aos sentimentos de amor.

Nada disso é verdade. São poucos os cachorros que deixam de festejar com entusiasmo o retorno dos humanos da família para casa, por exemplo. A maioria também faz questão de fornecer efusivos cumprimentos ao despertar ou a voltar do passeio diário.

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Mesmo os cães mais independentes, considerados persistentes e teimosos, demonstram animação e alegria com o regresso da família: são sinais inequívocos de que eles sentiram falta e estão muito satisfeitos com a reunião. Eles não param de se movimentar e alguns oferecem lambeijos ensopados, enquanto parecem querer contar tudo que fizeram durante a ausência.

Cada casa tem regras próprias e, a menos que elas coloquem em risco a segurança, a integridade e o bem-estar de todos, não há nada de errado com elas. A maioria dos tutores hoje em dia, no entanto, adota os cachorros para companhia, mesmo que eles também exerçam outras funções.

Por isso, os cachorros sabem demonstrar a cumplicidade e proximidade também dividindo a cama, o sofá ou apenas descansando a cabeça no joelho dos tutores. Para eles, é uma satisfação imensa apenas ficar ao lado (ou no colo) dos tutores, sem fazer nada.

Os mais ativos e curiosos quase sempre encaram os tutores como os melhores parceiros para as brincadeiras e nunca abrem mão de buscar a bolinha, disputar um cabo-de-guerra ou fazer muita bagunça em qualquer lugar, mesmo que fujam ou reajam negativamente às tentativas de abraços.

A linguagem corporal

Quando os abraços e qualquer outra iniciativa não são bem-vindas para os cachorros, eles reagem quase instantaneamente, porque ainda não aprenderam nenhuma regra de diplomacia ou cortesia. E, como também não aprenderam uma linguagem articulada, eles demonstram o mal-estar através da linguagem corporal.

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No caso dos abraços, os cachorros que não gostam exibem os mesmos comportamentos empregados para demonstrar insatisfação. Em geral, eles revelam o desagrado:

  • evitando o contato visual: para evitar o abraço ou outro toque qualquer, os cachorros desviam o olhar e não encaram os tutores. Em casos extremos, eles podem se esconder, para não partilhar o mesmo espaço visual;
  • enrijecendo o corpo – ao perceber o toque desagradável, os cães tensionam os músculos, especialmente dos braços, pescoço e parte anterior do dorso. Este é um sinal de desconforto extremo, que pode ser acompanhado pelo rabo entre as pernas e as orelhas baixas, voltadas para trás. Tudo isso indica níveis elevados de estresse;
  • bocejando – em que pese o fato de os cachorros poderem bocejar para imitar os tutores (nesses casos, parece ser um mecanismo de empatia), os bocejos fora de hora indicam que eles não estão gostando nem um pouco da interação.

O que fazer?

A resposta mais simples é apenas respeitar as características dos cachorros. Eles demonstram amizade, solidariedade, lealdade e companheirismo sem necessidade de abraços. Mas, para os tutores que fazem questão, é possível estabelecer uma aproximação gradual:

  1. aproveite os momentos de exercícios. Durante as pausas, sente-se ao lado do cachorro, converse e repouse a mão (somente uma) levemente sobre a nuca e a cernelha. Esta é uma espécie de “meio abraço”;
  2. em qualquer contato físico, use palavras de incentivo e encorajamento. Os cachorros não conseguem entender o significado da maioria dos termos, mas compreendem muito bem a entonação que está sendo usada. Com o tempo, eles associarão as palavras carinhosas com o abraço;
  3. à medida que o aprendizado avança, experimente envolver o cachorro com os dois braços, sempre respeitando os limites do peludo. Se surgirem sinais de desconforto, interrompa o gesto;
  4. esteja sempre atento à linguagem corporal adotada pelo cachorro. Sinais de ansiedade ou agressividade são indicativos de que o peludo está se aproximando perigosamente dos seus limites.

Lembre-se: nem todos os comportamentos e gestos podem ser reproduzidos pelos cachorros, de forma espontânea ou através do adestramento. Abraços são naturais para nós, assim como cheirar o traseiro é natural entre os cães, mas a imensa maioria dos humanos não se dispõe ao gesto, por mais que esta seja uma forma sofisticada de obter informações.

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