O novo membro da família requer cuidados e adestrar é um deles. Saiba educar um cachorro filhote.
O filhote chegou! O novo cachorro está pronto para fazer a alegria de toda a família, do bebê ao vovô. Eles chegam curiosos, aventureiros, um pouco desengonçados e muito bagunceiros. Mas é preciso adestrar o pet, pelo menos para reduzir o impacto na casa
Poças de xixi quase passam a fazer parte da decoração. Os cachorros filhotes trocam de dentes entre o quarto e o sétimo meses de vida. A nova dentição incomoda, causa um pouco de dor e exige algum alívio: roer pés de móveis, chinelos, roupas caídas (ou “sequestradas”) do varal, qualquer coisa que amenize o desconforto.
Mas, calma! Não é o fim do mundo – embora pareça. Com algumas dicas simples, é possível adestrar um cachorro filhote em pouco tempo, para que ele aprenda as regras da casa e alguns comandos básicos fundamentais para o relacionamento.
O começo
Em primeiro lugar, é preciso providenciar para que todas as necessidades básicas do cachorro filhote sejam satisfeitas de maneira adequada. Os cãezinhos precisam de alimentação, vacinas, vermífugos, um cantinho para descansar, brinquedos e passeios diários.
Qualquer deficiência no tratamento é capaz de gerar maus hábitos. Um cachorro filhote mal alimentado pode decidir roubar comida; sem atividades diárias, ele fica entediado e tende a ser destrutivo, agressivo, malcriado.
Portanto, sempre que possível, antes de receber um cãozinho em casa, é preciso localizar uma pet shop responsável, pesquisar uma clínica veterinária perto de casa, adquirir ração, potes para água e comida, medicamentos, brinquedos, coleiras, uma caminha.
Com o enxoval do cachorro pronto e com as orientações do veterinário (calendário de vacinação e vermifugação, quantidade de comida a ser oferecida, intensidade e frequência dos exercícios físicos, etc.), o próximo passo é receber o filhote, dar carinho, atenção e adestrá-lo de acordo com as normas da família. Lembre-se: vacinas, antiparasitas e vermífugos precisam ser renovados periodicamente.
É importante identificar as tendências dos cachorros. Eles podem ser intensos, rápidos, ágeis, cheios de energia, ou pacatos, de fôlego curto, com pouca resistência aos exercícios físicos muito demorados.
Os cachorros também podem se revelar extremamente sociáveis, brincando e fazendo festa até mesmo com estranhos, ou tímidos e desconfiados, abertos apenas a poucas pessoas do círculo familiar. Isto faz parte do temperamento e não pode ser mudado.
A educação
Os tutores dificilmente conseguem resistir às caras e bocas de um cachorro filhote. Eles são fofinhos, carentes, sempre pedindo colo, atenção e carinho. Tudo isso é importante, mas não se deve negligenciar a educação dos pets.
Cachorros conseguem aprender em qualquer idade, mas a tarefa é um pouco mais fácil quando eles são filhotes (antes de completar 18 meses de vida), porque ainda não desenvolveram condutas que podem ser consideradas inadequadas, como latir demais ou ter hábitos territorialistas exagerados.
Dois pontos importantes devem ser observados no momento da adoção:
• um cachorro precisa ter o mesmo pique (ou menor) do que o apresentado pelo principal responsável pelo adestramento, passeios e brincadeiras. Se você quer adotar um pet de raça, confira antes as características gerais.
Um tutor tranquilo e pacato pode não se dar bem com um husky siberiano ou um whippet, cheios de energia para brincadeiras, caminhadas longas e correrias. Se você é do tipo atlético, que está sempre se exercitando, provavelmente um buldogue inglês ou francês não será um parceiro adequado;
• cachorros precisam de regularidade. Eles só conseguem aprender se as “regras do jogo” forem as mesmas todos os dias. Se, por exemplo, os pets se acostumarem a brincar todos os dias no retorno dos tutores para casa, certamente eles se ressentirão naquele dia em que a família humana está cansada e não quer saber de atividades muito intensas. Simplesmente, eles não entenderão o que está acontecendo.
Levar um pet para casa é um compromisso de longo prazo. Os cachorros vivem de dez a 15 anos e dependem quase totalmente dos tutores. É preciso refletir muito bem com toda a família antes de decidir pela adoção, porque cachorros, filhotes ou não, dão um bocado de trabalho.
Dicas básicas de adestramento de filhotes
O melhor método de adestramento consiste em estímulo e recompensa. Os filhotes devem ter as condutas inadequadas identificadas prontamente. O tutor precisa falar com firmeza e não ceder aos apelos do “cãozinho carente” (todos eles são mestres na arte da encenação).
Se você quer que ele faça xixi em um local específico (um canto do quintal, a área de serviço do apartamento, etc.), leve-o até o “banheiro” um pouco depois das refeições. Mostre o forro do piso, converse e fique com ele até que ele faça as necessidades.
