Cachorros percebem mudanças de humor e identificam doenças. Será que eles sentem uma gravidez?
Pode parecer sexto sentido ou alguma espécie de atividade paranormal, mas os cachorros são capazes de identificar uma série de doenças. A explicação, no entanto, não tem nada de metafísica: eles apenas farejam a presença dos agentes patogênicos que causam as enfermidades. Mas, será que eles também são capazes de sentir uma gravidez?
Muitas tutoras são testemunhas de que os cachorros da casa conseguiram diagnosticar a gravidez. De alguma forma, eles sabiam que havia um “bebê a bordo”, um irmãozinho estava a caminho, muito antes de que a futura mãe começasse a desconfiar.
As explicações
Os cachorros sentem a gravidez, assim como conseguem perceber as alterações hormonais por que passam as mulheres. A elevação dos níveis dos hormônios femininos é imperceptível para nós, mas muito sensível para os peludos: eles conseguem captar através do olfato.
A cada mês, durante o ciclo menstrual, as mulheres experimentam inicialmente um aumento do estrogênio, principal responsável pela ovulação. Nesse período, muitas tutoras sofrem os efeitos da TPM – tensão pré-menstrual.
Durante o período fértil (e em alguns dias que o antecedem), as mulheres podem apresentar alterações de humor. Lembrando que as mudanças podem ser imperceptíveis, elas também podem variar de indivíduo para indivíduo e também na mesma mulher, de acordo com estímulos do ambiente, das condições gerais de saúde e até mesmo dos relacionamentos.
Algumas ficam mais ansiosas, outras se mostram mais carentes. A irritabilidade também pode se fazer presente. Não existem regras universais, mas os cachorros sentem que as tutoras estão precisando de apoio e adaptam o comportamento às reações da “melhor amiga”.
Quando ocorre a fecundação (e posterior fixação do embrião no útero), o organismo feminino também aumenta principalmente a produção da progesterona. O hormônio é responsável pela formação do endométrio, onde o futuro bebê irá se alojar e pela cessação das contrações uterinas até o momento do parto.
A gravidez
As mulheres que vivem com cachorros devem ficar atentas às informações que eles transmitem. Ao perceber a gravidez, mesmo no estágio inicial, eles se tornam mais dóceis. Delicados e protetores.
Um cão independente e mal-humorado pode se mostrar mais próximo, seguindo a tutora por toda a casa, quando normalmente ele fica deitado no sofá. Outro, saltitante a brincalhão, pode começar a evitar brincadeiras intensas, como se entendesse a delicadeza da condição.
Uma vez diagnosticada a gravidez – e a tutora ter de dar o braço a torcer: “Sim, ele estava certo” –, os peludos acompanham atentamente as mudanças físicas (eles seguem o crescimento da barriga, por exemplo).
Mais que isso, os pets parecem ficar especialmente preparados para as necessidades da tutora. À medida que a gestação avança, eles modulam o nível de atividade física e tendem a se mostrar mais amorosos. Em outras palavras, os cachorros acompanham as mudanças físicas e emocionais das futuras mães.
Não há muitos estudos sobre o assunto, mas algumas pesquisas afirmam que os cães, além de captar o cheiro dos futuros irmãozinhos, conseguem inclusive ouvir o batimento cardíaco dos fetos. A constância da frequência cardíaca é sinal de normalidade.
Mesmo sem comprovação, muitas tutoras vivenciam isso, com os cachorros acompanhando atentamente o crescimento da barriga. Alguns chegam a pousar gentilmente a cabeça, como se estivessem velando pela criança que vai nascer.
O parto
Os cachorros conseguem sentir a gravidez basicamente através do olfato, acompanham o desenvolvimento através das mudanças físicas e emocionais das futuras mães e, claro, pressentem a iminência do parto.
Uma explosão de cheiros ocorre quando a bolsa amniótica se rompe – e mesmo antes, quando o líquido começa a ser perdido. Em geral, os cachorros abandonam a postura de quietude e expectativa. Eles rapidamente acionam o “modo emergência”.
