A perda é sempre tristes, mas os últimos dias do seu cachorro podem se tornar os melhores.
A morte não é um tema fácil de abordar, lidar e aceitar, especialmente entre nós, ocidentais. Mas, seja como for, ela é uma realidade inevitável: cedo ou tarde, todos nós vamos morrer. E os cachorros costumam se despedir mais cedo. É possível tornar melhores os últimos dias, tanto para os peludos, quanto para nós.
Quando um animal é idoso, está gravemente doente ou sofreu um acidente grave, os sinais da morte são facilmente identificáveis e é necessário entendê-los e conviver com eles – ou sobreviver a eles.
Aspectos práticos
Em primeiro lugar, é importante dar atenção às questões práticas. O telefone do veterinário deve estar sempre à mão, para todos os membros da família. Algumas providências podem ser antecipadas, como definir o destino do corpo.
Algumas cidades brasileiras providenciam, gratuitamente ou com preços reduzidos a remoção e enterro ou incineração dos restos mortais. Informe-se sobre os serviços disponíveis na sua região e as condições para contratá-los.
Diversas clínicas veterinárias – a maioria – facilitam este período difícil, providenciando o necessário para enterrar ou incinerar o corpo do melhor amigo da família. Em alguns casos, os tutores podem desejar ter uma cerimônia íntima (uma espécie de velório), um féretro, identificação do pet na lápide, etc.
Tudo isso precisa ser planejado com antecedência, por mais doloroso que seja. Uma forma de amenizar a dor é avaliar que o cachorro deu o melhor dele mesmo durante muitos anos e chegou o momento do descanso. Garantir a dignidade na despedida é uma forma de consolar os que ficam.
Os sinais do fim da jornada
Às vezes, a morte chega repentinamente, sem dar tempo de nenhum preparativo. Na maioria dos casos, os próprios cachorros indicam que estão completando a jornada – se ela continuará em outra dimensão, é uma questão de fé, que deve ser sempre respeitada.
No final da vida, os cães idosos costumam recusar coisas que antes lhes davam muito prazer. O pet que adorava caminhar e esperava ansioso o momento do passeio diário começa a se recusar a sair de casa. É um indício de que algo está errado: ele pode estar sentindo dores, pode estar deprimido.
O veterinário deve ser consultado e, caso o peludo se recuse a sair, pode-se organizar um percurso dentro de casa ou no quintal, respeitando o ritmo do pet, parando para descansar tantas vezes quantas seja necessário.
O comportamento também muda com a proximidade da morte. Cães corajosos passam a demonstrar medos sem motivo, os esfomeados se recusam a comer, os mansos e mostram agressivos. A sede parece desaparecer, mas oferecer água em uma mecha de algodão ou uma seringa sem agulha garante a hidratação corporal e o consequente bem-estar.
Não é preciso que surjam sintomas patentes para os tutores identificarem a dor, o incômodo e o desconforto. Os cachorros não precisam ter diarreias, vomitar, ter hemorragias ou ganir de dor: quem os conhece intimamente sabe que eles não estão bem apenas observando o olhar, o jeito de se deitar no chão, a falta de energia para brincar ou fazer festa.
De qualquer forma, é possível acompanhar alguns sinais vitais. A temperatura corporal dos cães fica entre 38,5°C e 40,5°C; o movimento respiratório é de até 40 inspirações por minuto (em movimento), caindo para apenas dez em repouso.
A frequência cardíaca é de 90 a 140 batimentos por minuto (em repouso). O reflexo capilar – o tempo que o sangue volta a circular em uma região depois de ter sido represado – é de um a três segundos. Para verificar, os tutores podem pressionar as gengivas, que, nos cães saudáveis, voltam a ficar rosadas (ou mais escuras, de acordo com a raça) em poucos segundos.
É importante que ninguém force o cachorro a brincar, correr ou responder da forma como sempre respondeu, durante os anos de convivência. Ele está triste por perceber que não tem condições orgânicas para reagir, e ficará ainda mais triste se entender que não consegue fazer o que a família espera dele.
Caso os dados vitais estejam alterados – por exemplo, a respiração ofegante, arritmias cardíacas, vômitos frequentes sempre que o cachorro tenta se alimentar –, o veterinário poderá ser acionado para orientar sobre o que deve ser feito. A melhor providência, no entanto, é apenas garantir o conforto.
Melhorando os últimos dias do cachorro
Com as necessidades imediatas equacionadas – velório, enterro ou cremação, preparação de lápides, etc., os tutores podem se preocupar com o mais importante: tornar melhores os últimos dias do cachorro – uma homenagem ainda em vida para quem dedicou tudo em benefício da família.
Os cachorros são bastante sensíveis e percebem as preocupações dos tutores. Por isso, para garantir um finalzinho de vida melhor e digno, é importante não contagiar o ambiente. O luto deve ser deixado para um pouco mais tarde: os últimos dias precisam ser empregados em um ambiente agradável, cheio de ternura e afeição.
Veja abaixo, 05 maneiras de tornar melhores os últimos dias do seu cachorro
01 – Guloseimas
Faça uma lista do que pode ser prazeroso e agradável para o seu pet. O que ele gosta de fazer? Algumas escapadas da dieta balanceada são mais do que justificadas neste momento: sem excesso, ele pode experimentar alguns petiscos antes proibidos, como um pedaço de pizza, uma esfiha ou hambúrguer.
