Como regra geral, os cães de pequeno porte são mais longevos do que os grandões, mas são mais suscetíveis a traumas causados por quedas e escorregões – e isto, de certa forma, os torna mais frágeis. A preferência, por parte dos humanos, dos animais menores para o acasalamento, proporcionou o surgimento de diversas raças nanicas – não apenas para companhia, mas também para caça de presas miúdas.
Os cães de grande porte permaneceram reservados para diversas funções. Graças a versatilidade, em uma época que privilegiava a utilidade dos animais, eles se desenvolveram para a guarda de pessoas e bens, pastoreio, manejo do gado, combate, além da caça.
Os pequenos, por outro lado, também se revelaram excelentes auxiliares nas tarefas do cotidiano; inicialmente, eles foram empregados para a caça a presas miúdas, como ratos e toupeiras que invadiam hortas e jardins. Com o surgimento da mineração, os nanicos também passaram a ser usados para dar combate a roedores que lotavam as galerias das minas de metais e de carvão.
Grandões vs. nanicos
Desta forma, foram criadas raças caninas de pequeno porte no mundo inteiro: é o caso, por exemplo, do britânico yorkshire terrier, do mexicano chihuahua, do pequeno cão russo, do alemão pinscher miniatura e do pug chinês. Com exceção deste último, a expectativa de vida dos demais fica entre 18 e 20 anos, mas alguns surpreendem e vivem ainda mais.
O motivo da baixa expectativa de vida do pug é simples. Em algum momento da parceria entre cães e humanos, que já dura milênios, os animais de focinho curto se tornaram os preferidos entre os cachorros de companhia. Aparentemente, os braquicefálicos (de cara achatada) eram pouco agressivos, mas mantinham-se atentos e alertas para todos os movimentos.
Porém, há um problema: os cães braquicefálicos sofrem com dificuldades respiratórias – e a maior parte das raças com esta característica é de pequeno porte. Apenas duas raças de médio a grande porte apresentam a cara achatada: o boxer e o dogue de Bordéus – este último é o menos longevo, raramente ultrapassando os sete ou oito anos. Ele já pode ser considerado idoso a partir dos quatro anos de idade.
Os demais braquicefálicos são todos pequenos: são os buldogues inglês e francês, o lhasa apso, o shih tzu, o pequinês, o cavalier king charles spaniel, o boston terrier e o maltes, além do pug. Atualmente, está sendo feito um esforço para privilegiar animais “narigudos” nos acasalamentos, em uma tentativa de superar as limitações destas raças.
Seja como for, todos os cachorros, do pequeno cão russo (28 cm de altura na cernelha) ao dogue alemão (até 90 cm de altura), pertencem à mesma espécie: Canis lupus familiaris. E todos descendem de uma variedade do lobo-cinzento, que pode ultrapassar os 90 cm de altura.
Por isso, não se pode dizer que os cães de pequeno porte sejam frágeis: eles apresentam as mesmas características de todos os outros cachorros. A diferença é que o ataque de um pinscher miniatura raramente causa danos, enquanto uma simples brincadeira de um São Bernardo pode se tornar uma emergência médica.
É um erro, aliás, confundir o tamanho e tratar os cães pequenos como se fossem bebês indefesos: um dachshund (teckel) pode ser baixinho e comprido, mas é uma “máquina mortífera” quando se trata de exterminar pragas de jardins. Já um yorkie é um excelente rateiro e possui excelente senso de orientação, necessário para não se perder nas minas de carvão inglesas.
Um buldogue inglês, apesar do jeitão pacato e tranquilo, mantém o instinto de luta desenvolvido nas rinhas britânicas do século 19; um lulu da Pomerânia (spitz alemão anão), está sempre atento e é o primeiro a dar o alerta quando alguma coisa está errada; e um pinscher miniatura pode ser tão agressivo quanto um doberman, que também é um cão do tipo pinscher.
A expectativa de vida
O desenvolvimento físico dos cães é determinante para estabelecer a expectativa de vida ao nascer – naturalmente, as condições em que os cães são criados influenciam muito mais, mas a herança genética oferece uma contribuição substantiva.
Um chihuahua macho com três meses de vida pesa em média 1,5 kg. Ao completar um ano, ele se torna adulto e pode chegar aos 3 kg. Enquanto isso, um São Bernardo macho com três meses pesa 22 kg e, aos dois anos, completa o desenvolvimento físico e exibe fantásticos 90 kg.
Enquanto o pequeno dobra de peso ao atingir a maturidade sexual, o grandão quadruplica o peso. O desenvolvimento físico acarreta a produção de radicais livres e, no caso dos animais de grande porte, esta produção é muito maior.
