Algumas pessoas adotam o regime vegano para cães, por serem veganas ou por quererem uma vida saudável para os pets.
O veganismo não se limita apenas à alimentação. A filosofia rejeita o uso de qualquer produto que seja feito de matéria-prima animal ou tenha sido testado em animais. O regime vegano faz algum sucesso entre os cães pelo menos desde os anos 1960, principalmente em função do Bramble, um collie britânico que viveu 27 anos com uma dieta baseada em vegetais orgânicos. O veganismo é um pouco mais antigo: existe formalmente de 1944.
As razões que fomentaram o surgimento do movimento vegano são totalmente justificáveis: um vegano condena a exploração e os maus tratos dos animais e também zela conservação do planeta: para termos “o bife nosso de cada dia”, cada vez mais florestas são tombadas e dão lugar a pastos. O gado também é responsável por parte das emissões de metano da nossa produção econômica.
O veganismo também se posiciona contra o uso de cobaias no desenvolvimento de produtos farmacêuticos e cosméticos. Desta forma, um vegano não usa maquiagem testada em porcos (que apresentam a textura da pele semelhante à nossa e, por isso, são usados pela indústria de cosméticos), nem veste sapatos e luvas de couro, não se enfeita com pérolas ou plumas de aves, não faz uso da cera nem do mel de abelhas.
O movimento é justo, apesar de parecer, à primeira vista, um pouco radical demais. É preciso analisar também os custos da produção agrícola: com o abate de animais e o uso de defensivos agrícolas, os alimentos são mais baratos – e mais acessíveis aos pobres. De qualquer forma, nem veganos nem carnívoros encontraram ainda a fórmula para acabar com a miséria e a pobreza.
Regime Vegano para Cães: Vale a pena?
Mas será que vale a pena tornar o cachorro vegano? Na verdade, ele nunca será vegano – apenas humanos podem escolher este ou aquele modo de vida. Mas uma dieta com grãos integrais, verduras, legumes, frutas e raízes pode ser opção para a alimentação dos cães?
A tutora do Bramble tinha certeza disso. Anne Heritage afirmava que o collie era uma inspiração e servia para demonstrar que “se você comer as coisas certas e praticar exercícios, poderá prolongar a sua vida com muita qualidade”.
Cães, no entanto, ainda não se preocupam com questões existenciais, tais como “quem eu sou?”, “de onde eu vim?” e “para onde eu vou?”. O veganismo é uma forma diferente de viver, sem prejudicar as demais formas de vida animal do planeta.
Os veganos são contrários ao uso de animais para qualquer benefício humano – não apenas alimentação, mas vestuário, pesquisa farmacêutica, etc. Eles não usam roupas de couro, nem cosméticos testados em porcos, por exemplo. Um cachorro (ou qualquer outro pet), portanto, poderá ter a dieta modificada, nutrindo-se como um vegetariano. Mas ele nunca será um vegano.
Um cachorro vegano poderá desenvolver algumas deficiências nutricionais, em função da dieta alimentar adotada. Os tutores precisam ficar atentos para fornecer os suplementos necessários, evitando problemas de saúde e de funcionalidade.
Cabe aos tutores, igualmente, verificar a procedência e a formulação desses mesmos suplementos. Muitos destes produtos, como as suplementações de zinco, cálcio, ferro, etc., são sintetizadas a partir de substâncias animais, que são contraindicadas para os veganos.
Estudos e pesquisas indicam que um regime vegano pode ser oferecido para os cães, a menos que algumas condições de saúde contraindiquem a medida. Com relação aos gatos, por exemplo, sabe-se que a alimentação vegetariana está relacionada a certos problemas cardíacos e oftalmológicos.
Ocorre que os gatos, na natureza, são exclusivamente carnívoros. Isto significa que eles só comem o que caçam (gatos-do-mato geralmente caçam roedores e aves). Os cachorros, ao contrário, apesar de uma dieta majoritariamente carnívora, também comem algumas frutas e raízes que encontram nas matas. O organismo dos cães aceita bem os vegetais, apesar de não ser um animal herbívoro (nem onívoro, que come de tudo).
Regime Vegano para Cachorros: Desvantagens e vantagens
De qualquer modo, alguns problemas podem surgir. Os tutores que optam pelo regime vegano estão defendendo alguns princípios e valores; portanto, precisam estar prontos a arcar com alguns desequilíbrios e transtornos.
O principal distúrbio que pode ocorrer com cães veganos é o desequilíbrio entre anabolismo e catabolismo – dois processos metabólicos relacionados aos músculos. O primeiro se refere à construção, desenvolvimento e reparação do tecido muscular e o segundo, à destruição deste mesmo tecido, em função, do desgaste natural provocado pelo uso contínuo (ou ampliado, no caso de pessoas e cães com atividade física intensa).
