Como saber qual é a raça do meu cachorro?

Se você tem dúvida, provavelmente ele é um SRD. Mas existem dicas para descobrir a raça do cachorro.

Saber a raça do cachorro tem algumas vantagens, como conhecer as deficiências orgânicas que ele pode ter herdado, os motivos pelos quais a raça foi desenvolvida — o que ajuda a entender o comportamento — e alguns possíveis defeitos de caráter.

Muita gente também compra um filhote certo de que ele é de raça para, em alguns meses, descobrir que se trata de um SRD (sem raça definida).

O único problema, nestes casos, seria acreditar que estava adotando um pinscher, mas, na verdade, estava acolhendo um doberman pinscher. Se o pet tiver sido levado para uma kitinete, certamente haverá confusão.

Raças e pedigrees

As raças foram desenvolvidas pelos nossos ancestrais durante os muitos milênios de convivência entre humanos e caninos. Nós criamos cachorros imensos e miniaturazinhas como os chihuahuas.

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Ensinamos alguns a caçar, outros a enfrentar inimigos poderosos para defender rebanhos. Alguns escalam montanhas para resgatar vítimas de avalanches. Outros mergulham sem medo, mesmo em águas geladas, para apanhar uma presa abatida ou salvar uma  pessoa que estava se afogando.

Como saber qual é a raça do meu cachorro?

É para isto que servem as raças. Nós diversificamos as nossas atividades e os cachorros nos acompanharam. Grandes, pequenos, peludos, carequinhas, agressivos, defensores, acompanhantes e até terapeutas.

Apesar de lindos, os cães de raça não são em nada superiores aos pets SRD. Ao contrário: os mestiços, que obviamente surgiram depois dos puros, é que agregam qualidades de duas raças (ou três, ou quatro, ou cinco  — tudo depende da história da linhagem).

O pedigree é um documento oficial que atesta a raça, nome pet e dos ascendentes, linhagem (até pelo menos a terceira geração), títulos conquistados pelos ancestrais, nome do tutor, canil onde foi gerado, etc.

Trata-se de um documento importante, especialmente para quem quer dedicar-se às exposições e competições oficiais ou a criação e fortalecimento de uma raça canina. Para os cachorros, porém, tanto faz. Eles não sabem que são de raças diferentes — e muitas vezes nem percebem que são de tamanhos diferentes. Quem nunca viu um buldogue francês ameaçar (ou pelo menos irritar) um dogue alemão?

Dicas para saber a raça do cachorro

Seja como for, todos nós temos o direito de saber qual é a raça do nosso cachorro. Se não servir para nada, será uma boa brincadeira de detetive. Portanto, vamos dar início à operação identificação do doguinho (ou dogão).

1) Confira o porte do seu cachorro.

O porte de um cão é sempre semelhante ao de seus pais e avós. Geralmente, as diferenças anatômicas prejudicam ou até mesmo impedem o cruzamento. Os filhotes tendem a ficar com o porte da mãe, com diferenças máximas de 20% no peso e na altura, para mais ou para menos.

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A incógnita fica por conta dos cães SRD muito mestiçados. Nestes casos, parte dos filhotes pode nascer com as características genéticas que não se revelaram durante gerações. Mesmo nascendo com baixo peso, eles podem crescer rapidamente a atingir um porte que não lembra em nada o dos pais.

Os cães de raça “repetem” o padrão genético, que é transmitido de geração. Confira o peso do pet:

* entre 1,5 kg e 4,5 kg, ele é do tipo mini. A raça pode ser chihuahua, pinscher, papillon, poodle toy, boston terrier ou shih tzu;

* entre 4,5 kg e 20 kg, trata-se de um cão de porte médio. Pode ser um terrier, spitz, dachshund. Quanto mais próximo dos 20 kg, talvez seja um farejador ou apontador. Se ele for alto e magro, com o corpo esgalgado, há evidências de que pode ser um lebréu;

* acima dos 20 kg e até 45 kg, é quase certo que seja um pastor, boiadeiro ou retriever. É certo que se trata de um animal de grande porte;

* acima de 45 kg, estamos diante de um molossoide: são bernardo, Komondor, mastiff inglês são boas indicações.

Lembre-se, mais uma vez, que os vira-latas podem atingir os mais diversos portes. Tudo depende das raças que se cruzaram para produzir a linhagem. Há cães SRD que 2 kg a 90 kg. Os mestiços de porte médio são os mais difíceis de identificar.

2) Tente identificar o temperamento e as características gerais.

A Federação Cinológica Internacional ( FCI), entidade sediada na Bélgica que congrega associações e clubes de cachorros de todo o mundo, classifica os cachorros em dez grupos:

* pastores e boiadeiros – eles são protetores, fortes, velozes, resistentes à chuva e ao frio. Além disto, apresentam pelagem bicolor clara (era necessário que eles pudessem ser identificado a distância). São bastante independentes, uma vez que passavam longos períodos longe da companhia humana, e convivem bem com outros animais;

* molossoides, pinschers e schnauzers – são os cães de guarda e os trabalhadores em geral. Territorialistas e independentes, costumam obedecer principalmente a uma única pessoa. Já foram usados para tração de carroça e trenós; por isto, tendem a ser fortes e musculosos. São bem ajustados e focados;

* terriers – são pequenos e obedientes. A sua função original era caçar “em terra”, isto é, em quintais, jardins e tocas. São rateiros e exterminadores de praga. Bons companheiros — afinal, sempre viveram perto da família e das crianças —, costumam ser bastante amorosos. Não comem muito, já que se acostumaram a viver em casas com poucos recursos, mas são gulosos;

