É mais uma doença que afeta humanos e cachorros. Conheça os sintomas e o tratamento da meningite em cães.
A meningite em cães tem sintomas muito semelhantes à doença que afeta humanos, mas não se trata de uma zoonose: cães não transmitem meningite para nós, nem vice-versa. Trata-se de uma enfermidade de tratamento difícil, que pode ser fatal ou deixar sequelas irreversíveis; por isso é importante identificá-la o quanto antes.
As inflamações provocadas pela meningite são reações do organismo canino, mesmo quando a doença é causada por agentes externos – na maioria dos casos, as bactérias são responsáveis pelo quadro inflamatório.
Por esta razão, estas inflamações nunca apresentam caráter contagioso. Não existem vacinas para proteger os cães da meningite, ao contrário do que ocorre com alguns tipos que acometem os humanos.
A doença é causada pela inflamação das meninges, três membranas que revestem e protegem o sistema nervoso central (SNC) – cérebro, cerebelo, bulbo e medula espinal. A meningite é perigosa e pode ser letal.
A meningite afeta cães de todas as idades e portes, mas os animais das raças pug, boiadeiro de Berna, maltês e beagle são mais suscetíveis. Os motivos desta tendência ainda não são conhecidos, mas as estatísticas demonstram a maior propensão. A doença também afeta gatos, mas a incidência entre os felinos é consideravelmente menor.
A constituição do SNC
As meninges, três membranas que protegem o cérebro, recebem os seguintes nomes:
- dura-máter;
- aracnoide;
- pia-máter.
A dura-máter, mais externa, é formada por tecido conjuntivo denso; a aracnoide é uma membrana serosa, que recebe este nome por lembrar uma teia de aranha; a pia-máter, em contato com o tecido cerebral, é uma membrana altamente vascularizada, que acompanha as ondulações do SNC e do parênquima nervoso, o tecido responsável pelas principais funções do sistema.
Entre a aracnoide e a pia[AdAC1] -máter, corre o líquido cefalorraquidiano, cuja função é amortizar impactos entre os órgãos do SNC e os ossos da cabeça e da coluna vertebral. Este líquido é produzido continuamente pelo próprio cérebro.
As duas membranas internas são chamadas de leptomeninges (“lepto”, em grego, significa “fino, delgado”). A dura-máter é conhecida como paquimeninge, ou “membrana grossa”. Nos embriões, a aracnoide e a pia-máter constituem um único folheto.
As meningites infecciosas, causadas por bactérias (as doenças mais frequentes), vírus e fungos, ocorrem no espaço entre a aracnoide e a pia-máter, afetando o sistema cefalorraquidiano e, em alguns casos, bloqueando a circulação.
Veja também: Insuficiência renal em cachorros – Causas, sintomas e tratamento
As causas da meningite em cães
Esta é uma doença quase sempre infecciosa. Na maioria dos casos, é transmitida por bactérias, mas há casos de meningites virais e fúngicas. Além disso, um trauma na cabeça, infecções graves nos ouvidos, uso prolongado de alguns medicamentos e alguns tipos de câncer são outras causas da meningite.
As meningites infecciosas são as formas mais graves da doença e podem ser transmitidas pelo contato com urina e fezes de animais doentes, bem como pela aspiração de gotículas expelidas pelo nariz ou pela boca nos espirros, tosse e até a própria expiração.
As bactérias relacionadas mais frequentemente à meningite infecciosa são: Nesseria meningtidis, Streptococcus pneumoniae e Hemophilus influenzae. No entanto, todas elas são bem distribuídas, inclusive colonizando o sistema respiratório de muitos mamíferos; ainda não são conhecidos exatamente os motivos por que elas passam a comprometer, em algum momento, o líquido cefalorraquidiano.
Filhotes e cães jovens podem contrair meningite autoimune. Ela não é causada por agentes externos (micro-organismos), mas como resposta inadequada do sistema imunológico. Geralmente, estes casos são decorrentes de infecções preexistentes.
Os sintomas da Meningite em cachorros
A meningite em cães costuma surgir como uma gripe forte, mas com sinais específicos. Cerca de 30% dos pets afetados, no entanto, não apresentam sintomas, ou estes são genéricos. Mesmo entre estes, a doença costuma se manifestar de forma mais acentuada em alguns dias.
Os cães afetados se mostram ansiosos e confusos, sentem os músculos da nuca enrijecidos, demonstram hipersensibilidade ao tato, ficam deprimidos e, por fim, sofrem espasmos. Além disso, os seguintes sinais podem estar relacionados à doença e se apresentam em graus diferentes:
- febre;
- perda súbita de apetite;
- perda da coordenação motora;
- mobilidade reduzida.
Alguns animais podem apresentar náuseas, vômitos e refluxos gastroesofágicos. Estes são considerados sintomas secundários, quase sempre determinados pela rigidez do pescoço, que prejudica a ingestão da água e dos alimentos.
Diagnóstico e tratamento
A partir do exame clínico e da entrevista com os tutores, o veterinário é capaz de estabelecer uma suspeita de meningite. Como regra geral, é colhida uma amostra do líquido cefalorraquidiano, através de uma punção lombar.
