Na verdade, os animais não conseguem prever: eles podem sentir calamidades naturais.
Alguns animais parecem possuir algum tipo de habilidade especial para prever calamidades naturais grandes e pequenas. O fenômeno, facilmente observável, não se restringe a uma única espécie: animais domésticos e selvagens aparentemente conseguem identificar temporais, deslizamentos, abalos sísmicos, etc.
Em casa, muitas vezes, os cachorros – que adoram passear e esperam ansiosamente este momento do dia – se recusam terminantemente a sair de casa sem nenhum motivo e, logo em seguida, cai um toró de lavar a alma. Gatos se escondem em guarda-roupas minutos antes de as trovoadas começarem a pipocar.
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Fatos impressionantes
Em 2004, logo depois do Natal, um maremoto (sismo submarino) com epicentro na costa oeste de Sumatra (Indonésia), deu início a uma série de ondas gigantes que varreram parte do oceano Pacífico e praticamente todo o Índico, provocando destruição na costa oriental africana, notadamente na Tanzânia, Quênia e Somália.
Este foi o maior terremoto já registrado por um sismógrafo, tendo atingido 9,3 na escala Richter, com duração de falha de quase dez minutos. O impacto foi tão grande que mudou a posição do polo Norte em 2,5 cm e tornou a Terra mais arredondada e um pouco mais rápida.
O saldo final foi de quase 200 mil vítimas fatais, mais de 50 mil desaparecidos e 1,5 milhão de pessoas desalojadas.
Os animais das regiões afetadas, no entanto, começaram a agir de forma estranha dias antes do abalo sísmico principal. Há relatos de elefantes e macacos que se deslocaram para locais mais altos.
Animais domésticos também sentiram a aproximação da calamidade: pessoas da cidade e do campo relataram a órgãos de imprensa que cães, gatos, bois e carneiros se mostraram inquietos e angustiados antes da tsunami. Muitos pets fugiram de casa.
Muito tempo antes, em 373 AEC, outro terremoto destruiu completamente as cidades gregas de Hélice e Bura, ambas banhadas pelo mar Egeu. Ironicamente, Hélice possuía um templo dedicado a Poseidon, o deus do mar.
Historiadores da época relataram que, alguns dias antes da calamidade, ratos, doninhas, serpentes e outros animais desapareceram da região, colocando-se a salvo da destruição provocada pelo terremoto. As ruínas de Hélice só foram reencontradas em 2001, por um projeto arqueológico que consumiu mais de uma década.
Mais evidências
O peixe-remo, também conhecido como regaleco e arenque-rei, é um animal que pode atingir 11 metros de comprimento. Ele prefere as águas profundas, a mais de 600 metros de profundidade, raramente sendo encontrado na superfície.
Na Antiguidade, o peixe-remo era considerado uma espécie de monstro marinho: imenso, com formato de serpente e uma longa crista vermelha que percorre a cabeça e o dorso. Além de monstro, era tido como portador de maus presságios: sempre que as redes capturavam um peixe da espécie, calamidade terríveis, como maremotos e ondas gigantes, assolavam o local.
Em 2019, três peixes-remo caíram nas redes: dois no Peru e o terceiro no Japão. Efetivamente, abalos sísmicos aconteceram na costa oeste da América pouco depois, desde o Chile até o sul da Califórnia – nesse Estado americano, o abalo registro 7,1 na escala Richter, o mais forte dos últimos 20 anos.
Não houve mortes, mas danos em edifícios, incêndios, rompimento de um gasoduto e até mesmo algumas atrações da Disneylândia tiveram de ser fechadas temporariamente.
Evidentemente, o peixe-remo não tem nada de maléfico. Nadando em águas profundas, ele percebe alterações atmosféricas. Quando ocorre um terremoto, as placas tectônicas se movem bruscamente e provocam deslocamento de grandes quantidades de água. Os peixes locais buscam a tona d’água para se proteger.
Tubarões fazem um movimento semelhante: eles buscam águas abertas, longe da costa, quando percebem as alterações atmosféricas – como a queda da pressão no ar.
Este fato foi observado em 2004, quando o furacão Charley se aproximou da Flórida (EUA), provocando quase 30 mortes e prejuízos estimados em US$ 16 bilhões e também em 2007, quando a tempestade tropical Gabrielle se aproximou da Carolina do Norte (EUA), sem causar mortes; desta vez, no entanto, os peixes eram monitorados por um instituto de pesquisa, que comprovou a “fuga dos tubarões”.
