É perigoso ter um pitbull?

A resposta pode ser sim e não. Pode ser perigoso ter um pitbull, mas é mais perigoso viver com um pitboy. Entenda…

Pitbull é uma raça canina criada para a luta. Desde que a luta com touros foi proibida na Inglaterra, em 1835, os criadores investiram em cruzamentos para obter os melhor indivíduos. O objetivo: criar animais para as rinhas de cães. Este início de história já demonstra que o pitbull é perigoso.

Felizmente, a história conta que todas as raças desenvolvidas para combate acabaram se dividindo em raças mais dóceis. Os molossoides, descendentes de cães de guerra romanos, geraram o São Bernardo e o bloodhound, raças sem características agressivas.

Caçadores, pescadores, levantadores de caça geraram os divertidos hounds e terriers. Alguém pensaria em um caçador experiente ao observ um Yorkshire terrier? Ou um dachshund?

Buldogues alemães, dobermans, mastins e staffordshire terriers já foram empregados em rinhas. Na verdade, pelas características de ataque e defesa, qualquer cão em potencial pode ser treinado para combates.

O american pitbull terrier é um cachorro robusto, atlético, musculoso. O porte médio não indica para atividades de guarda de patrimônio, mas a raça foi desenvolvida para lutar. Por isto, muitos exemplares são agressivos; volta e meia, um destes cães consegue espaço no noticiário pela sua agressividade. E as notícias quase nunca são positivas.

É perigoso ter um pitbull?

O preconceito contra o pitbull

Qualificar um cachorro como “agressivo” não é o mesmo que dizer que ele é violento. A agressividade é uma característica esperada não apenas nos cães destinados à luta, mas também naqueles empregados na guarda de rebanhos.

Nenhum pecuarista deixaria o gado sob os cuidados de um chihuahua ou de um shih tzu. Cães miniaturas não impediriam ataques de lobos e ursos. Por isto, foram desenvolvidos os boiadeiros e pastores — e todos eles demonstram agressividade.

O pitbull, mesmo com uma história de quase cem anos nos ringues, tende a exibir comportamento semelhante ao de outros cães: agressivo na hora da briga, ponderado no relacionamento com a casa e a família.

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Raças banidas

Cães atléticos, fortes e resistentes costumam se envolve em acidentes. Um São Bernardo, por exemplo, pode derrubar os tutores com facilidade.

Algumas raças caninas não são indicadas para a companhia de crianças pequenas justamente por isto: os cachorros médios e grandes podem derrubar, mesmo sem querer, uma criança de quatro ou cinco anos ou um adulto com dificuldade de locomoção.

Alguns são adestrados para que consigam desenvolvem a sutileza. Os retrievers do Labrador e os golden retrievers, por outro lado, se revelaram excelentes cães terapeutas. Apesar de grandes, eles aprenderam a conviver com crianças, idosos e pacientes internados em hospitais.

A capacidade de agredir fez com que alguns países banissem os cães de algumas raças. A discussão já aconteceu no Brasil. Em algumas cidades, apesar de a criação ser permitida, os tutores precisam conduzir os seus peludos em áreas públicas com guia curta e focinheira.

A questão central não está associada ao temperamento do cachorro, mas ao potencial de fazer estragos, caso ele seja mal treinado — e o treinamento inadequado não está apenas em estimular condutas violentas, mas também em isolar os animais, alimentar de forma precária, expor a más condições climáticas, etc.

Por isto, o buldogue americano foi banido da Dinamarca e de Singapura. Atualmente a raça é aproveitada principalmente na caça de porcos selvagens.

O bandog (um mestiço desenvolvido a partir de vårios cruzamentos, envolvendo especialmente o pitbull é os mastins), desapareceu da maior parte dos países da Europa.

A Noruega baniu o cão-lobo, um híbrido de cães e lobos americanos, obtido para realçar os instintos selvagens. A raça nunca foi reconhecida oficialmente.

O fila brasileiro, uma das poucas raças do país a obter registro na Federação Cinológica Internacional (FCI) apesar de ser considerada uma das menos adestráveis, não pode entrar no Reino Unido.

