Meu cachorro morreu. Como lidar com a perda?

Não é uma situação fácil. Saiba como lidar com a perda do cachorro.

Em primeiro lugar, se você se encontra nesta situação, nós apresentamos os nossos mais sinceros sentimentos. Não é nada fácil lidar com a perda de um ente querido, inclusive quando este ser é um peludo que nos ama de maneira incondicional.

A morte de um animal de estimação gera impactos consideráveis em nossa vida. Perder um cachorro provoca uma repercussão enorme em nosso íntimo, as nossas emoções parecem entrar em um colapso irreversível.

Mesmo convivendo com um cachorro doente e velhinho, a possibilidade da morte traz ansiedade e sofrimento. Mas não se trata de egoísmo: nós queremos que tudo esteja sempre bem.

O poeta português Fernando Pessoa, através do heterônimo Álvaro de Campos, escreveu que “no tempo em que festejavam o dia dos meus anos, eu era feliz e ninguém estava morto” (Aniversário). A morte está relacionada a separação, distância, perda.

no tempo em que festejavam o dia dos meus anos, eu era feliz e ninguém estava morto

É natural que, nestas ocasiões, nós não saibamos exatamente o que fazer. A tristeza impede ou dificulta o raciocínio, a dor parece ser insuportável. Mas existem formas de lidar com a perda e superá-la. Quem fica precisa seguir em frente.

O luto na morte de um cachorro e como lidar com a perda

Quem já perdeu com a morte de um cachorro conhece os efeitos deste fato, que pode ser traumático. Cada pessoa reage de maneira diferente, porque cada um de nós possui mecanismos próprios de defesa emocional.

Um cachorro não é apenas um bicho, nem sequer um bicho de estimação: ele é um membro da família, com quem estabelecemos relações pessoais de afeto. A perda garra angústia e tristeza. Mesmo a expectativa de perda pode ser muito desgastante.

Alguns amigos tentam consolar, mas muitos escolhem as piores expressões: “era apenas um cachorro”, “ você pode comprar outro” ou “pelo menos, agora você vai ter menos gastos”. São frases de quem tenta consolar, mas, quase sempre acentuam ainda mais o sofrimento.

A morte é uma circunstância da vida, mas infelizmente a sociedade ocidental não é instrumentalizada para enfrentá-la. Mesmo os símbolos da morte são tétricos: esqueletos, escuridão, aves de mau agouro. Para lidar com a perda de um cachorro, é necessário conhecer e superar as cinco fases do luto.

Meu cachorro morreu: Os estágios do luto

A morte vem sendo estudada desde o surgimento da psicologia. Pesquisadores eminentes, como Sigmund Freud, o Pai da Psicanálise (1856-1939), debruçou-se sobre o tema.

A psiquiatra americana Elizabeth Kubler Ross escreveu “On Death and Dying” (sobre a morte e o processo de morrer, em tradução livre), em que propôs um modelo para entender e superar a morte.

São cinco etapas, vivenciadas pela maioria das pessoas:

negação – é a fase em que negamos o acontecimento, em que acreditamos que deve ter havido algum engano. É uma forma de autodefesa e pode durar alguns minutos ou até vários anos;

raiva – é o momento em que surgem muitos sentimentos mesclados. Dor, raiva, medo e culpa são as reações naturais ao fato. Trata-se de um momento delicado, em que podemos tomar atitudes inconsistentes ou desagradáveis;

barganha – é o estágio em que imaginamos poder negociar com a morte. Depois da explosão de raiva da fase anterior, nós agimos como se pudéssemos alterar os fatos. De acordo com as crenças individuais, este é o momento das promessas e pactos, à espera de um milagre;

depressão – é a fase de maior sofrimento. Esgotadas as possibilidades de erro ou barganha, a dor se instala. Contraditoriamente, neste momento pode surgir a recuperação, a “volta por cima”. De qualquer forma, aqui a morte se concretiza e a ausência é sentida nos detalhes: a caminha vazia, a coleira pendurada, a bolinha esquecida em um canto;

aceitação – por fim, surge o momento de aceitar objetivamente a perda, de refletir sobre o fato, de entender a separação e tudo que ela representa. Ao aceitar a perda, começamos a retomar as atividades rotineiras.