Verdade ou mito?
Não se pode dizer que os animais domésticos e selvagens tenham um sexto sentido ou algum tipo de faculdade mediúnica que permita prever calamidades naturais. Estas questões pertencem às crenças individuais e não são objeto de estudo da ciência.
Os animais, todavia, utilizam os sentidos com muito mais eficácia do que os humanos. Acostumados ao conforto da civilização, nós deixamos de perceber os sinais da natureza: ventos, luzes, vibrações irregulares, movimento irregular das marés, além dos óbvios trovões, relâmpagos e ondas gigantes prenunciam desastres.
Quase sempre, porém, nós estamos protegidos – em casa ou em qualquer outro lugar. Os animais de estimação, mesmo que estejam a salvo de uma tempestade um de um ciclone, não sabem nada sobre a estrutura das nossas edificações.
Por isso, eles ficam atentos aos sinais e reagem da forma que consideram apropriada. Além disso, eles conseguem ouvir sons que para nós são inaudíveis. Assim, se um temporal está caindo a quilômetros de distância, cães e gatos, entre outros, percebem as mudanças e tratam de se pôr a salvo.
Muitas vezes, contudo, as tempestades nem chegam a nos alcançar. Na maioria das ocorrências, mesmo que nos alcancem, é quase certo que estaremos protegidos – nós e nossos pets. Mas os animais continuam atentos às informações da natureza.
Radares naturais
Muitas espécies animais, como as aves e os morcegos, são capazes de captar oscilações no campo magnético – sinais de que os riscos de erupções vulcânicas, terremotos, maremotos, furacões e tempestades são iminentes.
Os elefantes, por exemplo, são capazes de captar ondas infrassônicas, abaixo dos 20 Hz – que não são captadas pelo ouvido humano. Estas ondas são geradas sempre que há deslocamento atmosférico súbito, como no caso das tsunamis.
É o caso também de raios, quedas de meteoros, atividade vulcânica, movimentação de icebergs e terremotos. Todos estes cataclismas geram ondas intensas, que podem ser captadas por baleias, hipopótamos, rinocerontes, diversas espécies de aves e, felizmente para nós, por cães e gatos.
Quando, em 2004, os elefantes de Sri Lanka, um país insular ao sul da Índia, detectaram vibrações de baixa frequência vindas do leste, eles não perceberam exatamente a aproximação da onda gigante, mas sabiam instintivamente que tinham de fugir. Outra teoria afirma que eles não captaram vibrações, mas os odores dos gases do subsolo liberados com a movimentação das placas tectônicas.
Diversos centros de controle de emergências, pelo mundo todo, estão pesquisando as habilidades dos animais em prever – ou sentir – a aproximação de calamidades naturais. É possível que esta expertise seja útil, em um futuro próximo – na prevenção ou atenuação dos desastres.
Todos nós desenvolvemos sentidos apurados, que nos permitem escapar dos caçadores. Os humanos, no entanto, na imensa maioria, deixaram de usar a audição e o olfato, por exemplo, para captar a presença de predadores, simplesmente porque não há predadores nas imediações.
Se for realmente possível prever com alguma margem de segurança a ocorrência de desastres naturais, teremos mais uma vez de agradecer aos animais por prestarem este serviço, para o qual os nossos sentidos já não são eficientes.
Os céticos, no entanto, continuam de plantão. Em 2019, a United States Geological Survey reafirmou a posição oficial da agência, de que, mesmo existindo casos documentados de comportamento animal estranho antes de terremotos, uma conexão entre esse comportamento específico e a ocorrência de fato ainda não foi feita.
Os animais conseguem prever calamidades naturais? A pergunta continua no ar. Por mais que pareça óbvia, esta capacidade dos nossos colegas de planeta ainda não foi comprovada. Talvez o correto seja trocar o verbo “prever” por “antecipar”.
Evidências surgem quase diariamente, mas a comprovação ainda está por ser feita.
De certo, por enquanto, nós já sabemos que, entre outros animais, cães e gatos captam frequências infrassônicas e alterações magnéticas, conseguem perceber as nossas variações de humor, são capazes de detectar tumores malignos (pelo olfato), encontram refúgios seguros e identificam a aproximação da chuva.