Os cachorros são leais, brincalhões e companheiros. O relacionamento entre pets e tutores pode ficar ainda melhor quando conhecemos o significado dos gestos e vocalizações dos nossos melhores amigos.
Os peludos são inteligentes – alguns mais, outros menos – e alguns chegam a criar um repertório próprio para se comunicar com os membros da família, mas alguns gestos podem ser considerados universais.
De qualquer maneira, é importante estar atento aos cachorros no dia a dia, porque eles são capazes de aprender durante a vida inteira e podem surpreender os tutores com novas “falas”, se tiverem de incorporar novas atividades ao dia a dia.
Os significados dos gestos caninos
A linguagem dos cães é elaborada e complexa – uma herança dos lobos que foi se tornando mais e mais sofisticada com a evolução da espécie e o convívio com humanos. Ela não é nem um pouco óbvia: mesmo o abanar do rabo nem sempre significa alegria e excitação.
Confira a seguir o significado das “falas” mais frequentes – com o corpo ou com vocalizações – usadas pela maioria dos cachorros. Vale lembrar que a linguagem articulada é um atributo humano, mas a comunicação está presente em dezenas de outras espécies animais.
01. Lamber o rosto
O gesto geralmente é um pedido de atenção ou de carinho. Pode ser também uma atitude corriqueira – se o tutor estiver suado, o peludo vai tentar entender o porquê usando o olfato e o paladar.
Quando o gesto se repete excessivamente, no entanto, pode indicar ansiedade, estresse, tédio ou medo. É preciso ficar atento a outros sinais e, se for o caso, levar o peludo para uma consulta com o veterinário.
02. Lamber as patas sem parar
É um comportamento normal entre os gatos, mas um sinal de alerta para os cães. As lambidas exageradas podem causar feridas nos dedos e coxins plantares, além de umedecer o pelo e predispor a dermatites.
As lambidas excessivas nas patas e no rabo indicam que o cachorro está se sentindo ocioso, sem nada para fazer. É um sinal de estresse. Os tutores precisam apenas mudar a rotina, ampliando os passeios e brincadeiras. Se os peludos ficam sozinhos, alguns brinquedos ajudam a passar o tempo.
03. Afastar as orelhas para trás
Pode ser uma demonstração de submissão, mas frequentemente é exatamente o contrário: o cachorro está se sentindo acuado e “fala” que está pronto para o ataque. Quando isso acontece, é acompanhado por outros sinais de medo.
Se o cachorro posiciona as orelhas para trás fora de situações de emergência, é possível que ele esteja com algum tipo de infecção. Elas são mais comuns entre os orelhudos, mas podem afetar qualquer peludo. É hora de ir ao médico.
04. Orelhas para trás, mas com o rabo abanando
Neste caso, o cachorro está demonstrando que é amigável e não pretende afugentar ninguém (no caso de pessoas estranhas), ou que está pronto para uma brincadeira com os tutores. Mas cuidado: o movimento do rabo sem ritmo indica incerteza, o que pode gerar acidentes.
Sempre que as orelhas estão para trás, o cachorro está confuso, tentando compreender o que está acontecendo. Quando o gesto é acompanhado por sinais amistosos, o peludo quer aprender brincadeiras e comandos novos.
05. Estabelecer contato visual
No mundo animal, as encaradas não são muito frequentes e geralmente são uma maneira de estabelecer dominância ou apavorar uma presa. Entre os membros do grupo, estabelecer contato visual direto equivale a dizer: “eu mando, você obedece”.
Partilhando a vida com os humanos, porém, os cachorros aprenderam que os olhares fixos podem ter outras utilidades. Eles podem ser pedidos insistentes (por um brinquedo ou petisco), tentativas de informar sobre alguma coisa diferente ou apenas demonstrações de amor: tudo depende do contexto.
06. Encostar-se nos tutores
A aproximação é sempre uma forma de coletar informações. Quando chegamos em casa, os cachorros podem se apoiar para identificar por onde andamos, se estamos cansados ou tristes, etc.
Encostar a cabeça no colo do tutor, para um cachorro grande, é equivalente a aconchegar-se no colo para um peludo de pequeno porte. Apoiar-se nas pernas durante a caminhada indica um pedido de proteção e ao mesmo tempo é uma declaração de confiança no melhor amigo.
