Dicas para ajudar um cachorro medroso

Medo e ansiedade também podem afetar os cachorros. Veja algumas técnicas para ajudá-los.

O medo não é um transtorno propriamente dito. Ele é útil para garantir a segurança e o bem-estar. Porém, assim como acontece entre humanos, o medo excessivo gera problemas no dia a dia e afeta a qualidade de vida dos cachorros, chegando a impedir algumas atividades básicas.

Para ajudar um cachorro medroso, é preciso entender os motivos. Identificada a raiz do problema, pode-se superá-lo com algumas dicas, que funcionam mesmo em casos mais severos, nos quais o peludo pode sofrer de ansiedade.

Os fatores da ansiedade

Por que um cachorro fica estressado, ansioso e amedrontado? Existem situações objetivas de risco, mas as respostas são sempre individuais. Um peludo pode ter medo de relâmpagos e trovões, mas é rapidamente tranquilizado com um afago do tutor e algumas providências básicas, como fechar janelas, impedir o acesso ao jardim ou quintal, etc.

Dicas para ajudar um cachorro medroso

Em outro animal, a resposta pode ser excessiva e surpreendente. Muitos cachorros permanecem em estado de alerta total durante horas, apavorados com os sinais das tempestades. No longo prazo, isto pode inclusive gerar problemas físicos, que afetam especialmente o coração e o sistema respiratório.

Os tutores precisam observar os cachorros e entender como cada um deles reage aos riscos que, mesmo que sejam inexistentes, parecem bem reais para eles. Alguns cães sentem medo de pessoas estranhas, outros não toleram ruídos estridentes, muitos exibem estratégias exageradas para se proteger, etc.

Os motivos dos medos dos cachorros

Medo e raiva quase sempre andam juntos. Nos padrões oficiais de todas as raças de cães, fica estabelecido que os animais com timidez (medo e ansiedade) ou agressividade (violência e raiva) em excesso são automaticamente desclassificados das competições.

Isto ocorre porque tanto a timidez quanto a agressividade não são naturais, nem esperadas para a espécie, seja nos indivíduos de raças puras, seja nos mestiços. O principal motivo para um cachorro se tornar medroso é a solidão e o isolamento.

A personalidade canina, assim como a nossa, varia de indivíduo para indivíduo. Um certo retraimento e desconfiança com estranhos (humanos e outros pets) pode ser absolutamente natural. Alguns cachorros são mais independentes e não gostam de interagir o tempo todo. O problema surge quando o medo e a ansiedade se tornam exagerados.

É preciso atentar também para os medos fundamentados. O excesso de barulho, uma chuva violenta, a aproximação abrupta de pessoas, por exemplo, fazem os cães entrarem em estado de alerta, porque alguma coisa está errada ou, pelo menos, diferente da rotina.

Como ajudar o cachorro medroso?

O medo é um conjunto natural de sensações e sentimentos. Ele é uma estratégia de sobrevivência: não devemos deixar de sentir medo, mas aprender a identificar as situações e escolher as melhores alternativas disponíveis. Isto vale igualmente para os cachorros.

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Cabe aos tutores diferenciarem o medo normal do comportamento fóbico, que pode se revelar em destrutividade, violência e agressividade, inclusive contra o próprio corpo (perseguir o rabo, morder certas áreas, lamber excessivamente as patas, coçar-se demais, etc.).

O medo geralmente é determinado por situações de estresse provocadas por abandono, negligência ou maus tratos. É fundamental identificar os fatores do estresse e eliminá-los, ou demonstrar para o cachorro que não há motivo para tanto alerta e alarme.

Estabelecer uma rotina saudável é fundamental para evitar ou superar o medo excessivo. Os cachorros gostam de um cotidiano regrado e previsível, com horas certas para despertar, alimentar-se, brincar, tirar sonecas, etc.

Os passeios são igualmente fundamentais. Além do exercício físico, importante para o bom desenvolvimento, a manutenção do peso ideal e o fortalecimento de músculos, ossos e articulações, é nas caminhadas diárias que os cachorros interagem com desconhecidos, compreendendo que eles não são necessariamente uma ameaça.

