Cachorros insistem em viajar na ambulância para acompanhar seu tutor ao hospital

O tutor sofreu uma convulsão e os cachorros se recusaram a deixá-lo ir sozinho na ambulância.

Um coletor de material reciclável residente em Bauru (região centro-oeste de São Paulo) sofreu uma convulsão enquanto exercia o seu ofício, acompanhado pelos seus fiéis escudeiros: Chiara e Bob, dois cachorros sem raça definida.

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) foi acionado para socorrer o homem, mas a equipe de paramédicos se deparou com uma situação que prova, mais uma vez, a lealdade e dedicação dos cachorros aos humanos.

O resgate

José Antônio Pereira, de 47 anos, ganha a vida recolhendo material reciclável nas ruas de Bauru. Ele sofre com convulsões, mas, de acordo com relato à reportagem local, as crises são leves e de pouca duração.

Mas não foi isso que aconteceu no início de novembro de 2021. José Antônio caiu no chão enquanto trabalhava e perdeu os sentidos. Transeuntes chamaram o SAMU e o que poderia ser apenas mais um atendimento de rotina mostrou um lado curioso: a amizade canina.

Quando os paramédicos chegaram ao local indicado, José Antônio estava inconsciente e os cachorros Bob e Chiara mostravam-se aflitos com a situação do tutor. Duas socorristas prestaram os cuidados imediatos, mas o homem precisaria ser levado para avaliação médica mais detalhada.

Mas Chiara e Bob não pretendiam deixar o tutor sozinho, sendo levado por estranhos. Eles insistiram com as duas paramédicas, que não tiveram outra opção a não ser permitir que os cachorros seguissem na ambulância, ao lado de José Antônio, até a unidade de saúde mais próxima.

O atendimento

A aventura da equipe teve início com uma chamada para socorrer um homem desmaiado no Jardim Ivone, na zona norte de Bauru. De acordo com a enfermeira-chefe do SAMU, Patrícia Antunes, uma ambulância foi deslocada no início da tarde de 01.11.21.

No local, as paramédicas Josiane Plana e Maria de Lourdes Pereira encontraram José Antônio caído no chão. Ele recuperou os sentidos aos poucos, mas estava confuso. No entanto, era difícil se aproximar da vítima, porque os cachorros avançavam em todos que tentavam ajudá-la.

O coletor de material reciclável disse o nome dos cães – Bob e Chiara – e as profissionais conseguiram finalmente acalmá-los. Ao colocarem a vítima na maca, no entanto, Josiane e Maria de Lourdes viram os animais se posicionarem ao lado do tutor.

Quando José Antônio foi acomodado na ambulância, Bob e Chiara pularam para dentro da viatura, montando guarda. Os dois peludos não davam mostras de que deixariam o tutor ser levado sem que eles o acompanhassem.

As socorristas não tiveram opção. Elas enviaram uma foto mostrando a situação para a enfermeira-chefe e informaram que não tinham alternativa para transportar a vítima, a não ser levar os cachorros junto com a vítima.

Maria de Lourdes e Josiane estavam certas. Caso tivessem sido deixados na rua, provavelmente Bob e Chiara perseguiriam a ambulância, correndo o risco de serem atropelados. De qualquer maneira, ninguém poderia culpá-los por estarem preocupados com o parente.

Em seguida, as socorristas entraram em contato com o médico que regula o serviço de ambulâncias na cidade. Informado sobre a situação, ele concordou com a decisão de levar a dupla até a unidade de saúde.

A internação

José Antônio foi encaminhado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Mary Dota, vizinho ao Jardim Ivone. Ele precisou passar a noite em observação: além da convulsão, a vítima exibia alguns ferimentos leves.

Com exceção de cães-guia e terapeutas, cachorros não são admitidos em unidades de saúde, para evitar possíveis infecções. Bob e Chiara não fizeram questão de entrar: eles se deitaram na porta da sala de emergência da UPA e passaram a madrugada à espera do tutor.

A vítima teve alta no dia seguinte, logo pela manhã, quando se encontrou novamente com os dois amigos de quatro patas. Satisfeitos, Bob e Chiara levaram José Antônio para casa, para se recuperar totalmente do incidente.

O atendimento mostra o lado humano das situações limite. A enfermeira-chefe declarou à imprensa: “Nós trabalhamos entre a vida e a morte. Temos de ser técnicos, mas não podemos deixar de ser humanos. Ter duas mulheres nesse atendimento foi fundamental, e reforça o processo de humanização que a gente busca”.

José Antônio já está de volta às ruas, recolhendo material reciclável, protegendo o meio ambiente e ganhando a vida de forma digna. Bob e Chiara continuam acompanhando o tutor, para o que der e vier.

Viver com cachorros é quase um casamento: “na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza”. Os melhores amigos dos humanos são extremamente fiéis, leais até a morte. Quem dera todos nós pudéssemos contar com a presença de um cão nos momentos difíceis.

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