Um ataque inesperado abalou a rotina de uma família americana no mês de abril de 2023. Milana, uma garotinha de três anos de idade, foi mordida por Bart, o cocker spaniel da família. Os ferimentos exigiram pontos, mas, mesmo assim, Clara Zetkin, decidiu não se desfazer do cachorro.
Nas redes sociais, milhares de internautas apresentaram seus pontos de vista e não faltaram críticas para Clara, uma mulher divorciada que cria a filha praticamente sozinha.
Entenda o caso
Bart, o cocker spaniel, avançou sobre a irmãzinha humana e mordeu-a no rosto. De acordo com o relato da mãe, Milana tentou montar no cachorro, como se fosse um cavalinho. Na tentativa de se desvencilhar, o peludo atacou e causou algumas lesões profundas.
Muitos tutores acreditam que os cachorros não podem avançar sobre os membros humanos da família. Não é incomum o abandono justificado pelo fato de os animais terem se tornado agressivos, seja por ciúme, seja por territorialidade.
Muitos casais também procurar afastar os animais de estimação quando um bebê chega à casa. Certamente, esta é uma mudança radical na rotina, mas a presença de um cão não significa necessariamente falta de segurança ou de higiene.
Ao contrário, muitos cachorros se tornam verdadeiras babás para os irmãos humanos, protegendo-os de tudo e fazendo companhia o tempo todo. Além disso, diversos estudos indicam que crianças que crescem ao lado de pets, especialmente no primeiro ano de vida, quase sempre são mais saudáveis e resistentes.
Clara adotou Bart quando o cachorro ainda era filhote. O cocker spaniel já estava na casa quando Milana nasceu e foi muito simpático e protetor. A tutora alegou, nas redes sociais onde contou a história da agressão, que Bart nunca atacou a garotinha e sempre foi muito cordial.
Esta mãe americana chegou a dizer – e foi “cancelada” por diversos usuários das redes sociais – que o cocker spaniel sempre foi muito manso e tranquilo; o ataque teria ocorrido em legítima defesa, nas palavras da tutora.
O ataque
A mordida de Bart não foi apenas uma demonstração de força ou território, nem pode ser classificada apenas como um “chega pra lá”. Milana teve o rosto bastante ferido e precisou ser levada ao hospital, onde as lesões foram suturadas. É possível que a garotinha fique com cicatrizes por um bom tempo.
Mas, depois do susto, a resolução de Clara surpreendeu parentes, amigos e seguidores virtuais – pessoas que não conhecem a mulher nem a criança, mas não pouparam acusações nas redes sociais. A mãe, mesmo assim, postou a sua decisão nas redes sociais.
Depois que todas as providências foram tomadas e Milana se recuperou da agressão canina, Clara levou o cocker spaniel para uma avaliação veterinária. O especialista confirmou as conclusões da mãe: o cachorro teve uma reação primária de defesa, mas não é um animal agressivo nem descontrolado.
Provavelmente, esta americana precisava ouvir a opinião do veterinário. Constatado que Bart mantém o equilíbrio emocional e que Milana conseguiu superar o episódio sem traumas, a paz doméstica foi restabelecida e Clara resolveu manter o cachorro em casa.
A repercussão na internet
Tentando justificar a sua decisão e mostrar que não é irresponsável, a mãe contou a história em detalhes no Tik Tok, mas muitos internautas não perdoaram: alguns chegaram a acusar Clara de colocar deliberadamente a vida e a integridade da criança em risco.
Clara insistiu na defesa de Bart. Ela voltou a postar os argumentos de que o cocker spaniel nunca se mostrou agressivo, nem mesmo com estranhos, é muito brincalhão e atencioso com Milana. A mãe foi veemente, dizendo que o peludo agiu em legítima defesa.
A americana trouxe mais elementos à história. Em outra postagem, ela disse que Bart não estava se sentindo bem no dia do ataque e passou praticamente o tempo todo embaixo da cama, se escondendo do movimento da casa.
Para Clara, Milana não teria como entender as condições que Bart estava enfrentando, incomodado, talvez sentindo dores e muito confuso. Para a mãe, a garotinha insistiu em brincar com o cachorro, que se encondia e evitava contato, até que avançou e mordeu o rosto da menina.
A mãe tentou orientar a criança. Vendo Bart cada vez mais acuado, escondendo o focinho entre as patas e tentando ficar sozinho, Clara chegou a repetir algumas vezes: “O cachorro precisa descansar hoje. Não toque nele, deixe-o dormir em paz”.
Mas a curiosidade falou mais alto. Como toda criança saudável, Milana insistiu em brincar com Bart, até que o cocker spaniel avançou sobre o rosto da garotinha. As consequências foram além do que a mãe esperava, mas a criança se recuperou rapidamente e já voltou a brincar com o irmão de quatro patas.
Alguns poucos internautas defenderam a posição de Clara e se solidarizaram com a mãe, que chegou a dizer: “Eu me divorciei porque meu marido não queria o Bart em casa, agora vou me livrar dele por causa de um ataque mais do que justificado?”.
Um seguidor chegou a escrever, em resposta a um desabafo de Clara: “Então, como você se sentirá depois do próximo ataque? Você é totalmente irresponsável”. Outro postou: “No final das contas, é muito triste ver que ela escolheu o cachorro em vez da segurança da própria filha”.
Mas houve comentários menos “lacradores”. Um terceiro internauta publicou: “Isto já aconteceu e a decisão já foi tomada. Parem de condenar a mãe, ela está fazendo o melhor que pode. Vocês não sabem o que aconteceu de verdade”.