07. Esconder um objeto qualquer
Os cachorros têm um senso rudimentar de propriedade. Quando eles carregam qualquer objeto para o cantinho (a caminha, a almofada predileta, a casinha no quintal, etc.), eles estão indicando que estão tomando posse.
O objeto pode ser um brinquedo recém-adquirido ou um pedaço de pano velho; alguns cachorros são capazes de colecionar várias coisas – inclusive recolher gravetos na rua, durante as caminhadas. Os trastes colecionados também indicam que eles querem ficar quietos, que não é hora de interagir.
08. Olhares especiais
É preciso ter sensibilidade para descobrir o significado de alguns olhares especiais. O olhar pidão é fácil de entender: o cachorro quer um petisco, um afago ou um brinquedo. No dia a dia, os olhares podem ser usados também para alertar sobre possíveis perigos, indicar a aproximação de alguém (estranho ou da família), etc.
Alguns olhares caninos são expressões de pura ternura. Eles demonstram que a convivência entre cachorros e humanos deu tão certo que o entendimento no dia a dia é fácil e direto. Descobrir o significado dos gestos é uma experiência fascinante e melhora bastante o relacionamento entre tutor e pet.
09. Passear com um brinquedo
Um brinquedo muito querido pode ser levado pelo cachorro (para o quintal, o passeio diário, o banho na pet shop, a consulta com o veterinário, etc.) porque ele se sente mais seguro quando arrasta a bolinha ou o bicho de pelúcia.
O objeto preferido próximo ao cachorro transmite conforto e segurança. Eventualmente, ele também pode oferecer o brinquedo para os tutores, para outros animais de estimação da família e até mesmo para estranhos como forma de aproximação.
10. Sacudir o corpo
É uma excelente maneira de secar os pelos depois de uma brincadeira na chuva. Depois do banho, todo tutor aprende a se afastar do cachorro, porque ele espirra água para todos os lados logo que sai do chuveiro. O gesto também elimina os pelos mortos, eventuais parasitas, etc.
Quando as chacoalhadas são muito frequentes e sem motivo aparente, é preciso prestar atenção. O cachorro pode estar estressado, liberando alguns hormônios em excesso (como cortisol e adrenalina). Para se equilibrar, o movimento consome parte destas substâncias e fornece um pouco de alívio.
11. Perseguir o rabo
Os filhotes perseguem o rabo por curiosidade. Eles descobrem o apêndice e tentam entender o que é e o que se pode fazer com ele. Alguns cães adultos também exibem o comportamento esporadicamente, apenas como diversão.
Quando o gesto é excessivo, os tutores devem prestar atenção: os cães podem estar entediados e insatisfeitos. Passar a maior parte do tempo em um ambiente sem estímulos provoca tédio e correr atrás do rabo é uma forma (inadequada) de “fazer alguma coisa”. É preciso reforçar as atividades diárias do peludo.
12. Levantar as orelhas
A audição canina é prodigiosa. Eles captam sons que nós não conseguimos distinguir. Um ruído a algumas dezenas de quilômetros pode despertar a atenção dos cachorros, que imediatamente se colocam em posição de guarda.
Os peludos são também guardiães naturais. Quando percebem mudanças no ambiente, eles levantam as orelhas para aguçar a audição. O corpo fica tenso, pronto para reagir. Estes sinais podem ser exibidos na presença de ruídos, cheiros, aproximação de pessoas estranhas e até e a chegada de uma tempestade.
13. Piscar os olhos
Fechar os olhos levemente durante uma brincadeira indica que o cachorro está se divertindo e quer aproveitar cada minuto. As piscadas excessivas, no entanto, podem indicar inquietação e ansiedade.
As piscadelas constantes também são sinais de doenças oculares. Blefaroespamo (piscar várias vezes seguidas) pode ser sinal de glaucoma, catarata, atrofia da retina e outras condições. Uma piscada de vez em quando, porém, é apenas uma forma de lubrificar os olhos.
14. Sorrisos ofegantes
A respiração ofegante indica que o esforço físico está acima da capacidade dos peludos. Vale lembrar que para os cães pequenos, subir uma rampa muito inclinada ou saltar de um sofá podem ser verdadeiras façanhas.
Um sorriso ofegante, se não estiver associado a outros sintomas, indica apenas que o cachorro está adorando a atividade. Recuar os cantos dos lábios para trás é uma maneira de inspirar mais oxigênio (daí o sorriso), mas o cansaço nem sempre significa um desgaste excessivo ou desnecessário.