Não é preciso esperar a dilatação e o rompimento completo da bolsa. Dias antes do nascimento, a perda de líquido amniótico tende a aumentar consideravelmente. Por isso, se o cachorro abandonou a postura de acompanhante gentil e passou a adotar uma postura de defesa, recomenda-se que a malinha com o enxoval já esteja pronta.
Mas, mesmo com todos os cuidados que os cachorros revelam durante os nove meses de gravidez, isto não significa que eles consigam desenvolver sentimentos positivos de forma instantânea com relação aos bebês.
Muitos deles se mostram enciumados com o “intruso”, que se torna o centro das atenções da casa. É preciso dedicar alguns momentos de atenção e afeto para os peludos, para evitar problemas maiores, como ansiedade ou agressividade excessivas.
É preciso ter cuidado também ao apresentar o bebê. Mesmo que o cachorro não esteja com ciúme do novo membro da família, ele pode se mostrar “expansivo demais”. Não há problemas em aproximar a criança do peludo, mas os pais não podem baixar a guarda.
Em pouco tempo, o cachorro e seu irmãozinho se tornaram os melhores amigos. A convivência tem pontos positivos para ambos, como o desenvolvimento de responsabilidades nas crianças e a moderação dos gestos nos peludos. Mesmo assim, até os seis anos, é importante que haja um adulto presente nas interações da dupla.
O olfato canino
É o faro extremamente apurado dos cachorros que explica como eles conseguem perceber as mudanças fisiológicas do organismo. O olfato dos peludos ainda intriga a ciência e está relacionado à maioria das atividades.
O focinho dos cachorros é capaz de identificar cheiros diferentes em cada narina. Isto significa que, com algumas “cafungadas”, os peludos detectam a presença de diversos odores, muitas vezes provenientes da mesma fonte. A cada aspiração, novos elementos do estímulo olfativo são captados.
Ao identificar cheiros diferentes em cada narina, os cães também conseguem conferir onde está a fonte – isto é especialmente útil quando é preciso seguir rastros e farejar pistas, atividades importantes para caçadores, boiadeiros, pastores, etc.
Um cachorro apresenta até 300 milhões de células olfativas (quando mais o focinho é parecido com o de um lobo, alongado e saliente, maior o número dos “sensores de cheiros”). Apenas para comparar, os humanos possuem apenas cinco milhões destas células.
Por isso, mesmo nos animais de focinho encurtado, como os cães braquicefálicos (de cara amassada, como pugs, boxers, lhasa apsos, shih tzus, etc.), a capacidade olfativa é muitas vezes superior à observada entre os humanos.
Além disso, com o desenvolvimento da civilização, o olfato deixou de ser uma “ferramenta básica” para os humanos. Não é preciso farejar presas, plantas a serem coletadas, aumento da umidade do ar, etc. Mas os cachorros continuam se referenciando pelos sentidos – especialmente a audição e o olfato.
Para eles, por exemplo, os cheiros simples compõem outros mais sofisticados. Enquanto nós só conseguimos captar o aroma de uma bela macarronada, os peludos identificam o cheiro da massa, do tomate, do queijo, dos temperos, etc.
Outro motivo para ter um sentido tão especializado é que os cachorros não têm nenhuma espécie de preconceito. Por exemplo, eles cheiram o traseiro de outros cães para confirmar a identidade (alguns fazem isso também com as visitas humanas).
Eles também param no caminho para farejar o cocô e outros dejetos de animais – uma forma de saber se o “autor” é amigo ou inimigo. Para nós, estes comportamentos são impensáveis, mas eles são muito úteis para os peludos.
Em outras palavras, os cães não separam os cheiros entre “bons” e “ruins” (alguns aromas excelentes para as nossas narinas, como perfumes fortes, são insuportáveis para eles). Os cheiros são apenas informações.
Com o olfato (auxiliado pelo paladar, já que as narinas ficam próximas à boca), os cães também conseguem sentir as nossas emoções. Eles sentem o cheiro das endorfinas e sabem se estamos confortáveis, relaxados, tensos, tristes, ansiosos, etc. É isto que explica a capacidade de perceber uma gravidez.