O dogo argentino, descendente do cão lutador de Córdoba (extinto) e de cruzamentos com dogues alemães, pointers e boxers, está banido da Austrália e Nova Zelândia, apesar da beleza e resistência da raça.

O tosa inu, um cão de luta e combate misto de diversas raças nativas do Japão e de cruzamentos com mastins e bull terriers, não é bem-vindo nos países nórdicos , nem na Ilha de Malta.

O cão canário, fisicamente parecido com o pitbull (mas com peito mais largo e quadris mais elevados), também não é criado na Oceania. Os cães da raça não são necessariamente violentos, mas o seu ataque é quase sempre fatal.

Para fechar a lista, o Canadá baniu o pitbull é o Reino Unido impõe severas restrições: os animais da raça só podem entrar nas ilhas britânicas depois de castrados e, mesmo assim, com autorização judicial.

Os pitboys

Donos despreparados e em alguns casos até mesmo mal-intencionados podem transformar cães em verdadeiras máquinas programadas para matar. Todos nós conhecemos a história de algum cachorro criado preso em um fundo de quintal que é potencialmente assassino.

Os cães são animais gregários. Desde que a espécie surgiu, eles vivem em bancos bem organizados, onde cada indivíduo sabe o que se espera dele. Na parceria com os humanos, eles foram selecionados para serem dóceis, afetuosos, companheiros, leais, só atacar em caso de perigo.

Milênios depois, eles continuam mantendo estas características positivas — e é justamente por isto que a parceria se mantém até hoje, com uma série de benefícios para os dois lados.

Os pitboys — apelido usado para jovens (em maioria do século masculino) de porte físico avantajado — gostam de se envolver em brigas, especialmente durante as noitadas. Muitos deles são acompanhados por pitbulls (obrigando os animais a deslocar grandes pesos, saltar de grandes alturas, atacar tudo o que estiver à frente), mas, quando esses brutamontes se cansarem do brinquedo, eles certamente recorrerão a outras raças.

O comportamento do pit bull

Por que tanta gente tem medo de pit bull? Porque os cães da raça, além da agressividade acima da média, são também fortes, ágeis, velozes, resistentes à dor. São também uns “tipinhos invocados”, daqueles que não levam desaforo para casa, venha de quem vier.

Estas características, presentes no pitbull, são comuns a diversas raças de cães. Elas podem ser potencializadas pela rabugice e pelo mal humor, quase sempre determinados pelo medo, insegurança, necessidade de proteger o território, etc. Imagine um pitbull rabugento…

Um cão musculoso e de mordida forte é um perigo para qualquer um. Ninguém se importa se um yorkshire ou um pinscher é agressivo. As mordidas podem ser doloridas, mas as possibilidades de neutralizar o ataque são infinitas.

É perigoso ter um pitbull?

No caso do pitbull, não é assim. Alie-se a isto o fato de que ele é territorialistas e consegue escalar muros com facilidades e o potencial de estrago precisa ser muito bem analisado.

A diferença entre o pitbull e os outros cães está justamente nisto. Ele é forte, agressivo, agitado e tem uma mordida quase mitológica. Fora isto, é um cão como outro qualquer.

Antes de adotar um pitbull, pense que ele precisa de espaço para se exercitar, caminhadas em ritmo intenso, não sabe avaliar a própria força física (por isto, pode derrubar objetos — e pessoas — com facilidade).

Não o deixe isolado — fato que o torna ainda mais violento —, nem entediado — condição em que ele pode se mostrar agressivo e destrutivo. Veja-o como o seu grande companheiro. Analise o comportamento constantemente e corrija eventuais maus hábitos. O pitbull se tornará um amigo inesquecível, da mesma forma que qualquer outro cão.

O folclore sobre o pitbull

O pitbull é a bola da vez. Sempre que se pensa em cachorro bravo, a primeira imagem que vem à mente é a de um pitbull feroz. Em função disto, criaram-se muitas lendas sobre a raça.