Radicais livres são moléculas instáveis geradas nas diferentes atividades orgânicas: digestão, respiração, excreção, etc. Eles estão envolvidos com o envelhecimento precoce. A maior produção destas moléculas acelera o processo de desgaste celular.
Além disso, os cães de grande porte quase sempre estão sujeitos a cargas mais intensas de atividades físicas, que também geram radicais livres. Os processos de substituição das células musculares também é muito mais acelerado do que o observado entre os animais pequenos.
Mesmo assim, estamos nos referindo a médias estatísticas de crescimento e envelhecimento. Contrariando todas as expectativas, o cão mais longevo do mundo viveu impressionantes 31 anos e 165 dias de vida, certificados pelo Guinness Book of Records. Trata-se de Bobi, um rafeiro do Alentejo, que morreu em fevereiro de 2023.
Também conhecida como mastim português, esta raça, que ultrapassa os 70 cm de altura na cernelha entre machos e fêmeas, apresenta uma expectativa de vida entre 12 e 14 anos. Bobi desbancou outro grandão do posto de cão mais velho do mundo: Bluey, um pastor australiano que atingiu 29 anos e cinco meses – outra raça de grande porte.
Grandes e pequenos: prós e contras
As preferências são sempre individuais: enquanto alguns tutores se encantam pelos nanicos, outros acreditam que “cachorro de verdade tem de ser grande”. Naturalmente, é preciso observar alguns aspectos práticos para orientar a escolha, como o espaço disponível para os peludos brincarem, explorarem e se divertirem.
Mesmo assim, alguns cães de grande porte conseguem se adaptar muito bem a pequenos espaços, desde que sejam levados para passear duas ou três vezes por dia: é o caso do dálmata e do husky siberiano, por exemplo. Mas, para tutores que não tem muito tempo disponível, os yorkies e os buldogues ingleses e franceses se contentam com uma voltinha diária de 20 a 30 minutos.
A disponibilidade para passeios, brincadeiras e treinamentos também precisa ser levada em consideração. Alguns cães, independentemente do porte, apresentam maior tendência ao sobrepeso e obesidade e, por isso, devem ser estimulados às atividades físicas. É o caso, entre outros, das seguintes raças:
- de pequeno porte – cavalier king charles spaniel, dachshund, pug e terrier escocês;
- de médio porte – basset hound, beagle e cocker spaniel (inglês e americano);
- de grande porte – golden retriever, retriever do Labrador, rough collie e rottweiler;
- molossoides – boiadeiro de Berna, São Bernardo e terra nova.
O temperamento também precisa ser considerado no momento da adoção. Os cães mais tranquilos latem pouco, são comparativamente menos ativos e podem viver em apartamentos pequenos. Basenji, chow-chow, shar-pei e weimaraner são cães grandes que vivem bem em pequenos espaços.
Por outro lado, o cocker spaniel (que se especializou na caça às aves e, por isso, gosta de saltar e é muito agitado e efusivo), o beagle (um exímio caçador de matilha, muito sociável, comunicativo e barulhento) e o border collie (atlético e esportivo) gostam de correr e se exercitar, demandando espaços mais amplos.
O beagle, o buldogue inglês, o cocker spaniel, o pug e o shih tzu são excelentes opções para casas com crianças, mas também alguns grandões, como o golden retriever, o retriever do Labrador, o rough collie, o samoieda, o shar-pei, o São Bernardo e o terra nova são bons companheiros para brincadeiras – e também são ótimas babás.
Por outro lado, alguns cães não gostam da companhia de crianças, nem de outros pets. Além dos casos clássicos: pit bull, bull terrier, buldogue americano e staffordshire terrier, os akitas, dobermans, dálmatas, huskies siberianos, pequineses, lhasa apsos e chihuahuas também preferem ser “filhos únicos).
Uma curiosidade: os cães das raças desenvolvidas para brigar (como os do tipo bull) e caçar sozinhos (como o afghan hound, o fila brasileiro e o ridgeback tailandês e da Rodésia), apesar de não apreciarem a companhia de outros cães, podem ser bons companheiros de crianças pequenas e até de gatos.
Um dado objetivo: os cães pequenos dão menos despesas para os tutores e não impactam o orçamento doméstico. Além das quantidades menores de ração, eles demandam menos xampus e produtos de higiene. as consultas veterinárias, rações e vermífugos são praticamente as mesmas, independentemente da raça, mas os medicamentos, repelentes, brinquedos e acessórios são mais caros.
Algumas raças de pequeno e médio porte, no entanto, são mais propensas a alergias e dermatites, exigindo visitas mais frequentes ao médico. É o caso do chihuahua, do pinscher miniatura, do cocker spaniel e do basset hound. De qualquer maneira, os custos com a saúde são elevados na medida em que todos os cães envelhecem.