Desta forma, ao identificar a presença de pessoas estranhas em casa, o cachorro saberá que não é preciso ficar em alerta: alguns peludos podem acompanhar de perto visitantes e prestadores de serviços, mas não desenvolvem medo e ansiedade com o movimento inusitado na casa.

O abandono do cachorro

Os cachorros que vivem na rua (que já nasceram ali ou foram descartados por tutores irresponsáveis) é o caso clássico de abandono, que sempre vem à mente quando pensamos no assunto. Mas existem outras formas de abandono.

Isolar o cachorro no fundo do quintal, sem proporcionar atenção, afeto, interação e educação, pode ser considerado uma forma de abandono, da mesma forma que deixar o peludo sozinho, sem nenhuma atividade, enquanto a família desenvolve as atividades do dia a dia fora de casa.

Isto não significa que os tutores precisam renunciar às atividades (trabalho, escola, lazer, etc.) para fazer companhia para o cachorro. Aliás, os peludos só têm a ganhar quando entendem a rotina doméstica.

Mas, antes de adotar um cachorro, os candidatos precisam refletir sobre as necessidades que ele tem como um ser vivo gregário e sociável. Se a agenda lotada impede a presença por algumas horas do dia, é preciso repensar e escolher outra opção (um aquário ou um roedor, por exemplo).

Mesmo quando o objetivo da adoção é ter um cachorro para guardar a propriedade, é preciso garantir o adestramento, a educação e o equilíbrio do peludo. Os cães de grande porte podem ser excelentes guardiães, mas também demandam atenção, afeto e educação. Do contrário, tornam-se violentos ou excessivamente tímidos.

A negligência

Todo cachorro tem necessidades, vontades e desejos e cabe ao tutor supri-las. Para os peludos, o universo praticamente se resume à família. Afinal, eles passam a maior parte do tempo em casa e, mesmo quando saem, são os humanos que decidem para onde, para quê e em que horário.

Além das necessidades básicas, como alimentação, agasalho, abrigo e consultas médicas, os tutores também devem garantir a educação – com jogos, brincadeiras e, em alguns casos, com aulas de adestramento –, a atenção e o afeto.

Nos horários do dia em que é preciso deixar o cachorro sozinho em casa, para impedir que ele fique entediado, é preciso garantir que ele tenha atividades para desenvolver. O tédio é um dos principais motivos do medo excessivo.

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Os tutores podem providenciar diversas formas de manter o cachorro ocupado enquanto espera a família voltar para casa. Pode-se deixar alguns brinquedos nos ambientes em que o peludo circula, para que ele escolha com que se distrair.

Não é preciso gastar muito dinheiro para isso. Os objetos podem ser brinquedos velhos das crianças, garrafas pet, bolinhas, pelúcias, etc. É importante que eles não sejam pontiagudos e não soltem peças pequenas que possam ser engolidas, para evitar acidentes.

É importante fazer um rodízio com os brinquedos. Depois de identificar os objetos preferidos, uma parte deles pode ser guardada e reapresentada a cada dez dias, para garantir o “ar de novidade” para as brincadeiras.

Outras opções para manter os cachorros ocupados são:

