Os cães e gatos pretos são os menos adotados nas feiras e abrigos. Entenda por quê.
Em pleno século 21, ainda há pessoas que cultivam preconceitos em função da cor. Mesmo com todos os dados científicos que comprovam não haver diferenças entre seres da mesma espécie que exibem cores e tamanhos diferentes, ainda é difícil encontrar candidatos à adoção de cães e gatos pretos.
No momento da adoção, os animais sem raça definida (SRD) são sempre preteridos em relação aos cachorros de raça, apesar de serem mais longevos e resistentes a doenças. E, entre os vira-latas, abrigos e associações protetoras têm dificuldade ainda maior para encontrar um lar para os pretinhos.
Existe uma percepção falsa de que os cães e gatos de rua, privados por períodos mais ou menos longos de atenção e afeto, seriam mais independentes e apresentariam capacidade menor de adaptação em um lar adotivo.
Mas não existe nenhum dado concreto que corrobore esta visão. Mesmo lobos solitários, que se afastam das alcateias e vagam sozinhos pelas matas, integram-se com facilidade a um novo grupo selvagem.
Os motivos do preconceito
O principal motivo que impede a adoção dos animais pretos – especialmente gatos – está relacionado à superstição. Na Idade Média europeia, os bichos de pelagem negra foram associados às bruxas.
Naqueles tempos sombrios, eram classificadas como bruxas todas as mulheres que não professavam a religião dominante ou, mesmo convertidas, mantinham tradições ancestrais, como usar ervas para tratar doenças e dores sem o consentimento da Igreja.
Os tempos passaram, as tradições mudaram, mas o preconceito contra cães e gatos pretos continuou. Existe uma crença vaga, sem motivo definido (e, certamente, sem nenhuma base lógica e coerente), de que eles dão azar.
A American Society for the Prevention of Cruelty to Animals (ASPCA), entidade sediada em Nova York (EUA), aponta outra razão para a recusa em dar um lar para cães e gatos pretos: a síndrome do grande cachorro preto.
Trata-se de apenas um mito: cachorros pretos de grande porte seriam mais agressivos e aterrorizantes do que os demais. Um estudo realizado em 2003 pela Penn State (Universidade Estadual da Pensilvânia, EUA) entrevistou algumas dezenas de voluntários, que classificaram um grupo heterogêneos de animais para adoção.
Estes voluntários afirmaram espontaneamente ou provocados que os cachorros grandes e escuros são menos amigáveis, desagradáveis de olhar, traiçoeiros, intimidadores e doentios. Efetivamente, nos EUA, “grande cão negro” é um eufemismo para a depressão.
Projetos de resgate
Nos últimos anos, dois fotógrafos decidiram mudar esta situação – ou, pelo menos, fazer alguma coisa para valorizar os cães e gatos pretos e aumentar as chances de adoção. Vale lembrar que, nos centros de zoonoses, os animais que não são adotados depois de um período predeterminado são sacrificados.
Em 2019, Fred Levy, de Nova York, estudou fotos de cachorros e gatos para adoção em canis virtuais e descobriu: nas imagens, os animais pretos apresentam faces menos expressivas e olhos apagados.
O fotógrafo explica: “em geral, tudo o que se consegue enxergar é uma silhueta preta e grandes dentes brancos, que reforçam a ideia da ameaça”. A solução foi simples. O profissional passou a usar filtros e escolher fundos diferentes, para destacar os pets. A adoção vem aumentando sensivelmente.
Em 2020, foi a vez de a fotógrafa sul-africana Emma O’Brien engajar-se na causa da adoção dos animais. A profissional investiu na mudança da iluminação das imagens para realçar a fisionomia dos pets. O resultado são fotos bastante atraentes, que aumentam o desejo dos interessados em adotar.