Algumas pessoas são percebidas como amigáveis e, por isso, atraem os cachorros. Saiba por quê.
Será que algumas pessoas são mesmo capazes de, mesmo de forma não intencional, atrair os cachorros? Os nossos peludos, amigos incondicionais, ficam contentes na nossa presença, fazem festa e lambem as nossas mãos.
Às vezes, no entanto, eles repetem estes gestos mesmo com pessoas estranhas. O motivo principal é que os cachorros percebem essas pessoas como “membros da matilha” – indivíduos que devem ser protegidos. Mas, seria possível avaliar o caráter a partir dessa proximidade?
A linguagem dos cachorros
Os cães não desenvolveram uma linguagem oral. Por isso, eles se comunicam através de gestos e sons que podem ter uma série de significados distintos. Quando um cachorro se reencontra com o tutor, ele quase sempre se sente muito feliz.
As maneiras de demonstrar esta alegria variam de indivíduo para indivíduo, mas quase todos abanam o rabo, lambem as mãos e tentam algum contato físico direto – os mais atrevidos chegam a pular nas pessoas de quem eles gostam.
É como se eles estivessem dizendo: “Estou contente por ver você, eu senti a sua falta, que bom que você voltou”. Os animais mais independentes podem apenas latir e bater as patas no chão, mas a maioria faz questão de demonstrar o afeto de forma bastante efusiva.
Os cachorros fazem a mesma coisa com os membros não humanos da família: eles festejam a presença de gatos e aves, por exemplo, quando reconhecem a presença de um amigo. Este é um dos motivos por que os cães podem “dormir de conchinha” com o irmão gato, mas não toleram a presença do bichano do vizinho nem mesmo quando ele está em cima do muro.
Para os cachorros, o gato familiar não representa nenhum perigo. Ao contrário, ele é um anúncio de brincadeiras, carinhos, cochilos ou apenas de convivência pacífica. O gato do vizinho, por outro lado, é encarado como um intruso – e os cachorros sabem muito bem como devem se comportar na presença dos invasores.
Pessoas que atraem cachorros
Os cachorros sabem que crianças e idosos quase nunca representam uma ameaça: são seres que devem ser acolhidos e respeitados – talvez, como uma forma de bônus, eles também sejam bons parceiros de brincadeiras e correrias.
Os nossos peludos também conhecem muito bem o território da família e classificam os ambientes domésticos: liberados, franqueados com supervisão, tolerados em algumas situações ou totalmente vedados.
Assim, de acordo com as regras da casa, eles podem circular livremente em todos os cômodos, ou apenas na cozinha e no quintal; podem brincar e correr na sala de estar, ou apenas caminhar tranquilamente e deitar-se aos pés dos tutores.
Na hierarquia que eles estabelecem, os cachorros adultos e equilibrados sabem que podem entrar em uma sala ou quarto, que não devem forçar a passagem (quando uma porta está fechada, por exemplo) e qual é a conduta esperada para cada situação.
Praticamente todos os peludos assimilam estas normas sem problemas: é muito difícil identificar um cachorro medindo forças com os tutores (e, quando isso acontece, vários erros de treinamento ocorreram antes, muitas vezes por períodos prolongados).
Por isso, quando uma visita chega à casa, eles tendem a ser hospitaleiros, mas permanecem atentos aos mínimos movimentos. Os cachorros não gostam de pessoas que mexem nos objetos de decoração, ou se “prontificam” rapidamente a ajudar na cozinha (sem serem chamadas, obviamente).
Os cães também seguem as atitudes dos membros próximos da família. Se os tutores se mostram ansiosos, irritados ou contrariados na presença de certas pessoas, os peludos interpretam os sinais e afastam-se delas.
Naturalmente, eles odeiam os prestadores de serviços, por não entenderem por que alguém está destruindo o banheiro, ou empesteando a sala com cheiros insuportáveis (de tintas e vernizes). Da mesma forma, carteiros quase sempre são sérias ameaças, que precisam ser contidas.
A conduta varia de acordo com a raça canina e as características individuais de cada peludo. Cães pastores e boiadeiros normalmente são mais zelosos e guardiães; os caçadores solitários ficam alarmados com muito movimento e barulho; os animais criados para guarda dificilmente permitem a presença de estranhos; e assim por diante.
Algumas pessoas, no entanto, conseguem burlar a vigilância canina. De alguma forma ainda desconhecida pela ciência humana, os cachorros percebem que elas não representam ameaças e riscos.
Ao contrário, os peludos entendem que essas pessoas são bons parceiros. Mesmo um cachorro com características mais agressivas e territorialistas pode se deitar, em plena caminhada diária, à frente de um estranho e deliciar-se com afagos e cócegas na barriga.
Um fato importante a ser considerado é que os cachorros só permitem afagos na barriga quando eles partem de pessoas em que eles confiam totalmente. Na comunicação entre dois cães, deixar a barriga à mostra é um sinal de rendição.
Em geral, durante os passeios, os cachorros tendem a ficar junto aos tutores, em atitude de proteção, guarda e defesa. Os cães conhecem o mundo basicamente através das experiências partilhadas com a família, com quem convivem e respeitam, pessoas em quem confiam plenamente.
Pessoas desonestas
O comportamento mais usual dos cachorros é desconfiar não apenas de pessoas estranhas, mas de qualquer situação que fuja à rotina. O equilíbrio canino se baseia na constância, na previsibilidade das ações cotidianas.