15. Levantar as patas
Quando levanta as patas dianteiras, o cachorro está indicando que quer alguma coisa. Uma das patas traseiras levantadas, com o corpo tenso, significa que o peludo encontrou um rastro que, para ele, é bastante promissor.
Os problemas começam quando o cachorro começa a andar com as patas esticadas, como se quisesse caminhar na ponta dos dedos. Isto indica algum problema ortopédico, como a displasia coxofemoral, bastante frequente nos animais grandes. A rigidez da postura indica inclusive problemas neurológicos, como um AVC.
16. Deitar-se apoiado no dorso
Sempre que o cachorro dorme com o ventre para cima, é uma indicação de que ele se sente seguro e confortável. Na natureza, esta posição é muito arriscada, já que um predador pode atacar diretamente o abdômen.
Quando dois cachorros se encontram pela primeira vez, o animal que mostra o ventre está indicando que não quer briga, que não é uma ameaça. Em casa, ao dormir com a linha dorsal apoiada no chão (ou na cama) significa que o peludo não detectou nenhuma ameaça por perto.
17. Dormir juntando as patas
É a posição contrária, em que os órgãos do tórax e do abdômen ficam protegidos pelas patas: coração, pulmões e vísceras permanecem escondidos, o que, na pior das hipóteses, obriga um predador a ter mais trabalho.
“Dormir de rosquinha” significa que o cachorro ainda não está adaptado ao ambiente – ela é adotada pela maioria dos cães adotados já adultos. Um cafuné na hora da soneca torna os cães mais confiantes e facilita a adaptação.
18. Inclinar a cabeça
É um movimento fofo, que sempre cativa os tutores e até mesmo os desconhecidos. O cachorro inclina o pescoço e faz caras e bocas: levanta as sobrancelhas e as orelhas, arregala os olhos e as narinas. O motivo é simples: ele está confuso e quer entender o que está acontecendo.
O gesto é comum no adestramento, quando o cachorro está aprendendo novos comandos e truques. Ele pode se repetir quando os tutores “falam demais” e os peludos não conseguem compreender patavina do sermão. De qualquer maneira, indica atenção redobrada.
19. Eriçar os pelos
O motivo óbvio é aquecer o corpo: o cachorro sente frio e quer espessar a cobertura de pelos para manter ou aumentar a temperatura corporal. Quando o peludo detecta alguma ameaça, ele pode eriçar os pelos em alguns locais específicos.
Os pelos podem se levantar na linha superior do dorso (especialmente na região da cernelha), ao redor do pescoço e no alto da cabeça. A reação ocorre por excesso de adrenalina (o hormônio liberado em situações de ataque ou de fuga). Com os pelos eriçados, o peludo também parece maior e pode desencorajar alguns agressores. Os gatos também reagem desta maneira.
20. Escavar o chão
Alguns cachorros têm o costume de esconder seus tesouros cavando buracos no chão. Trata-se de uma atitude instintiva (na vida selvagem, as carcaças das presas são enterradas, para poupar um pouco de alimento e também evitar o interesse de outros predadores).
O comportamento pode ser controlado com adestramento positivo: o cachorro troca os buracos por petiscos, agrados e palavras de incentivo.
Cavar o chão antes de se deitar é apenas uma forma de “arrumar a cama”. Já quando os peludos escavam as tigelas, eles estão simplesmente informando que é hora de colocar mais comida e água fresca.
21. Andar de um lado para outro
O movimento é comum entre cães de guarda, mas também indica ansiedade. Em espaços pequenos, o peludo pode ficar andando em círculos. O movimento pode ser específico a partir de alguns estímulos, como sons muito altos, movimento excessivo na vizinhança, isolamento, etc.
Qualquer movimento repetido e estereotipado indica falhas no bem-estar dos cachorros. Eles podem estar se sentindo entediados pela solidão ou falta de atividades, irritados com algumas atitudes dos tutores ou de outros pets da casa, etc.
22. Mudar o local das sonecas
A capacidade de adaptação é prodigiosa, mas eles têm algumas exigências. Quando mudam o lugar em que dormem, eles estão querendo dizer que as condições não são adequadas: a cama pode ser quente demais, o ambiente pode ser muito barulhento, etc.
