Raiva canina – causas, sintomas e tratamento

Quase erradicada, a raiva canina é uma zoonose. Conheça as causas, sintomas e tratamento da raiva em cachorros.

A raiva canina ainda inspira medo e cuidados. Trata-se de uma doença quase erradicada no mundo todo e facilmente evitada com a vacinação correta. Contudo, a taxa de mortalidade é de quase 100%. A transmissão ocorre principalmente através de animais silvestres, como morcegos, macacos, gambás e guaxinins.

A incidência da doença é relativamente baixa: no Brasil, em 2019, foram registrados 23 casos de raiva canina e felina, a maioria (12 casos) causada por acidentes com morcegos, seguida pelo contato com canídeos silvestres (seis casos). A maioria dos casos, porém, além de ser de notificação obrigatória, não é informada.

Trata-se de uma encefalite – uma infecção no encéfalo – e é classificada como zoonose; a raiva canina, transmissível também para humanos, pode afetar quaisquer espécies de mamíferos e, em menor medida, aves (animais de sangue quente), com prevalência entre os mamíferos carnívoros e quirópteros.

A forma de contágio da raiva é a troca de secreções (especialmente de saliva e de sangue contaminados), quase sempre através de mordidas e arranhões, mas também pelo contato espontâneo com feridas e sangue recentemente derramado.

Raiva canina - Causas, sintomas e tratamento

A prevenção da raiva canina

A raiva em cachorros é uma infecção viral gravíssima, sem tratamento nem cura; não é possível nem sequer atenuar os sintomas, que quase sempre se apresentam de forma extremamente grave e dolorosa.

A prevenção da raiva canina, felizmente, é fácil. A imunização inicial deve ser feita quando os filhotes atingem 12 semanas de vida. Antes disso, os anticorpos maternos, transmitidos através do leite, combatem os vírus atenuados da vacina e neutralizam os efeitos; de qualquer forma, a mãe imunizada protege os filhotes da maioria das infecções.

Os cães filhotes vacinados ficam totalmente protegidos duas semanas depois de receberem a dose única da vacina. Por isso, os passeios na rua e contatos com outros animais de estimação não são recomendados antes que o organismo canino tenha desenvolvido a proteção necessária.

Há uma série de vacinas seguras disponíveis no país. Todos os cães, anualmente, precisam ser reimunizados – mesmo os que não saem de casa, por problemas de locomoção. No Brasil, diversas cidades realizam campanhas de vacinação gratuita contra a raiva canina.

Geralmente, as campanhas acontecem no mês de agosto, conhecido popularmente como “mês do cachorro louco”. Com o inverno chegando ao fim, um número maior de cadelas entra no cio e as brigas entre os machos são mais constantes. Alguns fogem de casa para conquistar uma parceira.

Veja também: As doenças caninas mais comuns

As causas da raiva canina

O vírus da raiva é transmitido através da saliva e do sangue de animais contaminados. Por isso, a transmissão é relativamente fácil em zonas rurais, onde há presença de animais silvestres que podem estar infectados, e também em zonas urbanas com grande número de cães e gatos abandonados nas ruas. A doença ocorre em surtos, quase sempre determinados por mutações dos vírus.

Os responsáveis são vírus RNA de cadeia negativa, da família Rabdhoviridae, gênero Lyssavirus (Lissa é uma divindade grega associada à loucura, à raiva e ao frenesi. Atualmente, são conhecidos 14 tipos de Lyssavirus – o mais comum é o RABV (rabies vírus, ou simplesmente vírus da raiva).

Cinco deles podem afetar também humanos, provocando encefalite viral e os demais infectam especialmente os morcegos, com distribuição mundial.

O desenvolvimento da raiva

O vírus da raiva se replica (multiplica) inicialmente nos nervos periféricos, migra através desses e atinge o sistema nervoso central (especialmente o cérebro, provocando inflamação), vários outros tecidos orgânicos e finalmente permanece livre na saliva, de onde geralmente ocorre a propagação para outros animais, através de mordidas ou lambidas em ferimentos e mucosas.

Existem alguns casos registrados de transmissão da raiva por inalação dos vírus, através da placenta e, mais comumente, durante a amamentação e, entre humanos, em cirurgias de transplante de córnea.