Em seguida, ofereça um prêmio, que pode ser um petisco (como “bifinhos” para cães, facilmente encontrados em pet shops). Insista várias vezes, para que o filhote relacione o “fazer xixi no lugar certo” com a recompensa e as palavras de incentivo. Em menos de duas semanas, ele entenderá o que precisa ser feito e deixará de fazer as necessidades em qualquer lugar da casa.
O maus tratos físicos são totalmente contraindicados. Basta pensar um pouco: você aprenderia alguma coisa útil levando tapas ou tendo o nariz esfregado no chão? Pois é, os cachorros também não conseguem aprender desta forma.
De uma forma de outra, alguns cachorros “aprendem” assim. Mas, na verdade, eles apenas descobrem que fazer xixi é errado e prendem a urina o máximo possível. Urina e fezes denunciam a presença e, na natureza, podem atrair predadores; por isso, os animais mais velhos tendem a escondê-las.
Use sempre o estímulo positivo. As recompensas físicas (os petiscos), depois que o pet introjetar a conduta que está sendo ensinada, podem ser dispensadas em poucos dias, mas os filhotes fixarão melhor o aprendizado se as palavras de incentivo e os afagos permanecerem por duas ou três semanas.
No adestramento, não grite com o seu cachorro. Os filhotes podem se assustar nas primeiras vezes em que os tutores se descontrolarem, mas continuarão sem compreender o que se espera deles. Se os gritos se tornarem cotidianos, os pets simplesmente entenderão que fazem parte da rotina: não são positivos nem negativos, apenas “acontecem”.
Ao educar um cachorro filhote, coloque-se à frente dele faça-o olhar para o seu rosto. Converse com o pet. É quase certo que ele não entenderá as palavras, mas assimilará o tom de voz e a linguagem corporal firme e séria do tutor. Em pouco tempo, ele atenderá aos comandos.
Ainda o xixi
Escolha um lugar específico para o cachorro filhote fazer as necessidades. O local precisa ficar distante da caminha, dos brinquedos e do “refeitório”, onde geralmente ficam o comedouro e o bebedouro.
Crie uma rotina. Depois das refeições, leve o cãozinho para o local determinado e fique com ele até que a bexiga e o intestino decidam trabalhar. Aproveite o tempo para conversar e acariciar: os elos fortes entre pet e tutor são fundamentais na educação. Seja paciente.
Depois que ele fizer xixi e cocô, recompense-o e ofereça um petisco. Tudo isso deve ser acompanhado por gestos de incentivo e agrado, porque os cachorros entendem melhor estas formas de comunicação.
Veja também: Xixi no lugar certo: Como ensinar o cachorro
Existem tapetes higiênicos com aromas que atraem os pets. Eles podem ser encontrados em pet shops e facilitam o adestramento. Os filhotes serão naturalmente atraídos para o “banheiro”, mas isto não dispensa as ações dos tutores.
A ansiedade
Os cachorros são animais gregários. Na natureza, eles vivem em bandos estruturados e hierarquizados. Eles permanecem praticamente o tempo inteiro na companhia de outros membros do grupo.
Em casa, quase nunca é possível fazer companhia para os nossos pets. As tarefas diárias nos obrigam a passar o dia fora, estudando e trabalhando. Mas os cachorros não fazem ideia do que sejam “atividades diárias”. Para eles, cada saída do tutor é um abandono.
Felizmente, eles são rápidos no aprendizado. Quando eles forem ficar sozinhos por algumas horas, providencie atividades para que eles possam se entreter:
• brinquedos (varie os objetos a cada semana, para que sempre tenham sabor de novidade);
• comida e água;
• uma peça de roupa do tutor, para que eles se lembrem, durante a ausência, do carinho;
• TVs programadas para ligar no horário dos programas “prediletos”. Os cachorros não entendem o que acontece em uma tela, mas podem se interessar pelas cores e o movimento. Alguns minutos são suficientes;
• gravações de áudio com sons agradáveis (a voz do tutor, por exemplo) ou apavorantes (um trovão ou o ruído do escapamento de uma moto) ocupam o tempo dos pets. A voz do tutor é tranquilizante e os sons que causam medo servem para dessensibilizar (devem ser reproduzidos em volume baixo);
• a caminha. Mesmo que o seu pet durma na sua cama ou no tapete ao lado, é importante providenciar uma cama que ele identifique como “espaço próprio”. Este é o local que ele procurará não apenas para as sonecas curtas durante o dia, mas também quando se sentir desconfortável ou triste.
Mesmo com todas estas providências alguns cachorros, especialmente quando filhotes, ficam ansiosos com a ausência dos tutores. O retorno é encarado por eles como um reencontro muito esperado – e deve ser comemorado com festa.
Mas, para os cachorros muito ansiosos, o ideal é que o tutor, ao voltar para casa, ignore um pouco os apelos do pet. Tire os sapatos, troque de roupas, tome um banho, guarde as compras na cozinha. E só depois dê atenção ao filhote.
