Furúnculos em cães não são um problema incomum.
Quando eles surgem, é muito comum que os tutores, ao perceberem que o pet está inquieto e sentindo dor, ministrem analgésicos. Os furúnculos são realmente dolorosos, mas este tratamento é ineficaz.
Existem também os riscos de intoxicação por medicamentos. Não medique o seu pet por conta própria, não repita remédios receitados em ocasiões anteriores – porque pode se tratar de outro transtorno – e principalmente nunca ministre drogas que “fizeram bem” para o cachorro do amigo ou do vizinho.
As causas dos furúnculos em cães
A maioria dos furúnculos que aparecem em cães é causada por inflamações nas glândulas sebáceas, mas a origem também pode estar em uma infecção mais profunda, em uma intoxicação sanguínea ou mesmo em alguma deficiência nutricional.
A principal característica do furúnculo é a formação de um abscesso, um nódulo endurecido ao toque, avermelhado e quente, com uma área amarelada no centro, indicativa da presença de pus. O tamanho varia de acordo com a profundidade dos tecidos orgânicos afetados.
Os furúnculos costumam surgir em áreas da pele mais expostas à umidade, pressão ou atrito. As ancas são as regiões mais afetadas pelo problema em cachorros, mas os abscessos podem aparecer em qualquer local.
O distúrbio também pode ser causado pelo uso prolongado ou inadequado de pomadas e produtos de higiene gordurosos, que facilitam a obstrução dos poros e dos folículos pilosos.
A evolução do quadro geralmente é benigna: os furúnculos tendem a desaparecer em alguns dias. Podem surgir algumas complicações, especialmente quando os abscessos são manipulados sem os cuidados necessários. “Espremer” furúnculos, como algumas pessoas fazem com espinhas, quase equivale a pedir para que o problema se agrave.
As complicações
Alguns furúnculos merecem maior atenção. Quando eles surgem na região dos olhos, orelhas e ouvidos, a infecção pode espalhar-se por vasos sanguíneos locais que também se comunicam com órgãos do sistema nervoso central.
Furúnculos causados por bactérias (em especial, Staphylococcus aureus) podem ser um sintoma de que a infecção se alastrou por outros tecidos e atingiu a corrente sanguínea, podendo ser transportada para órgãos importantes, como o coração e os ossos.
As bactérias presentes no pus dos furúnculos podem migrar para o interior de folículos pilosos (onde nascem os pelos), mesmo mais distantes e desencadear uma foliculite, com o aparecimento de lesões múltiplas na pele.
As infecções também podem ocorrer apenas sob a pele e comprometer diversos folículos pilosos próximos uns aos outros, formando um bloco único e profundo, com vários focos de pus. Este transtorno recebe o nome de carbúnculo e surge mais frequentemente na região da cernelha.
O Staphylococcus aureus está presente naturalmente nas mucosas (conjuntos formados por epitélio e tecido adiposo que reveste as cavidades úmidas do corpo) dos cachorros, mas, em excesso, causa problemas de saúde. A bactéria pode ser transmitida a humanos, mas, como também é comum em nosso organismo, não se trata de uma zoonose.
Piodermite canina
O S. aureus (e outros micro-organismos do mesmo gênero) é o responsável pelo maior número de casos de foliculite (a inflamação dos folículos pilosos) – e um dos sintomas é o desenvolvimento de furúnculos na pele dos cães. A piodermite canina é provocada por estas bactérias e trata-se de uma infecção oportunista, que surge quando o sistema imunológico dos pets está debilitado.
Com o sistema imunológico deprimido, as bactérias proliferam excessivamente, causando distúrbios. A piodermite canina é classificada em três tipos, de acordo com a extensão da lesão: externa, superficial e profunda. Neste caso, os furúnculos se espalham pela pele do pet.
Esta forma de foliculite pode provocar:
- perda localizada de pelos;
- descamação da pele;
- formação de pápulas (pequenas bolinhas avermelhadas), pústulas (furúnculos) e crostas cicatrizadas;
- vermelhidão e coceira.
A perda de pelos surge em função da obstrução dos folículos pilosos pelo pus dos furúnculos e também pelas coçadelas, mordidas e lambidas que o cachorro dá em si mesmo, na tentativa de se livrar da dor e do incômodo.
A piodermite canina não é contagiosa. Trata-se de uma infecção oportunista, causada por micro-organismos que colonizam naturalmente as mucosas do cachorro. Outros animais que convivem com o pet afetado só desenvolverão o problema se também estiverem imunodeprimidos.