  • deixar a janela entreaberta, para que eles possam observar o movimento. Mesmo que vivam em apartamentos, os cachorros conseguem se entreter com a formação de nuvens, aves voando, sons vindos da rua, etc.;
  • programar um aparelho de áudio para reproduzir sons em alguns momentos do dia. Há inclusive canais de TV específicos para cachorros, mas basta um ruído diferente, por alguns minutos, para atrair a atenção;
  • caso o cachorro tenha medo de trovões e fogos de artifícios, os sons podem ser reproduzidos algumas vezes por dia. Um momento especial para isso é a proximidade da volta da família, para que os peludos associem o barulho incômodo à alegria do reencontro;
  • o som de estrondos, buzinas e explosões deve ser apresentado em volume baixo, para o cachorro se familiarizar. Aos poucos, o volume vai aumentando e pode ser usado também durante as brincadeiras em casa. É uma forma de neutralizar a fonte do medo;
  • para os cachorros muito ansiosos, uma peça de roupa do tutor pode ser deixada por perto nos momentos solitários. Não é preciso que seja usada: os peludos conseguem detectar odores mínimos e, com isso, sentem-se confortados ao evocar a presença da família;
  • naturalmente, é preciso garantir alimentação e água fresca. Se os períodos forem prolongados, os tutores podem investir em alimentadores e bebedouros inteligentes (acionados com pedais). Isto os mantêm ocupados e os alimentos mantêm o aroma, a textura, etc. Uma opção mais barata é encher uma garrafinha pet com petiscos e deixar o cachorro encontrar a melhor maneira de abri-la.

A violência

Ainda existem tutores que acreditam na coerção como método de ensino e controle dos cachorros. As ameaças e as agressões verbais e físicas ainda são muito comuns nas sessões de adestramento, inclusive as mais simples, do dia a dia.

Mesmo que os chicotes dos antigos circos tenham sido aposentados, muita gente ainda acredita que esfregar o focinho do cachorro em uma poça de xixi é a maneira adequada para ensinar o pet a fazer as necessidades no “lugar certo”.

A melhor forma de aprendizagem é o método positivo, em que o cachorro é ensinado com muita paciência a fazer o que se espera dele. Sempre que fizer “o certo”, deve receber recompensas (inicialmente materiais, como petiscos), agrados, cafunés e palavras de incentivo.

Ao serem expostos à violência, os cachorros, assim como os leões e tigres dos circos, acata as regras da casa. No entanto, ele faz isso por medo, recalca sensações e emoções. Isto pode gerar danos emocionais e físicos, além de não ser muito eficaz.

Ao reagir com medo, o cachorro só espera uma oportunidade para se livrar da coerção. Ele pode se tornar violento e arredio, mas a maioria dos peludos se torna apenas apavorada, estressada e ansiosa.

Em muitos casos, os resultados não são bons: alguns cachorros, cujos focinhos foram esfregados no xixi e no cocô, podem entender que o “erro” está nas próprias necessidades fisiológicas. Nestes casos, muitos peludos tratam de ocultar as provas do crime, engolindo as fezes e gerando mais um problema para os tutores.

Superando o medo

Quem adota um cão abandonado também pode se deparar com o medo gerado pela violência. Escolher um animal em um abrigo como parceiro de vida é um gesto nobre, mas é preciso ajudá-lo a superar os traumas.

A vida na rua é difícil. Os cães estão sujeitos a atropelamentos, quedas, brigas com outros animais, oscilações de temperatura, fome, doenças e incômodos causados por infecções virais e bacterianas. Tudo isso gera medo.

Ao ser recebido em casa, um cachorro nestas condições não conseguirá compreender imediatamente que os maus momentos ficaram para trás. Felizmente, os episódios (inclusive os vivenciados por cães que tiveram maus tutores) podem ser superados com relativa facilidade.

Em primeiro lugar, o novo tutor deve levar o cachorro ao veterinário, para um check-up completo: é preciso garantir a saúde não apenas do peludo, mas de toda a família. Antes que o médico libere a convivência em família, o ideal é manter o pet isolado.

Em seguida, é preciso demonstrar que ele tem todas as necessidades básicas satisfeitas. Além disso, encontrou um amigo para protegê-lo. O cachorro começa a compreender a nova realidade a partir da convivência: brincadeiras, passeios, carinhos, etc.

A maioria dos cachorros supera os traumas emocionais com segurança, desde que sejam acolhidos em um ambiente estável e saudável. Em poucas semanas, os peludos compreendem que os motivos do medo e da ansiedade ficaram para trás.

Mesmo assim, dependendo da personalidade de cada animal, a situação pode ser um pouco mais complexa. Neste caso, o tutor pode recorrer às orientações de um veterinário especializado em comportamento canino, ou de um adestrador profissional.

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