A adenovirose, ou hepatite infecciosa canina, é um transtorno metabólico que afeta cães e seus parentes selvagens, como os lobos, coiotes e hienas. O agente responsável pela transmissão da doença é o CAV-1 (sigla em inglês para adenovírus canino do tipo 1).
O CAV-1 é também o responsável pela encefalite nas raposas, doença que não atinge os cães domésticos. O vírus é transmitido através do contato com as secreções nasais e bucais e ae fezes de outros animais infectados, mesmo que estejam assintomáticos.
Apesar de não ser tão conhecida como outras infecções caninas, como a hidrofobia e a cinomose, a adenovirose canina é uma virose que inspira prevenção e cuidados. A doença não tem a morbidade de outras enfermidades, mas pode prejudicar a qualidade de vida dos pets e, sem tratamento adequado, pode levar à morte.
A transmissão
Animais saudáveis podem ser infectados pelo CAV-1 durante os passeios diários e no convívio com cães doentes, em quintais, hotéis para pets e mesmo em clínicas veterinárias. Nas suas interações, é comum que os pets cheirem as fezes dos “colegas”, além dos contatos diretos, nos quais é comum a “inspeção” do ânus, boca e focinho de outros cachorros.
Os adenovírus inalados ou engolidos se fixam nas amígdalas (tonsilas), estruturas presentes na garganta, em contato com a laringe e a faringe, que têm justamente a função de impedir a entrada de invasores biológicos (vírus, bactérias e fungos patogênicos) e mecânicos (poeira, pólen, etc.).
Nas amídalas, o CAV-1 se replica e posteriormente migra para os rins e o fígado do cachorro infectado.
Os vírus não apresentam capacidade autônoma de reprodução. Para a replicação, é necessário que eles invadam uma célula, capturem o DNA e aproveitem esse material genético para gerar novas cópias.
O CAV-1 se replica nas amídalas durante quatro a sete dias: é o período de incubação. Ao migrarem para os órgãos abdominais, as cópias do CAV-1 já são capazes de prejudicar o funcionamento dos órgãos.
Os animais com o sistema imunológico debilitado são mais suscetíveis a infecções em geral e à adenovirose canina em particular. Além da imunodebilidade determinada pela idade, a alimentação inadequada, más condições de higiene, isolamento e falta de exercícios físicos também são fatores que comprometem a imunidade.
Os sintomas da adenovirose canina
Os primeiros sinais da adenovirose canina são: febre, perda de apetite, tosse e dor (tensão no abdômen, com inchaço no lado direito. Os cães doentes podem se mostrar deprimidos, pouco dispostos a interagir com a família. De acordo com o temperamento, eles podem ficar agressivos ou amedrontados.
Nas horas seguintes à exposição ao CAV-1, os pets podem apresentar problemas respiratórios e febre alta e intermitente, que quase nunca são detectadas, por durarem pouco tempo. Entre os cães, temperaturas entre 38,5ºC e 41ºC são consideradas normais.
Nos dias seguintes, surgem sinais de insuficiência hepática: vômitos e icterícia são os sinais mais comuns (em cachorros, a icterícia se caracteriza pelas mucosas amareladas da boca e das narinas).
É igualmente comum o surgimento de edemas nas córneos, inchaços provocados pela retenção de líquidos no organismo. Estes sintomas são suficientes para procurar a ajuda veterinária.
É possível que o cão afetado pela adenovirose apresente encefalopatia hepática, quadro caracterizado por estados alterados de consciência. Surgem desequilíbrios motores e alterações de humor. O desenvolvimento dos sintomas pode ser gradual ou súbito e pode evoluir para um quadro de coma.
Em casos mais graves, em que não haja atendimento médico, os cães doentes podem apresentar hematomas na boca e no focinho, problemas de coagulação sanguínea, hemorragias nasais e orais, além de sangramentos nas gengivas.
Na maioria dos casos socorridos a tempo, os cães se recuperam com relativa rapidez. No entanto, dependendo da gravidade do caso, os animais podem desenvolver insuficiência renal e lesões permanentes nas córneas. Isso ocorre principalmente com os cães filhotes, idosos ou com o sistema imunológico comprometido por outras enfermidades.
Entre os cães filhotes, a adenovirose canina geralmente se apresenta na forma aguda, com prognóstico mais complexo. Os animais mais jovens podem apresentar choque circulatório, coma e morte em menos de 48 horas.
Os sintomas ópticos, especialmente os edemas de córnea, podem surgir também durante a convalescença. Muitos cães enfermos também apresentam blefaroespasmo, fotofobia e secreção ocular serosa. Estes sintomas tendem a ceder na medida em que a infecção vai sendo controlada.
Apesar de mais visíveis para is leigos, os sintomas ópticos raramente deixam sequelas e são facilmente controlados com a higienização dos olhos com água boricada duas ou três vezes por dia e a não exposição direta ao Sol.
Prevenção e tratamento da adenovírus em cães
As vacinas polivalentes (V8 e V10) imunizam os cães contra a adenovirose canina. A primeira dose deve ser aplicada a partir dos 45 dias de vida, com reforço depois de 25 dias. Alguns veterinários aplicam a vacinação dos filhotes em três etapas, principalmente para as raças de pequeno porte e para os animais abaixo do peso.
As primeiras vacinas, formuladas com o CAV-1 atenuado, nos anos 1970, não impediam as manifestações oculares, apesar de impedirem a hepatite infecciosa. As vacinas atuais utilizam i CAV-2 atenuado, que impede a adenovirose canina e as infecções secundárias.
O adenovírus do tipo 2 (CAV-2) é o agente responsável pela tosse dos canis, doença altamente contagiosa, caracterizada pela tosse intensa, queda da disposição física e deficiência respiratória. Esta condição também pode ser fatal.
Tanto a V10 quanto a V8 devem ser reaplicadas anualmente. Manter a carteira de vacinação em dia é a maneira mais simples e eficiente de garantir a boa saúde dos cães e gatos. Vale lembrar que a adenovirose canina não é uma zoonose: a doença não é transmissível para humanos. Existem subtipos específicos de adenovírus que infectam seres humanos, mas não há transmissão entre espécies.
Por se tratar de uma virose, a adenovirose canina não tem medicamentos para combater os vírus, mas os sintomas podem ser atenuados. Com o diagnóstico precoce, o veterinário poderá receitar:
- medicamentos antitérmicos;
- medicamentos antieméticos (combatem os enjoos e vômitos);
- fluidoterapia, para combater a desidratação e os desequilíbrios nutricionais (em infecções severas, a internação pode ser necessária);
- transfusão de sangue ou de plasma.
Mesmo que não haja necessidade de internação – quando a infecção é diagnosticada precocemente -, o animal doente não pode ter contato com outros cachorros. O ambiente precisa ser desinfetado, geralmente com soluções de iodo, fenol e hidróxido de sódio. A vaporização, com temperatura entre 50ºC e 60ºC, também é recomendada.
Aviso importante: O nosso conteúdo tem caráter apenas informativo e nunca deve ser usado para definir diagnósticos ou substituir a consulta com um veterinário. Recomendamos que você consulte um profissional de confiança.