* dachshunds – fazem parte deste grupo os bassês e os teckels. Empregados na caça miúda, são bons detetives — uma de suas funções era encontrar a entrada de todas de coelhos, marmotas, etc. São dotados de excelente olfato e visão. Tendem a ser individualistas, uma vez que não foram acostumados a caçar em matilha. O corpo alongado era a “arma” para esgueirar-se em qualquer lugar;

* spitz e cães do tipo primitivo – são também conhecidos como “cães nórdicos”. Apresentam pelagem dupla (pelo e subpelo) e espessa. As orelhas são triangulares e a cauda é pontuda, portada sobre o tronco. Estes cães só física e psicologicamente semelhantes aos lobos. Gostam do frio e locomovem-se na neve com facilidade. Eles preferem a companhia da matilha e, em casa, gostam de ficar com a família. São inteligentes, mas independentes e teimosos,

* farejadores e assemelhados – resistentes, dotados de faro apurado e praticamente incansáveis, perseguem uma presa (ou uma bolinha) até encurralá-la. Também são cães de matilha — e de família. Estes sabujos parecem dotados de um sexto sentido especial, que os faz perceber quando os tutores estão tristes ou preocupados. São encontrados em diferentes portes, do bloodhound ao beagle;

* apontadores – são silenciosos e focados. Por isto, gostam de passar um tempo sozinhos. Foram criados para apontar a caça — isto é, indicar em que direção ela seguiu. Os apontados, como o pointer e o weimaraner (conhecido não por acaso como “fantasma cinza”) latem pouco e parecem ter o dom da invisibilidade;

* retrievers e levantadores – estes são bagunceiros, extrovertidos e extremamente úteis, ainda que parte deles, atualmente, prefira uma boa almofada no sofá. São os labradores, golden retrievers, poodles e cocker spaniels, entre outros. Nas funções originais, eles não recusavam um mergulho no mar ou lagoa ou uma exploração em pântanos lodosos. A curiosidade continua presente nas raças;

* animais de companhia – em épocas nas quais o homem era mais utilitarista (ou egoísta, em bom português), eles provavelmente teriam sido exterminados. São cães de companhia, que não desenvolveram grandes habilidades como trabalhadores. Alguns eram companheiros de monges, como o shih tzu e o Lhasa apso, e não precisavam ganhar o pão de cada dia com o suor do rosto. Em compensação, desenvolveram habilidades únicas de convivência: são amorosos, leais, manhosos, gostam de exibir fragilidades que geralmente não têm. Ganharam-nos pelo coração;

* galgos e lebréis – são grandes velocistas, os Usain Bolt do mundo canino. Muito cedo, no entanto, trocaram a caça miúda (a palavra “lebréu” deriva de lebre) pelos salões da nobreza europeia, onde aprenderam a ser elegantes. Sãos os whippets,

afghan hounds, galgos ingleses e espanhóis, borzóis, greyhounds e outros. Bastante independentes, não costumam aceitar adestramento além dos comandos básicos.

Mais pistas

Siga buscando detalhes. As orelhas são importantes. Caídas e leves podem indicar que estamos na presença de um cocker spaniel – faltaria identificar se é um exemplar inglês ou americano.

O focinho também traz informações. Os cães de focinho curto e cara achatada (chamados braquicefálicos) são das raças: pequinês, buldogue (inglês ou francês) e boxer, além de outra menos conhecidas no Brasil.

A cana nasal (depressão que nasce entre os olhos e segue até o focinho) precisa ser analisada. Outros detalhes também precisam ser checados:

*  pelagem – verifique a cor, a textura (se é sedosa, brilhante, seca ou áspera), a presença de subpelo (uma espécie de penugem rente à pele). Algumas raças apresentam o sobrepelo alongado, ondulado, cacheado, etc. Tudo isto fala muito sobre a raça;

* a cauda pode ser portada deitada (próximo às pernas), sobre o dorso, em penacho (fazendo círculos sobre o corpo). Um apontador, por exemplo, mantém a cauda retesada, em linha com o dorso, quando quer chamar atenção para alguma coisa diferente;

* o formato da cabeça, que pode ser arredondado, pontudo, retangular, côncavo. Um cocker inglês apresenta cabeça arredondada, enquanto a de um pointer é côncava;

* confira as pernas. Em algumas raças, as dianteiras são mais altas. Em outros, apresentam praticamente a mesma altura. Lateralmente, o visual das pernas e tronco pode formar um quadrado ou um retângulo;

A partir destas características, é possível identificar o grupo canino a que pertence o “suspeito”. Com este “conjunto probatório”, um bom catálogo de raças será suficiente para identificar a raça do cachorro.

Se nada disto fornecer um resultado satisfatório, apenas avaliações genéticas poderão identificar a raça do cachorro. Isto porque cada cão tem um DNA único e, a cada vez que gera um filhote, transmite características exclusivas.

O mapeamento do DNA canino, no entanto, só é possível em animais de raças puras, uma vez que miscigenação aumenta exponencialmente a informação genética, mesmo que ela não se traduza no fenótipo (a aparência do animal analisado).

Por isto, é virtualmente impossível identificar a carga genética de um vira-latas, especialmente quando a família apresenta uma longa trajetória de cruzamentos não planejados.

Quem diria, os cães SRD são mais complexos do que os animais de raças puras. Este é um dos motivos por que ele apresenta, na maioria das vezes, um quadro geral de saúde mais satisfatório. A menos, claro, que ele viva nas ruas, mal alimentado e sem nenhum apoio humano.

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