Nos cães veganos, o anabolismo é relativamente comprometido. Cães de grande porte podem precisar de porções maiores de proteínas vegetais para manter os músculos fortes e saudáveis. O problema é bem mais leve em cães pequenos e médios.
Outro problema comum é a perda do brilho e da sedosidade dos pelos, que está relacionado à carência de colágeno, nutriente presente em tendões e articulações. Os cães que não comem carne ficam menos “vistosos”, mas esta condição não prejudica a saúde.
Mesmo assim, as vantagens da alimentação vegana para os cães são inúmeras:
- os alimentos são saudáveis, seguros e naturais;
- a produção reduz o impacto sobre o meio ambiente;
- o sofrimento dos animais usados para alimentação são reduzidos;
- o sistema cardiorrespiratório se torna mais resistente;
- a pele é muito beneficiada pela dieta vegetariana;
- a retenção de líquidos, geralmente evidente no inchaço abdominal, deixa de ser um problema;
- os riscos de sobrepeso e obesidade são minimizados.
A palavra dos especialistas
Os veterinários, no entanto, estão muito distantes de concordar com a inglesa. Vale lembrar que os cachorros são animais carnívoros, isto é, desenvolveram um organismo apto a ingerir e absorver os nutrientes fundamentais a partir da carne.
Eles são caçadores naturais – basta ver um cãozinho explorando um ambiente para entender que ele está sempre “levantando caça”, mesmo que não haja caça nenhuma por perto. Além disso, os cachorros possuem um intestino relativamente curto, dimensionado especialmente para absorver proteínas e alguns minerais e vitaminas da carne.
Os herbívoros apresentam intestino longo, através do qual os nutrientes vão sendo absorvidos lentamente. O aparelho digestório dos cachorros não é eficiente para metabolizar as vitaminas, minerais e principalmente as proteínas vegetais – presentes nas leguminosas, como feijões e lentilhas, por exemplo. Fundamentais em um regime vegano.
Isto significa que um cachorro vegano necessitará de uma quantidade maior de alimento para absorver a mesma quantidade de nutrientes. Ao comer uma cenoura, por exemplo, boa parte das vitaminas, açúcares e sais minerais é desperdiçada, sendo eliminada nas fezes.
Seja como for, um cachorro pode viver com uma dieta estritamente vegana, mantendo uma saúde de ferro e resistência de um campeão: eles podem prescindir da carne (in natura ou processada na ração, a mais comum entre os pets), apesar de não fazerem isso voluntariamente: somos nós quem decidimos o que e quando eles comem.
O tema, de qualquer forma, ainda é controverso. Não há consenso entre especialistas sobre a adoção de uma dieta estritamente vegana para cães. O trato gastrointestinal dos nossos peludos foi projetado pela natureza para digerir carne – e aproveitar todos os nutrientes destas refeições. Igualmente, não são conhecidos os efeitos da alteração no longo prazo.
Alterar drasticamente o regime alimentar é uma tarefa que requer muito cuidado e vigilância por parte dos tutores. Não basta trocar a ração sabor carne, frango ou peixe por produtos formulados à base de vegetais: é necessário garantir que os pets estejam recebendo todos os nutrientes de que necessitam para preservar a saúde e a qualidade de vida.
Se você pretende ter um cão vegano, o ideal é acostumá-lo desde cedo e contar com o acompanhamento de um veterinário especializado neste tipo de dieta. É provável que o pet precise receber alguns suplementos, para absorver nutrientes que não estão presentes nos grãos, frutas, verduras e raízes.
É importante ter em mente que as necessidades proteicas são individuais e dependem de uma série de características, tais como sexo, idade, condições gerais de saúde, frequência e intensidade dos exercícios físicos, etc. Um cão atleta precisa de uma quantidade maior de proteínas – para refazer e desenvolver os músculos – do que um simpático cãozinho idoso que dorme a maior parte do dia e tem, como aventura maior do dia, caminhar até a esquina da rua e voltar para casa.
O alimento vegano para cachorros
Existem produtos industrializados ou semi-industrializados para cães que não apresentam ingredientes animais na formulação. São rações vegetarianas. Estas são as melhores opções para quem pretende introduzir o veganismo aos seus pets.
É importante certificar-se da procedência e sempre conferir os rótulos, para garantir que os cachorros recebam todos os nutrientes de que necessitam. Não adianta apenas, por exemplo, trocar determinada quantidade de proteína animal pela vegetal. O organismo canino (de forma semelhante ao nosso) não consegue processar a proteína vegetal de forma eficiente.
Aumentar a quantidade diária ingerida não é adequado – o cachorro acabaria engordando, com todos os inconvenientes do sobrepeso e obesidade. O ideal é encontrar rações que, além das quantidades necessárias de proteína vegetal, também sejam ricos em vitamina C, que facilita a absorção desta proteína pelo aparelho digestório dos cães.
