Pesquisa sugere que humanos preferem cachorros a crianças

O estudo foi realizado com “millennials”, nos EUA. Será que os brasileiros também preferem cachorros?

Um estudo desenvolvido nos EUA nos últimos três anos indica que os millenials preferem cachorros a crianças. Millennials é uma classificação sociológica que abrange os nascidos entre o final da década de 1980 e a década de 1990 – são jovens que cresceram com a presença da internet.

A pesquisa poderia indicar que alguns valores tradicionais – como a família, por exemplo – estão sofrendo transformações profundas. Afinal, 62% das mulheres e 71% dos homens americanos nesta faixa etária são tutores de cães (35% das mulheres e 48% dos homens vivem com gatos). Quando pensam em “família”, a maioria deles inclui os pets e deixa os bebês de fora.

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A pesquisa

Seria uma nova estrutura social? Em caso positivo, os brasileiros jovens também estariam dando preferência aos cachorros, em detrimento dos bebês? Ainda é cedo para afirmar ou negar, mas transformações podem ser sentidas em todas as gerações.

O estudo foi realizado através da internet – não foram utilizados entrevistadores em contatos físicos – o que reduz o universo dos pesquisados. Mesmo nos EUA, apenas dois terços da população tem acesso à rede mundial.

Os resultados, no entanto, poderiam ser replicados no Brasil, que possui mais de 118 milhões de pessoas conectadas. O problema é que o estudo está sendo patrocinado pelo White Mountain Group (WMG), um conglomerado de empresas voltadas ao universo pet.

Há, portanto, conflitos de interesses. Evidentemente, fabricantes de rações e produtos para animais de estimação tendem a favorecer o seu próprio mercado. Mas o fenômeno tem outras explicações.

Bebês ou cachorros?

De acordo com a pesquisa, os millenials estariam substituindo bebês por cães (e, em menor medida, também por gatos). Mas há outros motivos para preferir os peludos. A começar pela recessão econômica, que reduz as possibilidades financeiras há cerca de uma década.

Os jovens americanos estão fazendo contas. Ter um animal de estimação nos EUA é caro, mas criar uma criança exige um investimento muito maior. Os millenials estão adotando pets mais cedo: por volta dos 21 anos, contra os 29 anos dos baby boomers – a geração nascida depois da Segunda Guerra Mundial, incentivada por diversas políticas de aumento da natalidade, especialmente na Europa.

Estima-se que uma jovem americana, entre os 18 e 24 anos, consiga economizar US$ 16 mil por ano, se decidir viver com um cachorro – e não com uma criança. Em sete anos, a poupança ultrapassaria os US$ 110 mil (R$ 620 mil, pela cotação atual): um belo pé-de-meia para dar início à vida adulta.

O fato principal para a valorização da adoção de cães e gatos é que, na mesma época em que os millenials estavam nascendo, ocorreu uma transformação profunda na forma de encarar os pets. Hoje em dia, cães e gatos são animais basicamente de companhia.

Eles vivem dentro de casa, partilham todos os momentos domésticos e há muito deixaram as atividades para que as raças foram desenvolvidas. Esta maior proximidade física e emocional reforçou ainda mais os laços de afeto existentes entre humanos e caninos (e felinos). Os jovens que atualmente estão na casa dos 20 anos cresceram com cachorros participando ativamente da vida familiar: é natural, portanto, que eles encarem os peludos de uma maneira mais sentimental.

Enquanto isso, no Brasil

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os lares brasileiros já têm mais animais de estimação do que crianças. Não apenas bebês, mas todos os membros da família com até 12 anos.

Dados coletados pelo IBGE em 2013 (última informação disponível) indicam que, de cada cem famílias, 44 criam cachorros e 36 têm crianças em casa. Reunindo os gatos e outros pets, estima-se que mais de 100 milhões de brasileiros tenham animais de estimação. O mercado pet movimenta, a cada ano, R$ 16 bilhões.

Isso, contudo, não reflete uma preferência, mas as melhores condições de planejamento familiar, a presença da mulher no mercado de trabalho (menos disponível, portanto, para criar filhos às pencas) e o aumento da renda familiar (verificado nos primeiros anos do milênio).

A sociedade brasileira, ainda vista no plano internacional como conservadora e distante da modernidade, indica que viver com cachorros e outros pets talvez seja uma forma mais humana de encarar a vida.

Sem deixar as crianças de lado, mas planejando os nascimentos para que cada vez menos seres cheguem ao país (e ao planeta) sem condições de viver com dignidade. O estudo indica uma tendência, mas, se houver colaboração, há espaço para bebês e cachorros.

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