Nas áreas urbanas, os principais agentes etiológicos são os cachorros, seguidos pelos gatos. Na zona rural e em regiões silvestres, a raiva é transmitida principalmente através de lobos, raposas, coiotes e morcegos hematófagos (que se alimentam de sangue).

Mesmo controlada, a raiva ainda exige atenção por parte das autoridades sanitárias de todos os países do mundo. Existem algumas regiões do planeta em que a doença é considerada erradicada, mas as medidas de controle e vigilância continuam sendo administradas de forma ativa.

A incidência da raiva canina e humana é global, exceto em áreas específicas onde o vírus não encontra condições para se replicar, como a Antártica, o Reino Unido, o Japão e algumas outras ilhas em que a doença é considerada erradicada.

A raiva é conhecida desde a Antiguidade. No Egito dos faraós, a doença era considerada uma manifestação sobre os cachorros da estrela Sirius (que tinha outro nome no país), pertencente à constelação do Cão Maior.

Os caldeus, em 1900 AEC, previam, no código civil da época, uma indenização aos cofres públicos caso um “cão raivoso” causasse a morte de um cidadão.

Entre os gregos, era evocada a deusa Ártemis (da caça e da vida selvagem) para proteção. Homero cita, na “Ilíada”, a presença de cães raivosos. Diversos autores gregos e romanos, como Demócrito, Cornélio Celso e Galeno descreveram a doença.

Aristóteles foi um dos primeiros a descrever a raiva e a associá-la à mordida de cães infectados, embora o senso comum da época acreditasse que a ocorrência poderia ser espontânea – por exemplo, com a ingestão de alimentos muito quentes.

No século 19, na Europa, o controle da raiva ainda estava envolvido com superstições – o tratamento envolvia cauterizações e excisões das feridas. Louis Pasteur foi um dos primeiros cientistas a identificar um micro-organismo responsável pela doença.

Pasteur conseguiu isolar o vírus da raiva em 1881. Inoculando cópias do vírus no cérebro de coelhos, o cientista conseguiu produzir a primeira vacina em 1884, apenas três anos depois de ter identificado o agente etiológico.

Os sintomas da raiva canina

Os principais sintomas da raiva canina são o surgimento súbito de comportamentos agressivos (por isso, o nome “raiva”), salivação excessiva e, em uma segunda etapa, paralisia dos membros. Um cachorro infectado inicialmente se mostra quieto, cansado e evita contato com os tutores.

Pode também ocorrer, em alguns casos, a paralisia da mandíbula: o queixo fica travado e o animal não consegue abrir a boca completamente, apresentando dificuldades para comer e, em alguns casos, até mesmo para respirar.

O período de incubação da raiva canina é relativamente longo: os primeiros sinais só se mostram entre três e seis semanas da exposição ao vírus. A doença se manifesta em fases:

fase prodrômica – surgem mudanças de comportamento. Os cães afetados tendem a se esconder em locais escuros, dando sinais de fotofobia (intolerância à luz solar). “Pródromo” significa o conjunto de sintomas que antecede a manifestação propriamente dita de uma doença.

A fotofobia não é um sintoma de doença ocular, mas um sintoma de diversas outras condições. Em geral, ela se apresenta nos casos de inflamações e infecções virais e bacterianas. A fase prodrômica persiste por um a três dias;

fase agressiva – o animal infectado se mostra violento e tenta atacar e morder todos à sua volta, inclusive os tutores e outros animais de estimação a quem está acostumado. O cão pode ter episódios autoagressivos, mordendo a cauda ou as patas e podendo provocar lesões severas.

Nesta fase, que dura um ou dois dias, os cães infectados apresentam salivação excessiva e recusam-se a beber água (por isso, a raiva já foi chamada de hidrofobia, medo ou aversão à água). Eles também podem rejeitar os alimentos.

A hidrofobia é provocada por espasmos musculares involuntários na laringe, faringe e língua. Os cães não conseguem engolir a água, sentem-se desconfortáveis e passam a rejeitá-la, mesmo que sintam sede;

fase agônica – inicialmente, os cães se mostram desorientados, com movimentos lentos. É comum que eles tentem ir de um local para outro e parem no meio do caminho, provavelmente sem saber para onde iam.

Surgem então os sintomas neurológicos, com convulsões reiteradas, paralisia dos membros (que se instala gradualmente) e dificuldade para respirar, resultante da paralisação dos músculos do tórax e do abdômen. Os cães afetados deixam de se alimentar completamente e morrem entre 48 e 72 horas.