A melhor escolha para quem pretende instituir um regime vegano para os cachorros, de qualquer forma, é a adoção de rações balanceadas, compradas já prontas. A menos que você seja graduado em Nutrição – ou tenha muito tempo para pesquisar as diferentes combinações de alimentos para uma refeição adequada –, não vale a pena preparar a comida do cachorro em casa.
É possível também que o pet rejeite algumas delícias vegetarianas – ele pode adorar frutas (confira as que os cachorros podem comer), mas odiar tubérculos, por exemplo. Nas rações industrializadas, os nutrientes já estão presentes na medida certa, sem risco para os cães.
É muito provável que o alimento vegano para cães precise ser suplementado com algumas substâncias. Os sais de ferro, por exemplo, são fundamentais para a produção de hemoglobina, responsável por transportar oxigênio, através do sangue, para todas as células.
A carência de ferro na dieta causa anemia ferropriva, que prejudica gravemente a saúde dos cachorros e também abre porta para outras doenças – um pet anêmico é mais suscetível a infecções virais e bacterianas, além de tornar-se apático, pouco disposto a interagir com a família.
Os riscos dos alimentos veganos para cachorros
Mesmo com uma dieta vegana balanceada e com acompanhamento veterinário constante (fundamental para todos os cães, mas especialmente para os que têm a dieta sensivelmente modificada – ocorre o mesmo com animais que precisam de alimentação especial em função de deficiências hepáticas ou renais), existem riscos em trocar a alimentação.
Os filhotes se adaptam com mais facilidade ao regime vegano, desde que sejam apresentados a ele logo depois do desmame. Cachorros adultos e idosos quase sempre resistem à substituição e podem apresentar problemas na absorção dos nutrientes. É preciso que a mudança seja gradual.
Os cães com problemas crônicos de saúde – diabetes, hipotireoidismo, convulsões, etc. – e os que estão convalescendo de traumas (uma queda ou atropelamento, por exemplo) não devem ter a alimentação substituída. A troca deve ser gradual, feita apenas depois da recuperação da saúde.
Um problema relativamente comum nos primeiros dias da adoção do regime vegano é o excesso de fibras. Fibras são substâncias presentes em determinados alimentos (muitos vegetais são ricos nelas), que não são digeríveis. A função básica é aumentar o volume de fezes e retardar o processo da digestão.
As fibras podem ser insolúveis ou solúveis em água ou gordura (hidrossolúveis e lipossolúveis, respectivamente). A elevação nos alimentos costuma gerar prisão de ventre, flatulência, dores abdominais e, claro muito cocô.
Nos primeiros dias do regime vegano, aumente a oferta de água para o cachorro (pode ser necessário usar uma seringa sem agulha para injetar líquidos na garganta, especialmente para os que não gostam de beber água) e fique atento. As diarreias são corriqueiras, mas observe a presença de sangue ou muco – o cocô fica mais escuro e muito mais fedido.
O veterinário precisa acompanhar o cachorro vegano, analisar as condições clínicas e, se necessário, solicitar exames de laboratório. Com a dieta diferente, os cães podem ter as seguintes deficiências:
- deficiência proteica total;
- de ácidos graxos essenciais (não produzidos pelo organismo);
- de alguns aminoácidos específicos;
- de algumas vitaminas, especialmente a C e as do complexo B.
Além disso, o médico ficará atento à possibilidade da redução da absorção geral dos nutrientes e aos quadros prolongados de diarreia e flatulência, em função do aumento do volume de fibras ingeridas nas refeições.
É importante lembrar que o regime vegano não traz nenhum benefício comprovado para os cachorros. A alimentação diferenciada pode fornecer todos os nutrientes necessários – inclusive para filhotes, idosos e doentes –, mas não acrescenta nenhum extra, seja na qualidade de vida, seja no comportamento dos pets.
Pode ocorrer de, depois de um período com os novos alimentos, os cachorros deixem de exibir sintomas de alergias, por exemplo. Isto, no entanto, não se deve à troca dos nutrientes. É provável que o pet tivesse uma leve intolerância (à lactose, por exemplo) e, sem ingerir leite e derivados, o desconforto foi neutralizado.
Por outro lado, cães alimentados com frutas, legumes e verduras terão o sistema digestório às voltas com a metabolização de alguns nutrientes estranhos à espécie. Eles podem se ressentir do consumo de algumas vitaminas ou sais minerais – e também da quantidade ingerida em uma refeição. Estes incômodos, no entanto, não são permanentes.
Mesmo que você não pretenda tornar-se vegano – com toda a família – é importante introduzir alguns vegetais da dieta dos cachorros. Frutas, legumes e verduras contribuem para a saúde da pele, melhoram a hidratação e fornecem nutrientes dos quais os cães não necessitavam quando viviam na natureza, mas são imprescindíveis desde que eles se tornaram os melhores amigos dos homens. E das mulheres também.
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