O faro canino e o “cheiro do medo”

Este é mais um mito na relação entre humanos e cães, que não conseguem sentir o cheiro do medo.

Ao contrário dos tubarões, os mais perfeitos caçadores dos mares terrestres, que conseguem sentir o cheiro do sangue de suas possíveis presas a quilômetros de distância, o faro canino, apesar de extremamente apurado, não consegue perceber o cheiro do medo.

É exatamente pelo fato de o faro dos cães seja o seu principal órgão dos sentidos que os animais se aproximam de pessoas estranhas e imediatamente colocam o poderoso olfato em ação: é sempre a primeira reação, para tentar identificar as intenções dos “intrusos” (mesmo que sejam visitantes).

faro canino

Muitas observações menos atentas geraram esta explicação, que criou a expressão “cheiro do medo”. Efetivamente, quando uma pessoa tem medo de cães (e algumas são cinofóbicas, isto é, sentem um pavor irracional quando estão próximo a estes pets), aparentemente os animais percebem isto – mas não apenas através do olfato.

Eles podem atacar?

Bem sociabilizados, cães dificilmente atacam ou outros animais. Estes animais podem agir com agressividade quando detectam algo “fora de ordem” na postura de estranhos: a atitude, a postura, a expressão facial e a tensão muscular podem denunciar segundas intenções.

Evidentemente, os cães não conseguem entender a nossa organização social (nem o nosso idioma, nem os nossos relacionamentos, etc.). O que eles fazem é inferir a atitude: por exemplo, quando um carteiro se aproxima do portão, nossos defensores de plantão imediatamente se colocam em guarda, para impedir uma invasão.

A audição dos cães também alcança sons que nossos ouvidos não percebem. Por isto, a aproximação do nosso amigo carteiro é percebida muito antes que identifiquemos o servidor público que vem entregar a correspondência.

Um carro também pode ser identificado como invasor ou como animal desgarrado – muitas raças caninas foram desenvolvidas para pastoreio, e o automóvel pode ser entendido como um boi fujão. Por fim, um amigo que vem fazer uma visita, na mente de um cão, precisa entender quem é o dono do território: e os pets não estão dispostos a ceder nem um centímetro.

Fugir não é solução

Algumas pessoas, especialmente crianças, reagem à aproximação dos cães, principalmente os grandes, correndo assustadas. Isto é um grande erro, já que os animais entendem que é necessário perseguir a presa, o fugitivo ou o invasor, de acordo com as principais características da raça.

A primeira atividade partilhada por humanos e cães foi a caça (ainda comum em diversas partes do planeta). Eles identificam as presas pelo faro, a audição e finalmente pela visão. Imediatamente, o bando parte para a perseguição e coelhos, veados, capivaras e outros saem em disparada: é a senha para a disparada.

Atenção: esta regra não vale quando o cão agressor pertence a uma raça desenvolvida para atacar. Isto já aconteceu com o rottweiler, o dobermann e até o simpático buldogue inglês, entre outros. Atualmente, o título de cão agressivo pertence ao pitbull.

Na maioria do país, aliás, a legislação obriga os donos de animais potencialmente agressivos a conduzir os seus cães nas vias públicas com focinheira, coleira e guia. Proprietários responsáveis precisam atentar a estas condições, além de estabelecer estratégias para que os pets não escapem para as ruas.

Ainda os instintos

Os cães são descendentes dos lobos (na verdade, apenas uma subespécie: lobos são Canis lupus e cachorros, Canis lupus familiaris). Os lobos se organizam em alcateias muito bem estratificadas, com papéis sociais muito bem definidos. Até mesmo a vocalização (os latidos e uivos) é diferente para cada membro do grupo.

Na natureza, entre outras espécies, os cães podem ser classificados como submissos e dominadores (chamados alfa), além dos indivíduos jovens e dos filhotes. entre os cachorros, não existe diferença de sexos: uma cachorra pode se tornar a “chefe do pedaço”.

Ao farejar um visitante, o cão tenta identificar qual é a posição. Caso seja um submisso, terá menos direitos (nas matilhas selvagens, os submissos comem depois dos “alfa” e muitas vezes não têm direito de acasalar). A pessoa estranha, ao demonstrar medo, apenas reforça a ideia de submissão.

Uma das formas de identificação e comunicação utilizada entre os cães é o cheiro da urina (este é o motivo por que eles gostam de cheirar os genitais, não só de outros cachorros, mas também de humanos e, quando não querem ser identificados, literalmente colocam o rabo entre as pernas, ocultando ânus e órgãos genitais). Animais territorialistas, nossos melhores amigos querem saber se o espécime recém-chegado faz parte da família.

Os cheiros desconhecidos são um sério motivo para que os cachorros desconfiem de pessoas estranhas. Além disto, quando nós sentimos medo, ocorre uma série de reações fisiológicos: aumento da frequência cardíaca, da pressão arterial, do ritmo respiratório e da transpiração, fatos percebidos pela observação atenta dos pets.

Estas reações humanas de estresse também são instintivas, herdadas de nossos ancestrais das cavernas. Frente a uma situação de perigo, identificamos os prós e os contras e preparamo-nos para lutar ou fugir. Trata-se de uma reação orgânica: o cérebro “manda” aumentar a produção de adrenalina, hormônio relacionado à análise dos riscos.

Você também vai gostar...

1 comentário em “O faro canino e o “cheiro do medo””

Deixe um comentário