Cada um destes cinco estágios pode se prolongar por mais ou menos tempo. Por exemplo, a negação é mais comum e prolongada quando a morte surge de forma inesperada (um atropelamento, por exemplo).

Mesmo assim, cada um de nós reage de acordo com um repertório íntimo, pessoal e intransferível. Existem tutores que demonstram serenidade e firmeza, para chorar apenas quando ficarem sozinhos.

Outros reagem violentamente, culpando Deus e todos à sua volta pela morte do cachorro. Não existe certo e errado, mas pode ser necessário ter de reconstruir pontes, caso a reação contra um amigo ou parente tenha sido excessivamente destrutiva.

O luto é uma forma de reação a uma perda de grande valor sentimental. Ele pode e deve ser um período útil de superação, mesmo que isto implique, por alguns dias, a incapacidade de executar as tarefas mais simples do dia a dia.

Permita-se sofrer, sentir-se culpado, imaginar o que poderia ter sido feito de outra forma, sentir remorso por causa de uma bronca injusta ou exagerada. E, aos poucos, retome a rotina. Sem um grande companheiro, mas com todas as lembranças e com todo o aprendizado que ele proporcionou.

As crianças

Crianças muito pequenas normalmente não conseguem entender a morte. “Sim, ele morreu, mas quando posso brincar com ele de novo?” é uma reação comum entre os pequenos de quatro ou cinco anos.

Para a maioria das crianças, o cachorro da família não é apenas um animal de estimação. Ele é o companheiro de brincadeiras (e de alguma bagunça também), um cúmplice, um amigo sempre à disposição.

Mesmo assim, a morte, com toda a dor do momento, a morte possibilita o aprendizado. Explique para as crianças que o pet morreu, que ele não irá mais voltar. Explique que a vida é um ciclo com começo, meio e fim.

Mostre para a criança que não existe um culpado (mesmo que eventualmente exista um responsável pelo acidente, por exemplo). Diga que a morte ocorre independente de todos os cuidados que nós possamos oferecer. Recorde exemplos recentes (outro cachorro, um vizinho, uma planta, um peixinho de aquário).

Abra espaço para que ela possa se manifestar. Recupere fotos e vídeos das brincadeiras da família e faça um álbum. Provavelmente ele será esquecido em algumas semanas ou meses, mas, até lá, servirá para atenuar a perda.

Normalmente, os pequenos conseguem reagir melhor do que os adultos. Aproveite para ouvir as conclusões que eles tiram da experiência: talvez elas sirvam para aliviar a sua própria dor. Seja como for, o luto em família é sempre coletivo.

Morte do cachorro: Decisões a tomar

Da mesma forma que nos preocupamos com a nossa vida e saúde, estes cuidados precisam se estender para nossos cães, gatos, pássaros, tartarugas, etc.

Os cachorros vivem, em média, de dez a 15 anos — alguns muito mais, outros muito menos. Quase sempre, vivem menos do que a gente. Por isto, é importante conscientizar-se de que, em algum momento, haverá uma despedida.

“Descanse em paz”

O planejamento é importante. Da mesma forma que escolhemos um plano de saúde, acompanhamos as vacinas, organizamos programas de exercícios, etc., é necessário planejar o que será feito quando nosso cachorro morrer para que possamos lidar da melhor maneira possível.

O corpo dele pode ser enterrado no quintal, ou na chácara de um amigo. Algumas cidades brasileiras oferecem cemitérios e crematórios para animais de estimação (em caso de doenças infecto-contagiosas, a cremação é o procedimento mais indicado), inclusive com a organização de um velório.

Isto parece um pouco mórbido? Talvez, mas ter de tomar estas decisões no momento do luto apenas as torna mais confusas e dolorosas. Seja previdente com todos os membros da sua família.

