Cachorro cururu é o nome dado para os portadores da síndrome da espinha curta. Saiba mais.
A maioria das pessoas desconhece totalmente a existência dos cachorros cururu ou sabem que eles existem através de muitos memes que circulam nas redes sociais. A expressão é usada para designar os cães portadores de uma doença rara: a síndrome da espinha curta.
A doença ganhou maior notoriedade graças a uma cachorra cururu que ganhou uma página no Facebook. Trata-se de Pig, uma fêmea que vive em Birmingham, no Alabama (sudeste dos EUA). Ela conquistou algumas centenas de seguidores. Nas redes sociais, Pig é chamada de “unusual dog” (um cachorro incomum).
O cachorro cururu
A síndrome da espinha curta (SEC) é uma condição genética definida basicamente como um encurtamento da coluna vertebral dos cães portadores. Sem espaço suficiente, o desenvolvimento da medula espinal provoca deformidades no pescoço e no dorso.
Com a SEC, os animais ficam parecidos com corcundas, com uma elevação mais ou menos saliente na altura da cernelha, região entre os ossos dos ombros e da base do pescoço. “Cururu” é um sinônimo arcaico para “corcunda”.
Os cachorros cururu também apresentam outras características comuns. A SEC determina um posicionamento irregular da garupa, que fica visivelmente muito mais baixa do que a linha superior do dorso.
A cauda dos cachorros cururus apresenta-se sempre retorcida, é curta demais para a raça e a espécie e, via de regra, os pelos são eriçados. Os membros, especialmente os anteriores, também podem sofrer deformações.
A caixa torácica também é afetada, parecendo estar comprimida entre os braços dos cães. As costelas apresentam aspecto achatado, mesmo em raças caninas nas quais se espera que elas se apresentem profundas ou “em barril”.
O dia a dia dos cães portadores de SEC também fica relativamente comprometido. O andar, correr e saltar se torna seriamente limitado. Os animais também apresentam dificuldade em baixar a cabeça até o nível do chão, o que atrapalha a alimentação.
A síndrome da espinha curta SEC é uma anomalia congênita que acarreta a má formação da coluna vertebral. Lembrando que a medula espinal percorre o interior das vértebras enquanto vai se subdividindo para formar o sistema nervoso periférico, o desenvolvimento nervoso é igualmente comprometido pela síndrome.
As vértebras afetadas pela SEC apresentam textura semelhante à de cartilagens: elas não atingem o estágio de endurecimento ósseo. Por isso, elas acabam ficam mais curtas, pressionadas por músculos e até mesmo pelos discos intervertebrais.
Em um dos animais diagnosticados com síndrome da espinha curta SEC, foi verificada a fusão de algumas vértebras na região do pescoço – três vértebras formam um único tubo, reduzindo drasticamente a flexibilidade da coluna e, com isso, comprometendo a elasticidade do dorso.
Os cachorros cururus já diagnosticados, contudo, não apresentam anomalias neurais. Não há sinais de paralisias, nem de comprometimentos motores ou sensoriais. A medula espinal se desenvolve de maneira normal, apesar de pressionada pela estrutura óssea seriamente comprometida.
Nenhum dos cachorros diagnosticados com SEC desenvolveu sequelas mais graves, além do desconforto na movimentação. Um deles tinha a cabeça permanentemente mantida para a lateral do corpo e, em outro caso, o posicionamento da escápula atrapalhava os membros dianteiros, mas os dois cães conseguiram se adaptar e encontrar maneiras de interagir, sem disfuncionalidades de destaque.
A doença é extremamente rara. De origem hereditária, ela não é transmissível por contato para outros cães, nem se configura como uma zoonose (doença presente em animais que pode prejudicar também os seres humanos).
É provável que muitos cães cururu portadores da síndrome da espinha curta SEC estejam espalhados pelo mundo, mas há poucos diagnósticos confirmados. A maioria dos casos está registrada nos EUA, especialmente na costa leste e no sudeste do país (Alabama, Flórida, Maryland, Nova York, Ohio e Wisconsin). há dois casos confirmados na Itália.
A síndrome é mais comum em cachorros de médio e grande porte. Com a coluna encurtada, a SEC também provoca a compressão de alguns músculos dos cachorros afetados, especialmente nas primeiras vértebras e na região das costelas. Nos animais adultos, o dorso se mostra encavalado, com uma corcunda mais ou menos saliente.
Os cães de raça parecem ser mais afetados pela SEC, o que indica uma origem recessiva da síndrome (é preciso que tanto o pai quanto a mãe, mesmo não sendo portadores, transmitam os genes responsáveis pela condição).
Um cachorro portador da SEC é capaz de levar uma vida quase normal. Os pouquíssimos casos conhecidos em que a coluna vertebral era demasiadamente curta resultaram em morte fetal; não há registro de nascimentos de cães inviáveis.
Há poucos relatos sobre animais com a condição, mas alguns tutores entrevistados afirmaram que eles não diferem em nada do comportamento esperado para os cachorros: são curiosos, ativos, divertidos, brincalhões, amorosos e muito leais à família.
Alguns veterinários chegam a sugerir a eutanásia para filhotes nascidos com SEC, por causa das restrições anatômicas que a síndrome provoca. No entanto, os tutores de cães com a anomalia afirmam que, com algumas adaptações, é possível garantir a qualidade de vida.
A principal justificativa pró-vida do cachorro cururu se baseia no fato de que os cães não percebem que são portadores de algumas limitações físicas. Um animal cego, por exemplo, não sabe que os outros cães têm o dom da visão. Um animal surdo pode imaginar que os sons simplesmente deixaram subitamente de existir.
Evidentemente, se eles ainda vivessem na natureza, precisando garantir alimentação, segurança e abrigo, as limitações (da SEC e de outras anomalias) provocariam acidentes e mortes. Na convivência com humanos, no entanto, a síndrome pode ser superada com certa facilidade.
É mais comum, no entanto, observar o abandono de cães portadores de SEC. Ao observar que os filhotes são “deformados”, muitos tutores simplesmente se livram do “traste inútil”, deixando-os em abrigos ou apenas soltando-os nas ruas.
Em resumo: a SEC é uma má-formação óssea de gravidade leve a moderada. A anomalia não compromete as funções da medula espinal; nos poucos casos de manifestações severas da síndrome, os fetos não vieram à luz.
Os cães portadores apresentam algumas dificuldades para subir em móveis, escalar obstáculos e abaixar a cabeça, mas esses problemas podem ser resolvidos com a instalação de degraus de acesso e de comedouros e bebedouros um pouco mais altos, no nível da cabeça.
Um caso da doença
Um cão resgatado nas ruas do Kentucky (sudeste dos EUA) foi abrigado pelo Second Hands Hounds, de Minnesota. Trata-se de um pastor alemão portador de SEC, que foi batizado de Quasímodo. O animal exibia o encurtamento característico do tronco.
Quasímodo passou por duas cirurgias de correção enquanto esteve abrigado. O Second Hands Hounds fez diversas postagens nas redes sociais, apresentando a evolução do animal. O interesse dos internautas disparou.
Com a repercussão, a Universidade da Califórnia resolveu adotar Quasímodo para estudar a sua adaptação aos meios em que os cães geralmente são solicitados. O pastor alemão se tornou um cão comunitário da faculdade de Veterinária e os estudos serão úteis para compreender melhor a SEC e as formas para atenuar as sequelas.