A cachorra foi encontrada por duas entidades e não conseguia parar de abraçar os salvadores.
Redland é uma comunidade agrícola distante cerca de 32 km do centro de Miami Beach, na Flórida (EUA). É também a sede do Redland Rock Pit Dog Project, projeto comunitário que resgata e acolhe cães abandonados. Foi o Rock Pit Dog que encontrou Harper, a cachorra que não conseguia parar de abraçar os salvadores.
O projeto, que alimenta centenas de animais diariamente, surgiu em 2015. O nome foi inspirado em Rock Pit, uma região de Davie (uma vila na Flórida) na qual um cachorro foi encontrado mantido em cativeiro dentro de uma gaiola de arame.
O resgate de Harper
Harper estava perdida em Redland, provavelmente abandonada pelos antigos tutores. O local é um parque sem manutenção, que se tornou um verdadeiro depósito de animais indesejados. Os voluntários do Rock Pit fazem o possível para garantir as necessidades básicas, mas o número de cães e gatos vadios é muito grande.
Natalie Olivieri, membro da diretoria do Furever Bully Love Rescue, um grupo de resgate sediado em Orlando (também na Flórida), tomou conhecimento da história de Harper durante ações conjuntas das duas entidades em Redland.
Certo dia, os voluntários, em uma ação conjunta do Rock Pit e do Furever Bully, conseguiram localizar Harper. A cachorra era sempre avistada na região de Redland, mas era muito arisca e nunca se aproximava dos humanos.
Harper se aproximava dos alimentos deixados pelos ativistas dos direitos dos animais apenas depois que as equipes se retiravam. É muito provável que ela tenha passado por episódios de negligência e maus tratos, já que era totalmente avessa a qualquer contato.
A cachorra já era conhecida no local pelo menos há cinco meses pelos voluntários. Naquele dia, no entanto, ela resolveu se mostrar um pouco mais. Ela estava em uma “gangue” – um grupo com outros seis cachorros – e é possível que tenha se sentido menos amedrontada na presença dos amigos.
Natalie seguia atrás do grupo, e acabou ficando entre os demais voluntários e a matilha de cachorros, que fugiram rapidamente. Mas Harper não teve tempo para a “retirada estratégica”: ao se ver cercada pelos inimigos, a peluda simplesmente se deitou no chão, paralisada de medo.
A cachorra estava demonstrando submissão. Na linguagem corporal, ela queria dizer que não era perigosa, que não estava ali para brigar. Na mente de Harper, essa atitude talvez fosse suficiente para ela se safar ilesa.
Mas Natalie se aproximou cuidadosamente, conversando com a cachorra, na tentativa de tranquilizá-la. Mesmo assim, Harper estava petrificada, em um estado de extremo pânico. Este animal deve ter apanhado muito, para demonstrar tanto medo.
Natalie ajoelhou-se ao lado de Harper e começou a acariciar o dorso do animal. Ela conseguiu passar uma coleira em torno do pescoço da cachorra, mas ela continuava aterrorizada. Seria impossível arrastá-la sem causar ferimentos.
Outro voluntário chegou com uma grande caixa de papelão, forrada com um cobertor. Foi preciso que os dois ativistas pegassem a cachorra no colo para acomodá-la no berço improvisado, porque ela estava literalmente paralisada.
Harper foi transportada de carro para a sede do Furever Bully em Orlando. O veterinário identificou-a com anemia, vermes e uma infecção dentária. O quadro geral de saúde não inspirava maiores cuidados, mas os danos psicológicos pareciam ser insanáveis.
Durante vários dias, a cachorra se recusou até mesmo a ficar de pé. Ela permanecia prostrada em um canto do abrigo, sem interagir. Ela muito mal registrava a presença de outros cachorros e não demonstrava nenhuma curiosidade em relação ao ambiente.
Mas, sempre que um voluntário se aproximava para trazer comida ou limpar os excrementos, ela se agarrava com força, como aquele humano fosse uma tábua de salvação. Harper passou a ser conhecida como a “cachorra do abraço”. Ela parecia agradecida e aliviada, mas continuava com muito medo.
Alguns dias depois, medicada, esterilizada e vacinada, a cachorra encontrou uma família adotiva. Cheryl Kessler, de Miami Beach, visitou o abrigo e decidiu levá-la para casa. A nova tutora contou que Harper está se adaptando lentamente, já explora a casa sozinha e brinca no quintal, especialmente quando as netas de Kessler estão por perto.
Ainda havia um mistério a desvendar. Harper não é uma cachorra agressiva, fato que demonstrou abraçando quase todos os voluntários do abrigo. Por outro lado, ela se mostrava extremamente arisca, sempre querendo se esconder.
A solução foi encontrada semanas após a adoção. Em visita ao veterinário, foi constatado que Harper estava grávida. Como ela estava muito abaixo do peso, os quilos extras que ganhou no abrigo e na casa nova não haviam despertado atenção, mas o motivo eram oito lindos filhotes, que vieram à luz poucas semanas depois.
Os filhotes encontraram novas famílias ainda antes de serem desmamados. Cheryl Kessler providenciou adotantes para todos os oito filhotes, que ainda estão juntos com a mãe. Harper, depois do parto, começou a mostrar que ela não era apenas uma cachorra tímida e medrosa: ela também precisava defender uma ninhada de cãezinhos, antes mesmo do nascimento.