Isto é especialmente válido para quem convive com um cachorro idoso. Ele não irá durar eternamente, “não vai ficar para semente”. A morte é inevitável e, como diz o compositor Lourenço Baeta, “ela não tem meio termo”.

Você já viveu com muitos animais como o seu melhor amigo, que lhe renderam muito amor e cumplicidade. Providencie uma velhice confortável, com muita atenção e mimos especiais, e uma morte digna.

A eutanásia

Na maioria dos casos, a eutanásia em cães é uma overdose de sedativos, injetados por via endovenosa, que induzem uma parada cardiorrespiratória. Ela é sugerida por veterinários em caso de doenças terminais — como um câncer com inúmeras metástases. O medicamento empregado é indolor.

Em todos os casos, a eutanásia é um procedimento indicado quando a qualidade de vida dos pets está irremediavelmente comprometida e não existem terapias que permitam a reversão do quadro clínico.

Em clínicas particulares, o tutor pode decidir se estará presente no momento em que a eutanásia será praticada. Normalmente, não há impedimentos para que você segure o cachorro nos momentos finais, mas tudo depende de como você se sente em relação à morte.

A eutanásia também pode ser sugerida em casos nos quais a mobilidade do cachorro fica severamente comprometida. Nestes casos, o melhor a fazer é pesquisar a possibilidade do uso de próteses (já existem inclusive cadeiras de rodas para pets) e optar pelo procedimento em último caso.

Sem dúvida, esta é uma situação bastante difícil. Seja como for, em muitos casos, é o melhor a ser feito, para não prolongar dores desnecessárias.

Se este for o seu caso, converse com o veterinário, tire todas as dúvidas e deixe o seu companheiro ir. Ele merece um pouco de conforto e dignidade, por tudo que proporcionou em muitos anos de convivência.

Meu cachorro morreu: O que se pode fazer?

Em primeiro lugar, é preciso dizer o que não se deve fazer: reprimir os sentimentos. Se o seu cachorro morreu, fique triste, chore, isole-se por alguns dias, recolha os objetos de que ele mais gostava.

Nos dias seguintes, separe tudo o que possa ser doado para outro pet: brinquedos, tigelas, coleiras, acessórios. Faça isto como um ritual, lembrando-se dos momentos bons (e dos não tão bons também).

Reviva situações partilhadas entre você e o seu cachorro. Se possível, refaça os trajetos dos passeios preferidos. Recorde as travessuras: o pé da mesa roído, a peça de roupa roubada do varal, o canteiro de flores destruído para ocultar um osso precioso.

É importante apropriar-se destes pequenos nadas. Às vezes, é possível sentir o peso do pet ocupando um espaço considerável (e desnecessário) no sofá ou na cama ou latindo desesperadamente no momento em que passa o caminhão para recolher o lixo.

Reveja na tela mental os reencontros ao final de cada dia, as brincadeiras prazerosas em dias de chuva, a cara de pidão ao lado da mesa de jantar, a alegria por ganhar um petisco.

Sim, o seu cachorro morreu. Mas, antes disto, é necessário lembrar — e até mesmo admitir — que ele viveu intensamente. Afinal, cães só muito intensos. E ele partilhou momentos inesquecíveis durante esta trajetória em família, ou apenas a dois.

Não importa quanto tempo tenha durado a parceria: um ano, cinco, dez, às vezes mais. Reviva a curiosidade do filhote, a falta de jeito do adolescente, a segurança do adulto, as manias e achaques do velhinho.

Um novo cachorro

Talvez a melhor maneira de homenagear um cachorro que morreu seja adotar um novo “melhor amigo da família”. Afinal, existem centenas de animais que precisam de pais e irmãos.

Quando a dor estiver mais calma, pense nesta possibilidade, mas não adote um cachorro para substituir aquele que morreu. Cada ser que passa pela nossa vida é único e participa da nossa história com experiências novas e diferentes.

Lembre-se: cachorros são seres vivos, diferentes uns dos outros. Não são objetos que podem ser trocados quando estão velhos ou desgastados. Assim que se sentir renovado, deixe que um novo cachorro participe da sua vida.

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