O diagnóstico é obtido através da avaliação clínica e de uma série de testes, como raspagem cutânea, cultura de fungos e bactérias, identificação de outros parasitas e até mesmo uma biópsia, caso o veterinário suspeite de distúrbios mais graves.
O tratamento
Em geral, os furúnculos são absorvidos pelo organismo e as substâncias tóxicas são eliminadas gradualmente, sem necessidade de qualquer procedimento médico: a pele da região se rompe quase imperceptivelmente e libera o pus.
Em casos mais sérios ou prolongados, o diagnóstico do furúnculo é feito através de exame clínico e, caso não haja intercorrências (febre, desidratação, diarreias e vômitos, etc.) que indiquem uma infecção de maior gravidade, o tratamento pode ser feito no consultório do veterinário.
Em caso de dor forte, ou quando os furúnculos não cedem em cinco a sete dias (o prazo é menor em cachorros de pequeno porte), pode ser necessária a intervenção veterinária. Existem produtos tópicos que irritam o foco infeccioso, estimulando o rompimento.
Nas infecções maiores e/ou mais profundas e persistentes, pode ser necessário lancetar a região do furúnculo. Com a perfuração, a pele da área afetada elimina em pouco tempo o pus e o tecido necrosado subjacente (conhecido como carnegão).
O tratamento do carbúnculo é semelhante, mas quase sempre, depois de diagnosticado, o veterinário recomenda o procedimento cirúrgico, uma vez que é considerável o risco de que a infecção se espalhe pelo organismo.
Em todos os casos, a dor cessa quase imediatamente assim que o furúnculo se rompe (a região permanece dolorida por alguns dias). A cicatrização pode deixar cicatrizes mais ou menos extensas, especialmente nos casos de carbúnculos.
De acordo com a extensão do dano no tecido epitelial, pode ser necessário complementar o tratamento com antibióticos e anti-inflamatórios, para destruir definitivamente as colônias dos agentes etiológicos. O uso de antibióticos pode se estender por até três semanas.
Os furúnculos podem ser prevenidos com o uso de produto específicos. Além de sabonetes e xampus, há disponíveis no mercado cremes, aerossóis e géis, mas estes itens devem ser aplicados apenas com orientação do veterinário.
Em casos recorrentes, desde que seja constatado não haver comprometimentos maiores à saúde e ao bem-estar do pet, o veterinário pode recomendar medicamentos tópicos e compressas de água quente, que podem ser aplicadas em casa. O calor úmido das compressas acelera o processo de drenagem espontânea.
Quem prefere tratamentos caseiros pode banhar a região afetada pelos furúnculos com uma infusão de linhaça e painço (na mesma proporção) aplicada morna. Este procedimento, que acelera o metabolismo do pet, só deve ser realizado se houver certeza de que não há uma infecção persistente no organismo do animal.
Também é necessário avaliar a dieta do cachorro, para verificar se não há excesso de gorduras nas refeições, fato que pode facilitar o desenvolvimento dos furúnculos. Nestes casos, substituir a ração é suficiente para eliminar eventuais problemas futuros.
Recomendações
- Nunca esprema os furúnculos. Se eles persistirem por três dias ou mais, leve o pet para o veterinário.
- Caso sejam receitados tratamentos para serem aplicados em casa, certifique-se de estar com as mãos limpas e higienizadas antes de tocar na pele do cachorro adoentado.
- Não ofereça alimentos humanos para o seu pet. Nossa comida é rica em sódio e em gorduras – quase tudo o que comemos é preparado, pelo menos, com óleo vegetal. O sódio prejudica o equilíbrio hídrico do organismo e as gorduras estão associadas a diversas doenças – de furúnculos simples a casos de obesidade mórbida, com todas as suas complicações.
- Troque regularmente a roupa de cama do seu pet, para evitar umidade e proliferação de bactérias e fungos.
- Não negligencie a higiene do seu peludo. Dê banhos regulares e enxugue o pelo completamente, para evitar pontos de umidade. A falta de banhos causa acúmulo de sujeira e sebo na pele, que podem obstruir os poros e folículos pilosos.
- Se as lesões forem recorrentes, pode ser necessário o uso de um colar elisabetano, para que o cachorro não coce nem morda a região afetada, ferindo a própria pele.
- Use os enfeites e roupas que quiser no seu pet, mas não abuse: peças apertadas ou de material sintético podem impedir a respiração da pele e facilitar o acúmulo de umidade e sebo na pelagem.
Aviso importante: O nosso conteúdo tem caráter apenas informativo e nunca deve ser usado para definir diagnósticos ou substituir a consulta com um veterinário. Recomendamos que você consulte um profissional de confiança.