Cachorro pode comer frango cru?

Pode ser perigoso oferecer frango cru para o cachorro comer. Entenda por quê.

Cachorro pode comer frango cru? Hoje em dia, um número cada vez maior de tutores está trocando as rações industrializadas pelas chamadas comidas naturais. Existe até uma dieta baseada apenas em alimentos crus, mas pode ser perigoso oferecer a carne de frango (e de outras aves) crua.

A dieta baseada em alimentos crus, inclusive carne de vaca, porco e frango, é conhecida como crudivorismo, quando é adotada por humanos, e como BARF (biologically appropriate raw food, ou comida crua biologicamente adequada), pelos animais de estimação.

Um pouco de história

Os animais predadores, como é o caso dos lobos e dos cachorros selvagens, alimentam-se basicamente de carne crua. Os cães domésticos, no entanto, passaram a conviver com os humanos quando estes já haviam domesticado o fogo – um longo processo que teve início há 1,8 milhão de anos, com o Homo erectus.

Os cães e os humanos convivem há cerca de 15 mil anos (ou até mais), quando passaram a caçar juntos. Muito antes dessa época, os alimentos já eram submetidos ao fogo, para ficar mais macios e apetitosos (arqueólogos já encontraram fogueiras com restos de peixes na brasa datados de 760 mil anos).

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Portanto, as duas espécies se alimentam de comida cozida há muito tempo – e isto trouxe alguns benefícios. De certa maneira, pode-se dizer que os organismos dos cachorros e os humanos modernos evoluíram usando o fogo para processar os alimentos.

Há 15 mil anos, os humanos ainda eram nômades, mas começaram a estabelecer os primeiros assentamentos estáveis pouco depois, sempre ao lado dos cachorros, que atuavam tanto nas caçadas como na proteção dos acampamentos e das primeiras aldeias.

Naturalmente, parte da dieta era consumida in natura, no caso de frutas, legumes, raízes e folhas. O hábito de cozinhar os alimentos, no entanto, garantiu maior proteção à saúde, já que o calor intenso é capaz de destruir alguns micro-organismos presentes na carne crua, que podem ser nocivos à saúde humana e canina.

Os perigos do frango cru para os cachorros

O principal risco de oferecer frango cru para os cachorros comerem é a contaminação da carne. A salmonelose, uma infecção gastrointestinal, é a infestação de qualquer tipo de proteína de origem animal por bactérias do gênero Salmonella.

Trata-se de germes da família das enterobactérias, transmitidas pela ingestão de carnes cruas ou mal cozidas, especialmente do frango e de outras aves (peru, codorna, pato, etc.). A Salmonella também pode estar presente em ovos e laticínios.

A proliferação excessiva destes micro-organismos, que colonizam naturalmente o organismo de animais, pode ocorrer não apenas durante a criação, mas também no abate, manipulação e até mesmo por problemas na distribuição e estocagem de peças de aves, suínas e bovinas desde a fazenda até a prateleira do supermercado (por problemas de refrigeração, por exemplo).

A Salmonella está adaptada para colonizar o intestino dos mamíferos (inclusive humanos) e, quando descontrolada, provoca alguns transtornos. A transmissão também pode ocorrer pela ingestão da água, especialmente em locais sem tratamento do esgoto doméstico e industrial.

Uma das bactérias responsáveis pela doença é a Salmonella typhi, que provoca a febre tifoide, uma doença muito mais severa, com elevada taxa de óbitos entre os pets. As demais espécies geralmente causam vômitos e diarreias, mas, mesmo nos casos graves, só são preocupantes entre cachorros filhotes, idosos, portadores de doenças crônicas e imunodeprimidos.

A salmonelose quase sempre é transmitida em função de más condições de higiene. O problema é que nunca é totalmente possível saber como foi feita a criação, manipulação e distribuição dos frangos e outras aves. Vez ou outra, os jornais trazem notícias sobre pontos de venda que foram autuados e até fechados por desligarem os balcões frigoríficos no período da noite, por exemplo.

As cadelas grávidas, mesmo assintomáticas, também podem transmitir a salmonelose para as crias. Em geral, os cães adultos saudáveis não apresentam sintomas ou apenas sinais leves, como vômitos, náuseas, diarreias, indisposição, cansaço, falta de apetite e febre, acompanhadas ou não de muco e/ou sangue.

Em alguns quadros, no entanto, a gastroenterite bacteriana propicia o desenvolvimento de infecções oportunistas. É relativamente frequente a ocorrência de conjuntivite, osteomielite, pneumonia, meningite, etc.

Nós podemos contrair a bactéria não apenas com a ingestão de alimentos contaminados, mas também com o contato inadequado com as fezes de animais de estimação infectados, como cachorros e gatos.

Outro micro-organismo que pode contaminar a carne de frango crua é o Campylobacter jejuni, que coloniza a primeira porção do intestino delgado (o jejuno). É também uma zoonose, isto é, pode ser transmitida dos cachorros para os humanos.

Além das aves, a bactéria pode infectar porcos, bois e gatos. A proliferação descontrolada causa irritações na mucosa intestinal, levando a quadros de diarreias intensas. Nos casos crônicos, o C. jejuni leva os animais acometidos à desnutrição.

Os filhotes são os mais sensíveis a esta infecção, seguidos pelas cadelas grávidas e os animais com deficiências no sistema imunológico. A maioria dos casos ocorre com pets que vivem em más condições de abrigo e higiene.

O C. jejuni também pode estar presente em água contaminada e outros alimentos de origem animal (inclusive laticínios e ovos). A bactéria resiste alguns dias em objetos, como brinquedos, comedouros e roupas.

Alguns estudos indicam que o consumo de frango cru também está associado à ocorrência de polirradiculoneurite aguda. Trata-se de uma doença idiopática (sem causas plenamente definidas), mas que parece estar associada à ingestão, em longo prazo, de carnes e ossos crus de aves.

A doença afeta o sistema nervoso central (SNC). Ela prejudica a transmissão de informações do encéfalo para os membros e pode levar a paralisias graves. Em geral, a polirradiculoneurite afeta inicialmente as pernas, podendo se espalhar por todo o sistema músculo-esquelético.

O frango cozido é bom para os cachorros?

A carne de frango e de outras aves é uma excelente fonte de proteínas para os cachorros, um macronutriente fundamental para o desenvolvimento, a manutenção e a recuperação do organismo, especialmente da musculatura.

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O frango – a ave mais comum na dieta dos brasileiros – é facilmente digerida e absorvida pelo organismo dos cachorros. A carne também é fonte de gorduras, que devem ser consumidas com moderação.

Um dos cortes mais indicados é o peito de frango (sem a pele, especialmente para os peludos que têm tendência ao sobrepeso e à obesidade), que pode ser cozido apenas em água. Os tutores que quiserem deixar o alimento mais palatável podem acrescentar um pouco de sal e de óleo, sem excesso. O alho e a cebola são contraindicados para os cachorros.

Apesar de os peludos não serem exclusivamente carnívoros – os canídeos, como os lobos, raposas e cães, também comem alguns vegetais e, na convivência com os humanos, tornaram-se praticamente onívoros – comem um pouco de tudo.

O frango é igualmente uma boa fonte de ferro, sódio e também do chamado colesterol bom (HDL). Para os tutores que preparam comida caseira, o ideal é combinar a proteína animal com alguns vegetais, como grãos, frutas e legumes, para suprir as necessidades nutricionais dos cachorros e também fornecer fibras, que regularizam o trânsito intestinal.

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