Os cães afetados precisam também se submeter a exames de sangue e urina, para que se possa identificar o agente causador (bactérias, fungos ou vírus), e podem ser submetidos a exames de imagem.
Testes audiométricos são úteis para verificar o comprometimento da audição. Nos casos provocados por traumas ou uso prolongado de medicamentos, o diagnóstico é obtido em conjunto com o tratamento dos demais comprometimentos.
As meningites causadas por traumas quase sempre são revertidas depois dos procedimentos para regularizar os ossos da cabeça e pescoço e a circulação do líquido cefalorraquidiano; no caso de medicamentos, o veterinário considerará a possibilidade de trocar a droga ou alterar a dosagem.
Já nos tratamentos contra neoplasias, a terapia indicada é aquela que preserva melhor a qualidade de vida dos cães afetados. Em todos esses casos, a meningite é considerada secundária e pode ser facilmente controlada na maioria dos animais.
Os medicamentos usados no tratamento da meningite em cachorros causada por agentes externos servem para combater as inflamações, evitando a instalação de danos neurológicos irreversíveis. O veterinário também pode receitar antibióticos (nos casos de meningites bacterianas ou fúngicas), antitérmicos e analgésicos, de acordo com o estado geral dos pets doentes.
Os veterinários costumam receitar as seguintes drogas para o combate da meningite:
• barbitúricos, como fenobarbital e pentotal sódico, para controle das convulsões, por via oral ou venosa;
• antibióticos específicos (antibacterianos e antifúngicos) que consigam penetrar a barreira hematoencefálica;
• diuréticos, para atenuar o edema (inchaço) cerebral.
No caso de meningites virais, que felizmente são mais raros, ainda não existem drogas capazes de eliminar os vírus responsáveis. São doenças difíceis, com prognóstico grave, uma vez que o agente etiológico não pode ser neutralizado.
Na maioria dos casos, os cães com meningite precisam ficar alguns dias internados. Os animais que sofrem com perda da coordenação motora ou paralisias parciais podem ter necessidade de passar por reabilitação.
Com a fisioterapia, os cães podem recuperar os movimentos – o índice de sucesso do tratamento depende sempre da gravidade dos comprometimentos e também da rapidez do socorro. As sessões fisioterápicas podem se prolongar por meses, de acordo com as necessidades do pet, mas o prognóstico quase sempre é positivo.
É importante que o cão sintomático seja levado ao veterinário o quanto antes, logo sejam detectados os primeiros sintomas. A sobrevivência sem sequelas, que garante a qualidade de vida dos pets, depende da rapidez do diagnóstico e início do tratamento.
Complicações da Meningite em cachorros
Em um percentual considerável de casos, a meningite evolui para quadros mais severos. Quase todos os cães afetados desenvolvem também a meningoencefalite, que afeta boa parte do encéfalo, ou a meningomielite, que, além de afetar as meninges, provoca inflamações a medula espinal e nos vasos sanguíneos que irrigam o SNC.
Sequelas duradouras atingem cerca de 10% dos cães convalescentes da meningite. De acordo com estudo realizado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), as deficiências mais comumente observadas são:
- incontinência fecal;
- incontinência urinária;
- retenção urinária;
- limitações na mobilidade;
- assaduras e feridas por abrasão.
Com incidência consideravelmente menor, os processos inflamatórios podem levar a uma meningite arterite, que se manifesta com caráter crônico. Os sintomas neurológicos são progressivos.
A ataxia cerebelar é frequente nestes casos. Os animais perdem a coordenação motora, passam a andar de forma cambaleante, tropeçam e caem com frequência e apresentam dificuldade de deglutição. Um sintoma frequente é o nistagmo – movimentos rápidos e descoordenados dos olhos.
A meningite arterite pode evoluir para uma paraparesia, a fraqueza ou paralisia parcial dos membros posteriores. Esta condição evolui e pode impossibilitar completamente os movimentos dos cães afetados.
Estes quadros devem ser avaliados detalhadamente, porque os sintomas se manifestam com maior intensidade, para ceder a aparentes melhorias no estado geral de saúde e recaídas ao longo do tempo.
Os sinais mais comuns da meningite arterite são os seguintes:
- leucocitose (aumento excessivo dos leucócitos na corrente sanguínea);
- pleocitose (aumento dos leucócitos determinado por inflamações no líquor).
Um indicativo desta condição é a cor alaranjada no exame do líquido cefalorraquidiano. Este procedimento, no entanto, é bastante doloroso e não pode ser repetido com frequência.
A doença pode evoluir para uma poliartrite autoimune, identificada pela rigidez generalizada, apatia e claudicação (os cães passam a andar mancando). A poliartrite é sempre acompanhada por um quadro febril e prejudica membros anteriores e posteriores.
O tratamento, neste caso, é feito a base de glicocorticoides, hormônios sintéticos que reproduzem a ação do cortisol, que regular funções metabólicas, imunológicas e cardiovasculares. O êxito depende do grau de severidade das sequelas e a medicação precisa ser ministrada por pelo menos três meses.
No caso de recaídas, os cachorros afetados podem ser tratados com drogas imunossupressoras e anti-inflamatórios não esteroides. O tratamento dura mais de seis meses e não pode ser suspenso imediatamente.