Como os cachorros sabem que os donos estão chegando?

Parece mágica, mas são os sentidos aguçados dos cachorros: eles indicam que os donos estão chegando.

Como os cachorros sabem que os donos estão chegando? Os cachorros são exemplos reais de lealdade, fidelidade, dedicação e devotamento a toda prova, mas o que parece ser um sexto sentido a avisá-los de que os donos estão chegando pode ser explicado com motivos bem mais simples: mesmo a distância, eles percebem os cheiros dos seus humanos prediletos e conseguem ouvir as vozes e outros sons (um pigarro, por exemplo).

Os aromas são os primeiros a anunciar que os tutores estão chegando. Eles conseguem identificá-los a alguns quilômetros de distância. Os ruídos começam a ser percebidos quando a distância se reduz para algumas centenas de metros, mas o resultado sempre parece prodigioso e mágico.

A hora da festa

Os cachorros não consultam as horas: eles percebem se é dia ou noite, mas não desenvolveram nenhuma informação sobre o tempo que os tutores passam fora de casa trabalhando, estudando ou passeando.

Como os cachorros sabem que os donos estão chegando?

Uma dica de que a hora do reencontro está se aproximando, no dia a dia, são as mudanças de luz no final da tarde. Ela só vale, no entanto, para pessoas muito metódicas, que voltam para casa sempre no mesmo horário.

É importante observar que, mesmo não sabendo para que servem os relógios, os cachorros respondem muito bem aos condicionamentos, como todos os seres sencientes. Desta maneira, se eles estão acostumados a receber a ração sempre no mesmo horário, logo depois que os tutores chegam em casa, o ciclo biológico canino os fará despertar o apetite sempre no mesmo horário.

Para ter certeza de que os donos estão chegando, os cachorros usam a audição e o olfato, dois sentidos extremamente poderosos e desenvolvidos na espécie canina. E não adianta tentar disfarçar os cheiros, porque os peludos conseguem analisá-los: eles sabem que, embaixo do perfume, está o bom e velho cheiro do suor, dos óleos naturais da pele, do hálito, etc.

Não é preciso que os tutores estejam com a higiene “fora dos padrões”. O cérebro canino é capaz de processar diversas informações e, por isso, eles sabem que, pelo aroma peculiar dos tutores, eles estão se aproximando, mesmo quando este aroma é alterado por colônias, fragrâncias e até cremes de pentear e cosméticos inodoros para os nossos narizes.

Não importa quanto tempo os tutores passam fora de casa. Quando a nossa movimentação se restringe a um raio de dois ou três quilômetros da residência, os cachorros nos monitoram constantemente. Se a distância for maior, eles perdem o rasto, mas conseguem recuperá-lo com facilidade.

Mesmo os cães mais independentes e autônomos apreciam a presença dos tutores. Ao mesmo tempo, eles gostam de uma rotina previsível. Por isso, desde que são adotados, eles passam a organizar as informações úteis. Ao captar o “cheiro do tutor”, eles são capazes de verificar se estamos nos aproximando ou afastando.

Quando estamos pertinho de casa, os sons – a voz, um assobio e até espirros e pigarros – colaboram para facilitar o processamento dos dados. Mas é principalmente o cheiro que faz os cachorros identificarem que os donos estão chegando em casa.

Mesmo com sentidos tão complexos, não é preciso recear que eles fiquem ansiosos ou deprimidos caso os tutores cheguem até a porta de casa e, por qualquer motivo, deem meia volta. Os cachorros simplesmente continuam monitorando a aproximação, de maneira quase automática.

O faro dos cachorros

Os peludos são capazes de identificar cheiros diferentes em cada narina, por exemplo. Todos são especialistas na arte de farejar, inclusive os animais de focinho achatado, como os shih tzus e lhasa apsos, que possuem narinas mais curtas.

O olfato canino é muito mais sofisticado do que o humano: enquanto nós temos, em média, cinco milhões de células olfativas, os cachorros dolicocefálicos (de focinho comprido, como o afghan hound, o dachshund e o borzói, por exemplo) apresentam 220 milhões de receptores de cheiros.

Além disso, a área do cérebro responsável por processar as informações olfativas é proporcionalmente 40 vezes maior nos cachorros. Com isso, eles conseguem perceber o sabor do açúcar de uma colher diluída em uma piscina, enquanto nós temos dificuldade em saber se foram colocadas duas ou três colheradas em uma xícara de chá.

Como os cachorros sabem que os donos estão chegando?

Enquanto nós apenas sentimos o cheiro de uma bela macarronada (quase sempre também com o apoio da visão do prato), os peludos são capazes de perceber os aromas da massa, do queijo, do tomate, das especiarias, etc.

Eles também são capazes de identificar teores maiores ou menores dos nossos hormônios. Muitos cachorros sabem que a tutora está menstruada e até que está grávida, mesmo antes que ela receba a boa notícia em um exame de laboratório.

Percebendo os níveis hormonais, eles também respondem de maneira: se a dopamina estiver em alta, eles começam a preparar a defesa, o ataque ou a fuga – que também exige bom preparo físico e tensão total. Se o destaque for a adrenalina, eles reagem correndo, saltando, brincando, de acordo com cada situação.

Por fim, quando os tutores estão “carregados” de ocitocina (o chamado hormônio do amor), os cachorros se aproximam, prontos para receber um carinho e um cafuné. Isto explica por que, quase sempre, as reações caninas variam de acordo com o estado de espírito dos humanos.

Os cachorros conseguem até mesmo identificar algumas doenças. Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (2009) treinou cães para identificar neoplasias (tumores malignos) apenas pelo cheiro. Muitas pessoas foram diagnosticadas precocemente graças ao fato apurado.

Em 2020, no auge da pandemia de Covid-19, pesquisadores da Universidade de Oxford (Inglaterra) treinaram um grupo de cães para identificar o cheiro do coronavírus em condições difíceis, como estações de trens e metrô nos horários de pico, em Londres. Na época, não havia testes rápidos para a o diagnóstico da doença.

A evolução explica

A teoria da evolução através da seleção natural das espécies, que vem sendo desenvolvida desde 1859, quando o naturalista britânico Charles Darwin publicou “Da Origem das Espécies”, ajuda a explicar os motivos de narizes e ouvidos tão refinados e sofisticados.

Enquanto a espécie humana estava se desenvolvendo, um fator preponderante foi a coluna vertebral ereta. Com isso, nossos ancestrais passaram a descortinar um horizonte mais aberto, uma boa estratégia para escapar dos predadores e encontrar as presas.

Com isso, a visão humana foi se tornando cada vez melhor. Os cachorros, no entanto, são quadrúpedes e passam quase o tempo todo com os olhos voltados para o chão: eles não precisaram criar uma visão de longo alcance.

Mas, se os olhos não são eficazes para a caça e a defesa, eles precisaram desenvolver outros sentidos, como o olfato e a audição. Os cachorros também possuem apenas dois tipos de cones, estruturas responsáveis pela identificação das cores, enquanto nós temos três.

Narizes e orelhas caninos foram convocados para suprir as necessidades da espécie, que, do contrário, teria sido extinta por não conseguir responder aos desafios da natureza. Nos cães, a audição e o olfato não chegam a ser superpoderes, mas são surpreendentes, especialmente quando comparados aos sentidos humanos.

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