Os cachorros realmente nos amam ou apenas foram atraídos por comida, carinho e cuidados? Quem convive com um cão não precisa esperar a resposta. Afinal, há milhares de anos, eles são considerados os nossos melhores amigos. No entanto, vamos verificar alguns estudos sobre o relacionamento entre caninos e humanos.
Mesmo que os cachorros nos amassem apenas por causa da comida e abrigo, ainda assim nós teríamos muito a agradecer. Se não fosse assim, eles não estariam em hospitais e clínicas, como auxiliares terapêuticos. Além disto, eles garantem proteção, companhia e muitas brincadeiras.
O início
O relacionamento entre eles e nós é proveitoso e agradável para todos. Um estudo da antropóloga americana Mary Elizabeth Thurston, publicado no livro “The Lost History of the Canine Race”, indica que foram as mulheres que aproximaram os filhotes de lobos das aldeias humanas.
Este fato provavelmente ocorreu no Paleolítico superior, há cerca de 30 mil anos. Na época, era comum os lobos caçarem crianças humanas, para se alimentar. Por isto, eram regularmente trucidados pelos caçadores (os homens, uma vez que as mulheres se ocupavam dos filhos e da coleta de alimentos e, posteriormente, das primeiras hortas que nós cultivamos).
Os caçadores eliminavam apenas os animais adultos – os filhotes eram poupados. Com isto, havia muitos lobinhos órfãos rondando os vilarejos humanos, atraídos pelo cheiro de comida. Algumas mulheres começaram a adotá-los. A pesquisadora sugere que certas mães chegaram a amamentar os ancestrais dos cachorros.
Questão de família
Já está cientificamente comprovado que os cachorros nos amam, reconhecem a bondade e confiança que nutrimos por eles. Eles experimentam sensações e sentimentos, como amor e apego, da mesma forma que acontece entre dois seres humanos.
Mais que isto: também foi demonstrado que eles nos reconhecem como verdadeiros membros do grupo familiar. Para os cachorros, nós pertencemos à mesma matilha – e estabelecem relações hierárquicas de submissão: nós mandamos, eles obedecem.
Alguns estudos utilizaram ressonâncias magnéticas para demonstrar o amor canino – e, para isto, foi necessário realizar um adestramento para que eles ficassem quietos durante os exames. As análises permitiram mapear a atividade na área do cérebro responsável pelas emoções.
Os investigadores perceberam que o cérebro dos cachorros era ativado quando eles sentiam aromas ou eram apresentados a alimentos, brinquedos conhecidos, cantinhos de descanso e outras situações familiares. Mas não apenas isto.
A área cerebral responsável pelas emoções é ativada de maneira ainda mais intensa quando eles ouvem a voz dos tutores ou são apresentados a imagens de pessoas com quem estão familiarizados. Ocorre inclusive o aumento da produção de endorfinas – neurotransmissores associados ao bem-estar e ao prazer. Nos seres humanos, as endorfinas estão relacionadas inclusive ao orgasmo.
Os pesquisadores comprovaram que os cachorros sentem emoções similares às percebidas pelos seres humanos. Não é novidade para quem gosta de cães, mas eles são amorosos, companheiros leais e premiam com bondade o afeto que recebem.
Um cachorro, muitas vezes, permanece quieto em seu cantinho, apenas observando o seu tutor. Apenas este contato visual é suficiente para a liberação de neurotransmissores. Ao sentirem que o tutor está triste, eles quase sempre se aproximam e alguns chegam a lamber as lágrimas, como para atenuar a dor que o seu “parente” está sentindo.
Eles também podem prever as ações humanas. É comum que os cachorros – especialmente os que não são muito chegados aos banhos – tentem se esconder apenas ao observar os tutores enchendo uma bacia ou separando aquela toalha fatídica. Acontece o mesmo no momento de tomar medicamentos e nas visitas ao veterinário.
Mas esta “previsão” vai muito além. Nossos cachorros são tão inteligentes quanto uma criança de dois anos. Eles conseguem entender o significado de mais de 150 palavras (na verdade, eles captam a expressão e o tom de voz dos tutores).
Algumas pesquisas sugerem que os cães podem detectar um tumor cancerígeno apenas com o olfato. Já está comprovado, contudo, que eles podem ser adestrados para advertir pessoas que sofrem de epilepsia que uma crise convulsiva está se aproximando.
Eles percebem também pelo faro. Pesquisadores descobriram que os cachorros têm a capacidade de detectar compostos orgânicos voláteis (COV). Nós também fazemos isto, mas nossos pets possuem um olfato muito mais apurado – dependendo da raça, o sentido pode ser até 100 mil vezes mais forte do que o nosso.
Mais motivos
Os cachorros não são seres utilitaristas. Apesar de terem se aproximado de nós em busca de proteção e comida, eles não percebem as necessidades básicas como algo que se deve prover antecipadamente. Para eles, cada dia traz os seus próprios problemas.
É por isto que eles começam a procurar abrigo horas antes de uma chuva ou da chegada de uma frente fria. Os cachorros não sabem que basta abrir o armário e retirar agasalhos, cobertores ou guarda-chuvas. É necessário se proteger no momento em que condições negativas estão se aproximando.
É preciso dizer que os cachorros não sentem amor condicional por qualquer um. Nas caminhadas diárias, eles cruzarão com dezenas de humanos e não sentirão nada por eles. É necessário que alguém dispense a eles um tratamento digno – e isto significa principalmente afeto e proteção, mesmo que eles sejam instintivamente protetores.
Ainda falando de hormônios, os cachorros começam a liberar uma quantidade maior de ocitocina com apenas dez minutos de contato com as pessoas queridas e confiáveis. Este fenômeno pode explicar a sociabilidade comum aos cães.
A ocitocina é uma substância que, nos seres humanos, promove as contrações uterinas no momento do parto, reduz o sangramento neste trabalho, estimula a produção do leite materno e desenvolve a empatia entre as pessoas – especialmente entre a mãe e o seu bebê, logo depois do nascimento.
Os cachorros podem experimentar sentimentos de amor e fidelidade durante toda a vida e, algumas vezes, até mesmo depois da morte dos tutores. Existem vários casos documentados – inclusive no cinema – de pets que visitam os seus companheiros no cemitério durante meses, até anos.
Ao sentirem o cheiro dos tutores, o centro cerebral de recompensa dos cachorros é automaticamente “plugado”, fato que não ocorre quando farejam pessoas desconhecidas. Isto, evidentemente, se eles receberem carinho e cuidados por parte da família humana.
Não é necessário explicar os motivos do amor. Os cachorros nos amam simplesmente porque nos amam. Eles sentem ciúmes, sabem como nós estamos apenas pelo tom de voz, identificam o nosso humor assim que entramos em casa e sempre permanecem ao nosso lado (especialmente nos momentos mais difíceis).
Não existem cachorros ruins ou egoístas, existem apenas maus tutores. Reconhecer um cão agressivo, mal educado ou apático pode nos envergonhar, mas eles só se tornam assim porque foram desprezados ou rejeitados. Certamente, algumas raças são mais alegres, enquanto outras são agressivas, mas é preciso lembrar que fomos nós que desenvolvemos as raças, de acordo com as nossas necessidades.
A fidelidade canina é determinada pelos genes – eles são programados pela natureza para serem leais e sociáveis. Era necessário que eles tomassem esta conduta para sobreviver no ambiente hostil da selva. E eles permanecem desta maneira até hoje, prontos para dar muito amor e garantir centenas de horas de convivência entre caninos e humanos.