Não exagere e nunca ofereça chocolate para o cachorro. Os excessos podem ser prejudiciais para o estômago e o intestino e o chocolate compromete o sistema nervoso central, chegando a causar convulsões e perda da coordenação. Mas, na medida do possível, deixe o pet cometer alguns abusos.
Finalmente, chegou o momento de abusar do junk food. Confira os limites com o veterinário e permita ao cachorro deliciar-se com batatas fritas, nuggets de frango, linguiça defumada, gordura da carne do churrasco.
Se o peludo sempre se aproximou perigosamente dos doces, não há mais limitações. Está fazendo calor? Ofereça um picolé – ou mesmo um sundae completo. O seu cachorro se divertirá, ficará relaxado e lambuzado: um momento histórico para ser preservado.
Mas, mesmo que a dieta alimentar seja muito limitada, nada impede de oferecer arroz com carne picadinha, peito de frango desfiado e alguns legumes. Os dentes não ajudam a morder uma maçã ou cenoura? Cozinhe os vegetais até que eles amoleçam.
02 – Passeios
Ele gosta de passear de carro? Talvez ele não consiga demonstrar todo o entusiasmo de quando era filhote (ou adulto saudável), mas se ele sempre foi adepto da velocidade, não há motivo para ter mudado.
Leve-o para passear, não dê broncas se ele quiser espiar o movimento pela janela. Tome os cuidados necessários, mas lembre-se: o cachorro não precisa mais ser educado ou adestrado, nem terá problemas se tomar vento ou um pouco de chuva.
Mas talvez ele não goste do movimento dos automóveis e já não esteja em condições de passear com as próprias pernas. Se for possível, proporcione um passeio no colo. O cachorro pode não ser capaz de ir e voltar até a esquina, mas ele se lembra muito bem das diversões nos canteiros da pracinha.
Alguns pets, no entanto, são grandes demais para serem carregados no colo. Isto, no entanto, não é um impedimento. Improvise, use a criatividade. Que tal um passeio no carrinho de pedreiro? Ou, talvez, no carrinho de bebê que ele sempre teve vontade de explorar, mas que sempre foi proibido? Qualquer diversão fará bem para o cachorro e servirá para ampliar o leque de recordações que ele certamente deixará.
03 – Muitos mimos
Desde que o cachorro chega à nossa casa, nós, tutores responsáveis, estabelecemos uma série de regras: por onde ele pode transitar, em que móveis pode subir, as portas que não podem ser ultrapassadas. Mas, nos últimos dias, estas regras perdem o sentido.
Abuse dos mimos. Deixe o cachorro dormir na sua cama, descansar no sofá com a cabeça pousada no seu colo. Deixe o pet correr pela casa – inclusive por aquele corredor escorregadio que sempre rendia tombos formidáveis.
Ele gosta de nadar? Convide-o para um mergulho na piscina. Os cachorros adoram partilhar atividades com a família humana. Você não tem uma piscina? Não tem problema. Uma banheira, um tanque, uma pia, uma mangueira fazendo chafariz na área de serviço. Dá trabalho, mas também dá muita satisfação. E é por pouco tempo: o pet não ficará malcriado depois disso.
Principalmente, encontre um tempinho para que o cachorro possa simplesmente relaxar ao seu lado. Certamente, você pode improvisar um balanço no meio da sala de estar, ou um escorregador com o tampo da mesa de jantar.
Nada disso, porém, é necessário. Nos últimos dias, o cachorro está cansado, exausto. Ele viveu demais, envolveu-se demais – fisicamente e emocionalmente – com a família. Para muitos pets, o tempo de brincar e correr está definitivamente encerrado. Os mimos, no entanto, podem acompanhá-lo até o fim.
04 – Chame os amigos
No decorrer da vida, o seu cachorro certamente despertou a atenção e a curiosidade de muita gente: amigos, vizinhos, parentes, prestadores de serviços. Ele se envolveu eu mais situações da sua vida do que você é capaz de recordar.
Convoque esse pessoal – e os pets deles – para uma despedida. Serão momentos diferentes da rotina, mas não tanto que deixe o cachorro em alerta ou em pânico. Avise com antecedência que o pet está velho, doente, na contagem regressiva para seguir ao céu dos cachorros (se você acreditar nisso).
05 – Despeça-se
Muitas vezes, nós podemos acompanhar os nossos cachorros até o último suspiro. Em alguns casos, é preciso deixá-los em um hospital veterinário e, muitas vezes, precisamos tomar a difícil decisão de autorizar a eutanásia, para evitar um sofrimento inútil.
Aproveite os últimos dias do seu cachorro para despedir-se dele. Agradeça pelos bons momentos. Faça um inventário de quanta coisa mudou na sua vida desde que aquela bola de pelo engraçadinha entrou nela.
Sim, nós mudamos com os nossos relacionamentos. Aprendemos um pouco, tornamo-nos mais tolerantes, entendemos melhor o processo da vida. A morte de um cachorro é o final de um ciclo. Homenageie este fiel companheiro, sofra, chore, viva o luto pela perda.
Depois, quando tudo isso passar, quando a dor se tornar uma saudade gostosa, pense seriamente em adotar um novo pet. Muitos animais estão nas ruas ou em abrigos esperando uma oportunidade.
Outros cãezinhos acabaram de nascer e precisam descobrir o mundo ao lado de alguém responsável, disponível e paciente. Não se trata de uma substituição, mas você será um tutor muito melhor na segunda vez. Deixe o coração aberto.