Eles ficam aflitos quando os tutores saem de casa, por exemplo, porque, na mente canina, ninguém se afasta da segurança da matilha voluntariamente. O “lá fora” é um lugar cheio de perigos e aventuras; na condição de defensor da família, ele entende que os parentes não devem se arriscar sozinhos na rua.
Já é sabido que os cachorros são capazes de interpretar expressões fisionômicas e gestos. Eles sabem quando um membro da família está triste, aborrecido ou simplesmente exausto – e pontuam as suas ações a partir desse reconhecimento.
Quando se deparam com estranhos, eles tendem a comparar as características – cheiro, tom de voz, modo de agir, etc. – com as atitudes dos membros da família. Quanto mais semelhantes elas sejam, mais seguros os peludos se sentirão.
Um estudo realizado em 2015, pela Universidade de Kyoto (Japão), mostrou que os cachorros são capazes de identificar atitudes desonestas. A pesquisa foi conhecida por Akiko Takaoka, especialista em comportamento animal.
Mais uma vez, é a previsibilidade que determina, para os cães, se uma pessoa é honesta ou não. Em condições normais, os gestos dos humanos são precursores de algumas atividades: ao pegar um frisbee, o tutor está indicando uma brincadeira; ao retirar a coleira pendurada atrás da porta, está sinalizando que a hora do passeio chegou.
As conclusões caninas são complexas e sofisticadas. Eles sabem, por exemplo, que tirar um brigadeiro da mesa de doces da festa de aniversário é uma atitude errada. Apesar de não emitirem nenhum juízo de valor, eles encaram a situação como irregular e podem “denunciar o crime”.
Da mesma forma, eles identificam gestos de pessoas desonestas, e isto vale não apenas para um visitante que resolva levar alguns objetos da casa como lembranças. Se a visita se mostra alegre e receptiva na frente do tutor, mas muda o semblante e a linguagem corporal quando o familiar se ausenta, o cachorro entende que o “forasteiro” não é confiável.
O estudo da universidade japonesa contou com 208 duplas de cães e tutores, que interagiram com mais de 50 estudantes voluntários. Alguns subtraíam peças do ambiente, outros modificavam a postura física e a voz na ausência do tutor.
Bons e maus
Os cachorros não categorizam os humanos (e outros animais com quem convivem) como “bons” e “maus”, a menos que as atitudes e reações sejam, no médio ou longo prazo, reiteradamente positivas ou negativas.
Por isso, eles não rotulam os tutores como “maus” quando os parceiros estão apenas cansados, desanimados, tensos ou irritados. Eles sabem que a conduta se modificará em pouco tempo, voltando à normalidade.
Eles podem não entender algumas recusas humanas, mas conseguem respeitá-las mesmo assim: afinal, são gestos do “alfa da matilha”, o líder do bando. Para um cachorro, a recusa ao colo pode ser ininteligível, mas é sempre acatada, desde que seja esporádica (quando estamos com uma roupa nova, por exemplo).
Mesmo assim, eles são capazes de identificar os mocinhos e vilões da história. Se o comportamento de uma pessoa é considerado inadequado, os cachorros tenderão a evitá-la, podendo inclusive se mostrar agressivos em relação a ela.
Isto explica o fato de um cachorro dócil e amigável não tolerar a presença de determinadas pessoas em casa – ou no trajeto do passeio. A atitude pode estar relacionada à postura corporal do estranho ou a algumas atitudes.
Por exemplo, os peludos “decifram” a disponibilidade para ajudar das pessoas com quem se relacionam. Se, em um passeio, o tutor está com dificuldades (está passando mal ou tem problemas para atravessar uma rua), os cachorros sabem, pela linguagem corporal, quais transeuntes estão dispostos a ajudar ou não.
As energias entre humanos e cachorros
Os laços que unem tutores e cachorros são muito fortes, profundos e duradouros. Mas, ao contrário dos humanos, que precisam acatar algumas regras sociais de conduta, os peludos são totalmente naturais: se eles gostam de alguém, fazem questão de demonstrar em qualquer momento e situação.
Determinadas correntes religiosas e filosóficas encaram os cachorros como seres dotados de dons espirituais, além das características físicas e emocionais. Trata-se de uma crença respeitável, apesar de não poder ser comprovada objetivamente.
Seja como for, de acordo com estas crenças, os cachorros teriam um componente espiritual moldando o seu caráter e personalidade, assim como os humanos e outros animais domésticos e de estimação.
Este componente seria responsável por emitir e captar algumas emanações, que seriam facilmente interpretadas pela mente dos peludos. Isto explicaria porque pessoas positivas, acolhedoras e amigáveis acabam atraindo os cães.
Crenças à parte, os cachorros são seres sencientes, assim como todos os vertebrados. Isto significa que eles são capazes de sentir alegria, tristeza, prazer, raiva, medo, desenvolvendo quadros de equilíbrio emocional – ou, por outro lado, de ansiedade, depressão e labilidade.
Na convivência com os humanos, que já dura alguns milênios, os cachorros aprenderam a “ler” os seus parceiros, antecipando as prováveis reações. Ao se depararem com pessoas amigáveis, eles rapidamente demonstram contentamento. Como regra geral, a atração é sempre mútua: pessoas boas atraem os cães e estes, que são sempre bons, atraem pessoas boas.