Quando a cama precisa mudar de lugar, é comum que os cachorros tentem voltar para o local de origem (eles gostam de rotinas bem previsíveis). Eles também podem escolher outro canto. A mudança do local da soneca também pode indicar que eles querem ficar mais próximos aos tutores.
23. Bocejar
O motivo óbvio dos bocejos é o cansaço. A hora da soneca passou e eles não puderam descansar por um motivo qualquer. Mas eles também bocejam para indicar que estão entediados, que não gostaram de mudanças no ambiente ou que estão ansiosos por alguma razão.
Outro motivo: se os tutores bocejam, os cachorros tendem a imitar o gesto: quanto maior a proximidade, mais comum é esta imitação; é como se os chefes da casa estivessem dizendo que chegou a hora do descanso e os peludos devolvem o bocejo para concordar.
24. Destruir objetos
É natural que os filhotes destruam brinquedos, lençóis e almofadas, basicamente em função da curiosidade. O prejuízo se torna maior com o despontar dos dentes permanentes. Os animais adultos raramente exibem este comportamento.
Quando isto ocorre, eles estão “gritando”: o espaço é inadequado, as atividades são insuficientes, está faltando comida, atenção e carinho. Sempre que se sentem entediados ou desmotivados, os cães revelam o desconforto atacando objetos.
Em tempo: os cachorros não atribuem valor de troca aos objetos: ou eles são úteis, ou são desnecessários. Eles podem destruir tanto um sapato importado, quanto um chinelo velho (neste caso, eles pegaram o chinelo “emprestado”). A solução é não deixar bens muito caros ao alcance, nem gastar muito com acessórios e roupas.
25. Coçar-se demais
A maioria das coçadelas é provocada pela incômoda presença de parasitas, como pulgas e carrapatos. É importante usar repelentes e inspecionar a pelagem regularmente, para eliminar estes insetos.
A coceira também pode ser causada por doenças de pele, inclusive as causadas por excesso de umidade (e de higiene). Coçar-se compulsivamente pode indicar um transtorno emocional, como estresse, ansiedade ou depressão. O ideal é corrigir logo no início, para não acumular mais problemas.
26. Andar sentado
Os tutores podem achar engraçados, mas os cachorros que esfregam o ânus no chão, projetando-se para frente como se estivessem andando sentados, quase certamente estão infestados por vermes.
A vermifugação é uma tarefa para toda a vida: como os cães saem para a rua, podem entrar em contato com fezes contaminadas, ingerir ovos e desenvolver verminoses (que podem inclusive levar à morte). Ministrar vermífugo para os filhotes e reforçar com doses periódicas elimina o problema e as consequências.
27. Baba em excesso
Algumas raças são conhecidas pelo excesso de baba. Geralmente, os cães com lábios soltos são mais propensos, mas é preciso estar atento: a baba pode ser sintoma de uma série de problemas mais ou menos graves.
Ela pode ser causada por intoxicações (ingestão de plantas tóxicas, alimentos contraindicados, produtos de higiene e limpeza, picadas de insetos, etc.). Algumas doenças bucais, como gengivite, também colaboram para a produção de saliva. Fique atento a outros sinais, como vômitos, diarreias, perda de equilíbrio, descoordenação motora e convulsões: corra para o médico.
28. Sede em excesso
É muito bom que os cães tenham sede: bebendo muita água, eles se mantêm hidratados e isto previne muitas doenças. Até mesmo brincadeiras com água (natação, mergulho, banho de mangueira ou borrifador, etc.) são muito bem-vindas para o bem-estar dos peludos.
O excesso, no entanto, pode indicar problemas. O motivo mais comum é o diabetes, cada vez mais frequente entre os cachorros. Podem ocorrer outros transtornos, como insuficiência renal e hepática, hipertireoidismo, síndrome de Cushing. As consultas regulares ajudam a prevenir e também a controlar as disfunções.
29. Latidos, uivos e ganidos em excesso
Talvez isto ocorra apenas porque o cachorro é muito comunicativo, mas qualquer alteração na frequência e intensidade das vocalizações merece ser investigada pelos tutores. Na maior parte dos casos, as mudanças indicam que o peludo precisa de mais atenção e atividades.
O exagero também pode estar associado ao tédio, dor, desconforto, ansiedade da separação e presença de novos estímulos (como um vizinho barulhento recém-chegado às redondezas). Cabe ao tutor identificar as causas e encontrar formas para reduzir os latidos, sem esquecer que eles são normais e naturais.