Em pouco tempo, ele começará a entender que os tutores saem e voltam. As ausências não são motivo de preocupação e os retornos não são dignos de uma celebração inesquecível. Tudo faz parte da rotina.
Esta forma de aprendizado também é útil para os pets que saltam sobre os tutores – e algumas vezes também sobre estranhos, sejam visitantes, sejam prestadores de serviços. Ignorar o comportamento é a melhor maneira de fazer o cachorro entender que não vai receber nada de bom se insistir. Mas é preciso muita persistência.
Os comandos simples
Todo cachorro é capaz de entender algumas palavras (alguns desenvolvem um vocabulário com mais de mil expressões, mas é um fato raro). Desde que chegam à casa, eles devem aprender o significado de “sim”, “não”, “fica”, “para”, etc.
Não é necessário usar estas expressões. Tutor e pet podem desenvolver um vocabulário próprio. Os comandos simples são importantes em todos os momentos. Nas brincadeiras, por exemplo, um sonoro “não” pode identificar que o pet deve entregar a bolinha, sentar-se e esperar a nova ordem, não saltar sobre a tigela enquanto a ração está sendo colocada, etc.
Estas podem ser condutas corriqueiras para nós, mas os cachorros filhotes estão em treinamento. Eles também estão descobrindo o mundo ao seu redor e precisam processar um grande volume de informações.
Os comandos básicos são úteis para a rotina doméstica, para os passeios e brincadeiras, para atenuar temperamentos hostis, agressivos ou territorialistas, etc. Os cães entendem rapidamente o que se espera deles e, para a nossa felicidade, eles querem nos agradar e se submetem facilmente às regras.
Os passeios
Os cachorros filhotes só podem começar a caminhar pelas ruas depois de receberem todas as doses de vacinas e vermífugos. Os tutores precisam respeitar os prazos para que o sistema imunológico dos pets desenvolva os anticorpos necessários.
Enquanto eles não podem sair de casa, pode-se aproveitar o tempo para ensiná-los a usar a coleira. Vista o acessório e deixe o pet ficar com ele durante alguns momentos, sempre em situações positivas (brincadeiras, oferta de alimento, etc.).
Muitos tutores cometem o erro de associar a coleira a um castigo. Efetivamente, usar uma coleira é algo incômodo, que aperta o corpo e tolhe os movimentos. Se o uso for identificado com castigo, será muito difícil “fazer o cachorro mudar de ideia”. Associe sempre a coleira a momentos prazerosos.
A coleira é o aparelho de contenção e repressão; a guia determina o raio de mobilidade do pet (alguns modelos permitem ajustar distâncias, tornando possível aumentar a autonomia em alguns metros nos parques, por exemplo).
Se o seu cachorro mostra sinais de agressividade com estranhos, considere a possibilidade de usar uma focinheira, para prevenir acidentes. Escolha um modelo que não impeça a movimentação da mandíbula: cachorros suam principalmente pela boca e, com a boca fechada, não conseguem regular a temperatura corporal com eficiência.
A identificação presa à coleira é muito importante (e obrigatória em alguns municípios brasileiros). Ela permite a localização do pet em caso de perdas e evasões. Providencie o registro do seu animal logo que recebê-lo em casa.
Finalmente, quando chega o dia do primeiro passeio, o cachorro filhote já deve ter entendido o significado de alguns comandos, como “fica”, “senta”, “ao lado”, etc. São ordens simples, mas importantes para as caminhadas.
Alguns pets demonstram alegria e interesse quando caminham na rua pela primeira vez. Outros se mostram tímidos, desconfiados, até mesmo desesperados para retornar à segurança da casa. Identifique o temperamento do cachorro e estimule as reações positivas.
Com o tempo, todos os cachorros passam a gostar do passeio diário e esperar ansiosamente por ele. O tutor precisa deixar claro quem está na condução, o ritmo da caminhada, o roteiro, etc. Nossos pets tendem a nos identificar como o “alfa” da matilha, o líder do grupo.
Entenda a linguagem corporal dos cachorros. Orelhas deitadas para trás, lambidas na trufa, garupa rebaixada e aceleração da respiração indicam algum nível de estresse e devem ser atenuados antes que ocorra um acidente (brigas com outros cachorros, avanços sobre os pedestres, perseguições a motos e carros, etc.).
É importante dar alguma autonomia para os pets durante os passeios. Eles precisam de um tempo adequado para investigar cheiros diferentes – é por isso que os cachorros ficam longo segundos farejando postes e troncos de árvores.
O ritmo também depende do cachorro. Alguns são mais velozes e intensos: eles precisam da rapidez e dos obstáculos (uma ladeira íngreme, por exemplo). Outros são mais tranquilos, caminham devagar, contemplando a paisagem.
A maioria dos filhotes e mesmo os adultos de porte pequeno não apresentam resistência física para percorrer longas distâncias. Depois de uma caminhada de 20 minutos, é muito provável que você tenha de transportar um chihuahua ou um maltês no colo na volta para casa.