Homem que salvou lobo doente e seus filhotes tem favor retribuído

É possível a um lobo demonstrar gratidão? Esta história parece responder que sim.

Os animais têm memória? Em caso afirmativo, eles conseguem reagir a elas, tomando resoluções e providências? A história de um lobo – na verdade, uma fêmea – parece demonstrar que sim.

Memorizar implica uma série de etapas: é preciso aprender, guardar e evocar informações, seja através de estímulos externos, como ver ou ouvir alguma coisa, seja de estímulos internos, como dores e pensamentos.

Até o momento, a ciência comprovou que humanos e cachorros são capazes de evocar situações vividas, trazê-las para a atualidade e reagir a situações que possam ser relacionadas. Há evidências de que todos os seres vivos possuem esta capacidade em maior ou menor grau.

A história apresentada a seguir parece confirmar que a memória não é um atributo exclusivamente humano e talvez os cachorros a tenham adquirido de seus ancestrais – e não no nosso convívio.

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O acidente

Muitos anos atrás, um caçador deparou-se com uma situação crítica. Ele estava espalhando procurando presas junto às marchas do Coho Creek, um riacho próximo a Wasila, no sul do Alasca (EUA), quando encontrou uma loba.

O animal estava preso pela pata dianteira a uma armadilha para ursos. Tratava-se de uma fêmea de lobo-ocidental, uma espécie relativamente comum no Alasca e no Canadá, e ela estava em maus lençóis.

Sozinha, a loba não conseguiria se desvencilhar. Por outro lado, tentar soltá-la da armadilha seria pedir um ataque frontal: os lobos estão no topo da cadeia alimentar e raramente perdem uma presa tão próxima.

O homem e a loba

O caçador ficou assustado, mas sentiu que deveria fazer alguma coisa. A loba era grande, mas ele logo percebeu que ela estava exausta. Deveria ter ficado presa por alguns dias, estava sangrando e, quase certamente, faminta.

Observando de mais perto, o homem verificou que a loba estava secretando leite: ela deveria ter uma ninhada nos arredores e os lobinhos também estavam em situação crítica, sem alimento nem a proteção da mãe.

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Consciente de que não poderia ignorar a situação, o caçador fez uma ronda pelos arredores, até que conseguiu ouvir alguns latidos fracos. Aproximando-se, ele encontrou uma toca a menos de 1 km do local em que a loba estava presa.

Por sorte, o homem tinha uma habilidade que foi muito bem-vinda no momento: ele sabia imitar latidos e uivos de lobos. Logo que foram lançados os primeiros sons, quatro lobinhos saíram da toca. Eles estavam tão famintos que tentaram mamar nos dedos do desconhecido.

O salvador improvisado acomodou os quatro filhotes em sua bolsa e levou-os até o local em que a loba esperava, ansiosa e aflita. Os peludinhos recuperaram a alegria e saciaram a fome nas tetas da mãe.

Restava fazer alguma coisa para liberar a loba, mas o caçador ainda não se sentia seguro para arriscar a soltura. A família estava reunida, mas a mãe precisava ser alimentada. O homem recolheu restos da sua última refeição e, na semana seguinte, conseguiu caçar algumas presas para alimentar-se e oferecer à amiga improvável.

O homem estava resolvido a soltar a loba. Durante dias, ele caçou para a família e a interação com os filhotes foi mais fácil. Logo nas primeiras horas, os lobinhos passaram a demonstrar alegria na presença do caçador.

Com a loba, a situação foi mais difícil. Apenas alguns dias depois do primeiro encontro, ela deu mostras de confiança. Certa vez, ao se aproximar, o homem percebeu que a loba estava abanando o rabo – um sinal universal, entre os canídeos, de satisfação e alegria.

Libertação e amizade

Havia chegado o momento. Sem pensar muito sobre o que estava fazendo, o homem se aproximou e abriu a armadilha com algumas ferramentas, liberando a loba. Por alguns momentos, a fera permaneceu mancando, mas aos poucos foi recuperando os movimentos.

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Então, ocorreu um fato inusitado: a loba indicou, com latidos e gestos, para que o homem a acompanhasse. Ainda desconfiado, o caçador seguiu relutante os passos da loba, que fazia algumas paradas para que os filhotes a alcançassem e o herói não a perdesse de vista.

A loba levou o seu benfeitor para um campo aberto, entre o riacho e as montanhas, onde vivia a alcateia. Os lobos se organizam em grupos sofisticados, que dividem tarefas como caça, proteção e abrigo. O lobo-cinzento vive em alcateias de dez a 12 membros, que podem ser maiores na época do nascimento dos filhotes.

Satisfeita e grata, a loba apresentou os homens aos seus companheiros selvagens. Foi uma experiência que o homem nunca poderia ter imaginado: um caçador no meio de uma alcateia, interagindo com diversos lobos, que demonstravam confiança e alegria com a presença humana – pelo menos, daquele humano específico.

A gratidão

Naturalmente, o caçador não poderia ser incorporado à alcateia. Depois de ver a loba reunida com os seus parceiros, sã e salva juntamente com os filhotes, o homem afastou-se, voltando rapidamente para a cidade. Durante boa parte do trajeto, ele continuou ouvindo os uivos dos novos amigos.

Este não seria o último encontro. Muitos anos mais tarde, o homem estava novamente envolvido em suas atividades de caça e teve mais um “contato imediato” com a natureza selvagem. Desta vez, porém, era ele quem estava em desvantagem.

Envolvido nas suas tarefas, o homem não percebeu a aproximação de um urso-pardo, um dos mais temíveis predadores: os ursos marrons do Alasca nunca pesam menos de 250 kg e alguns atingem inacreditáveis 380kg.

Não havia muito a ser feito. Quando estão caçando, os ursos-pardos são velozes e ágeis e humanos não são páreos para eles. O homem passou a emitir alguns gritos, na esperança de que a fera se assustasse.

Ele usou os sons que sabia reproduzir: os emitidos pelos lobos. Então, ocorreu algo totalmente inusitado: ele viu a loba, que tinha salvado anos antes, aproximando-se rapidamente. Ela enfrentou o urso, que pareceu não estar disposto a envolver-se em uma briga.

Naturalmente, um urso-pardo é muito mais poderoso do que um lobo, mas ele sabe que os ancestrais dos nossos cachorros domésticos quase nunca estão sozinhos e caçam em grupos numerosos. O urso se afastou e o homem pôde respirar, aliviado.

Depois de muitos anos sem visitar o local, o homem foi salvo justamente pela loba que ele tinha salvado. Ela parece ter gravado na memória a atuação daquele amigo, que protegeu seus filhotes e libertou-a da armadilha.

Do contrário, ela pouco se importaria com um humano se tornando presa de um urso. Na natureza, há presas e predadores e todos sabem disso. Mas a loba reconheceu o homem e quis retribuir o gesto que ficou registrado em sua memória.

Até mesmo feras selvagens têm sentimentos, querem o melhor para a família e os amigos e demonstram gratidão com aqueles que as protegem. A história serve para bons momentos de reflexão.

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