Por que os cães mordem crianças?
Não é apenas impressão pensar que os cachorros, quando atacam pessoas da família, sempre investem sobre crianças. É provável que eles encarem os menores – crianças e adolescentes – como seres indefesos, que precisam ser protegidos, mas também limitados em suas ações.
Não há estatísticas precisas para o Brasil, mas, nos EUA, de acordo com levantamento do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos cinco milhões de ataques de cães ocorridos no país todos os anos, 95% envolvem crianças entre cinco e nove anos.
A proporção pode não ser tão expressiva, já que é menos frequente a comunicação de acidentes com cães investindo contra os tutores adultos, especialmente porque as consequências são sempre menos danosas.
De qualquer forma, os cachorros estabelecem diferenças entre os membros da família – e as crianças, ao que tudo indica, são consideradas frágeis, carentes de atenção e cuidados, mas não são intocáveis. Para os peludos, eles têm mais ou menos os mesmos direitos dos pequenos.
Os tutores precisam educar os cachorros desde o início da convivência – seja com a chegada de um bebê, seja com a adoção de um novo pet para uma família já formada. O ciúme não deve ser estimulado, nem tampouco a competição.
Nas brincadeiras, as crianças devem ter sempre a supervisão de um adulto. Por mais dócil e gentil que seja um cachorro, ele é capaz de morder – e isto pode acontecer quando ele se sente acuado, invadido, prejudicado de alguma forma ou sente algum tipo de dor.
As crianças também precisam ser advertidas. A mãe de Milana afirmou, em suas postagens, ter advertido a garotinha várias vezes antes do ataque, mas os adultos devem fazer um pouco mais: se a brincadeira estiver gerando desconforto, incômodo ou dor, ela deve ser interrompida imediatamente – aliás, é justamente para estas interferências que serve a supervisão dos adultos.
Um detalhe importante, revelado por pesquisa feita pela American Humane Association, mostra que a maioria dos ataques de cães em crianças (65%) atinge a cabeça ou o pescoço das vítimas. Dependendo da força do cachorro, um ferimento nessas regiões pode ser fatal.
Especialistas em comportamento animal concordam que os acidentes envolvendo cães que atacam crianças são determinados porque a estatura menor faz os peludos encararem as crianças como iguais. Além disso, o comportamento infantil é irregular e muitas vezes surpreendente, confundindo e irritando os pets.
As mordidas também podem ser acidentais, mas, nem por isso, geram consequências menos nocivas. Em uma brincadeira, cachorros e crianças passam a exibir comportamentos semelhantes: um avanço, uma mordida ou até mesmo um empurrão quase sempre causam danos graves.
Adultos e crianças podem aproveitar algumas dicas simples para não se envolverem em situações complicadas e graves:
- no caso de cachorros estranhos, é preciso perguntar antes ao tutor se o peludo gosta de interagir com desconhecidos. Ao ver o adulto fazendo esta pergunta, a criança automaticamente introjeta a orientação, sem necessidade de advertência específica (em outras palavras, as crianças repetem as nossas atitudes e gestos);
- a aproximação deve ser sempre pelas laterais, com a mão no queixo (por baixo da cabeça). As crianças aprendem rapidamente a não se aproximar com muita rapidez, a avaliar o comportamento do cachorro e a fazer carinhos apenas na mandíbula, região mais confortável para os peludos;
- quem tem medo de cachorro, ao encontrar um amigo conduzindo um peludo, precisa se comportar da maneira mais natural possível, para que a criança também não incorpore medos infundados. Não é preciso interagir, mas não é motivo para manifestações de pavor;
- se os cachorros estiverem sozinhos, passe o mais longe possível e explique os motivos para as crianças (o animal pode estar com medo, dor, fome, etc.). Desta maneira, as crianças aprendem que os cachorros podem ser agressivos ou violentos – e certamente não são passivos como bichos de pelúcia.
Ficar com o cachorro: Certo ou errado?
Muitas pessoas condenaram a atitude de Clara Zetkin, de manter o cachorro em casa mesmo depois da agressão à filha pequena. É preciso, no entanto, entender os motivos desta mulher americana e, acima de tudo, considerar que cada caso é um caso.
A tutora tem todas as justificativas para manter o cachorro. Ela o conhece desde filhote, sabe como ele age nas mais diferentes situações e deduziu que não se trata de uma ameaça à saúde e à integridade. É possível que Clara tenha igualmente considerado que o susto ensinou algumas lições, como respeitar o espaço alheio.
Os cachorros continuarão vivendo com os humanos e esta não será a última notícia sobre uma mordida. Em primeiro lugar, vamos considerar que não precisamos avaliar nada: quem não está envolvido em uma situação não tem motivos para se preocupar com ela, não conhece todos os detalhes e certamente sem coisas mais importantes com que se ocupar.
Mas, em um episódio semelhante, é muito importante que, se a avaliação foi a de que a convivência se tornou impossível, o cachorro precisa ser encaminhado a um novo lar adotivo: ele não é um traste inútil, que possa ser abandonado em um lugar qualquer.
Além disso, ele já foi escolhido uma vez. Alguns meses ou anos antes da agressão, um membro da família recebeu o cachorro em casa. Foi uma opção, como tantas outras. Por outro lado, não é uma opção jogar o cachorro fora, seja porque ele se mostra agressivo, está doente, ficou grande demais ou “atrapalha a rotina”.
Mas então, qual é sua opinião?