As formas da raiva canina

A raiva canina pode se manifestar de formas diferentes. Os sintomas são semelhantes, mas podem apresentar algumas variações. Na verdade, a manifestação pode ser mais rápida ou lenta e os sinais se tornam mais ou menos visíveis. São elas:

raiva furiosa – a redundância na expressão indica que os cães infectados se tornam extremamente agressivos e violentos depois de um curto período de prostração e inapetência. É a forma mais comum da doença.

Os animais latem furiosamente, durante horas seguidas, chegando a ficar roucos – não é incomum o surgimento de lesões na laringe, visíveis no fundo da boca. Isto ocorre mesmo em animais naturalmente calados. Os cães ficam muito agitados, babam em excesso (com espumação) e evitam os líquidos.

A baba, comumente associada à doença, tem uma explicação: os nervos responsáveis pela deglutição estão comprometidos e os animais não conseguem nem sequer engolir a saliva. Dependendo das condições de saúde e do porte, a raiva furiosa é fatal em quatro a sete dias;

raiva muda – ocorre com um pequeno número de animais, que ficam anormalmente quietos, evitam contato (inclusive visual) com os tutores, procuram ambientes escuros e recusam água, alimento e brincadeiras.

Tentativas de animar os pets nesta condição podem redundar em mordidas e arranhões mais ou menos graves. A raiva muda pode se prolongar por um período maior, mas não superior a cinco dias, ao final dos quais surgem os sinais neurológicos;

raiva intestinal – e a forma mais rara da doença nos cães, apesar de relativamente comum entre roedores, como esquilos e ratazanas. Os animais afetados não se tornam agressivos, não tentam se isolar nem apresentam sinais de paralisia.

A raiva intestinal, no entanto, é uma infecção mais rápida. Subitamente, os animais passam a apresentar cólicas, diarreias e vômitos frequentes, que impedem qualquer tipo de interação. A morte sobrevém em 72 horas, em um quadro de desidratação severa.

O tratamento para raiva canina

Não existe tratamento para a raiva canina. Isto torna a vacinação ainda mais importante. Todos os cães e gatos devem receber doses da vacina antirrábica anualmente, sempre em intervalos regulares. Caso você tenha adotado um cachorro adulto, providencie as vacinas rapidamente e não o deixe passear antes de estar imunizado.

Se o seu cachorro devidamente vacinado foi mordido por um animal estranho, ele deve ser avaliado por um veterinário e receber uma nova dose da vacina antirrábica e observado nos meses seguintes ao acidente.

O diagnóstico da doença é obtido apenas depois da morte do cão, através de necropsias. Para constatar a infecção, é necessário colher amostras do encéfalo e identificar o vírus em exames laboratoriais.

Quando há fortes suspeitas de raiva canina, com histórico indicativo e sintomas evidentes, a eutanásia é o procedimento indicado pelos veterinários. Em geral, os animais infectados ficam extremamente debilitados em poucos dias – alguns nem chegam a receber atendimento médico.

 No caso de confirmação post mortem, é importante que os tutores comuniquem a incidência da raiva canina às autoridades, para que se possa realizar um cerco sanitário nas imediações da casa do animal infectado. A comunicação pode ser feita à Polícia Militar.

É importante lembrar que nem toda mordida de cachorro causa raiva: é preciso que o animal esteja infectado com o vírus da infecção e que ele já esteja viável na saliva.

Em caso de acidentes, é importante isolar e avaliar o animal, observando possíveis mudanças de comportamento, de coordenação motora e/ou a presença de transtornos gastrointestinais. Caso surjam sintomas mais ou menos claros, o cachorro deve ser encaminhado ao veterinário.

No caso de mordidas em humanos por cães desconhecidos, as vítimas devem ser encaminhadas com urgência aos serviços de saúde. Se o cachorro agressor puder ser capturado, ele ficará em observação durante 15 dias, para confirmar ou descartar a doença.

Animais silvestres não devem ser combatidos como forma de evitar a raiva. Cada espécie se incumbe de tarefas especiais na organização do bioma – gambás, por exemplo, caçam serpentes e mantêm sob controle a população de ofídios. Atacá-los seria prejudicar a natureza como um todo.

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