“Todo pitbull é bravo”.

Generalizações dificilmente são úteis para entender um assunto, seja qual for. A ferocidade está vinculado à dois aspectos: a herança genética e a educação.

Canis sérios e preocupados em desenvolver a raça estão empenhados em selecionar os cachorros e cadelas mais dóceis e amigáveis para os cruzamentos. E o adestramento adequado se encarregará de aumentar as características positivas e minimizar ou neutralizar as negativas.

“O cérebro do pitbull cresce mais do que a caixa craniana permite”.

Este mito foi cemprestado dos dobermans, outra raça que teve de conviver com a “fama de mau”. Isto estaria envolvido em terríveis dores de cabeça, que os tornariam ainda mais diabólicos.

Na verdade, os dobermans podem  sofrer com cefaleias, que não é uma doença comum entre os pitbulls. Mas os dobermans sofrem mais com o péssimo hábito de cortar as orelhas, que deixa o canal auditivo aberto e suscetível a infecções. As orelhas do pitbull também costumam ter as orelhas “esculpidas”.

Quanto ao cérebro, a natureza precisou de milhões de anos para criar caixas cranianas compatíveis com o encéfalo. Um recuo evolutivo em apenas uma raça não seria possível.

“O pitbull é bravo porque passou muito tempo nas rinhas de cães”.

É fato. Nós desenvolvemos a raça justamente porque gostávamos (gostamos?) de esportes sangrentos, que nem deveriam ser chamados de esporte.

Estes esportes, no entanto, estão banidos há décadas (em algumas regiões, eles nem sequer foram introduzidos). Mesmo que os comportamentos tenham tendência a se reproduzir, centenas de gerações separam os atuais pitbulls de seus avós lutadores.

Nós já selecionamos outros genes que nos interessam: os relacionados à capacidade de socialização, do afeto, da segurança emocional. Alguns genes da violência podem estar presentes em alguns indivíduos, mas isto é a exceção e não a regra.

“O temperamento de um pitbull é instável, sempre imprevisível”.

Na verdade, é possível prever o temperamento de quase todos os animais que partilham o planeta conosco. O pitbull é nosso parceiro: faz parte daquele grupo que chamamos de “melhores amigos”.

Não existem cães instáveis e imprevisíveis, a menos que eles desenvolvam alguma doença emocional. Os pitbulls demonstram todos os sinais comuns aos nossos peludos: alegria, excitação, ansiedade, prazer.

Mesmo quando submetidos a estresse, existe um crescendo de emoções que eles demonstram. Um cachorro dormindo não acorda e em segundos ataca alguém que esteja ao lado. Isto é ficção científica da pior espécie.

“As mandíbulas do pitbull travam no momento da mordida”.

Nenhum cachorro tem este “dom”. Apesar de potentes, maxilar e mandíbula de um pitbull são anatomicamente iguais às de qualquer outro cão.

Os cachorros não conseguem travar a boca para causar um estrago maior. Em função da sua tenacidade (ou teimosia) um pitbull pode permanecer durante alguns minutos agarrado a um pneu pendurado em um galho, mesmo que o corpo esteja suspenso no ar. Mais que isto, só mesmo se ele fosse mágico.

O travamento da boca não é exclusividade dos pitbulls. Falam a mesma coisa sobre boxers e staffordshire terriers. Vale ter em mente que, quando um cachorro morde qualquer coisa, ele quer se desvencilhar daquilo o mais rápido possível, e não eternizar a mordida.

É perigoso ter um pitbull?

“A mordida do pitbull é a mais potente entre todas as raças”.

Na verdade, ele fica atrás do pastor alemão, doberman, buldogue inglês, rottweiler, cão-lobo, mastim napolitano e kangal (a mordida mais forte pertence a cães desta raça turca). E todos eles perdem para hienas, leões, onças-pintadas, tigres e, é claro, tubarões-brancos (que não são comuns no interior e nem mesmo no litoral — são peixes de águas profundas).

A mordida de um pitbull exerce pouco mais de 112 kgf/cm2. Nada mal, para um cachorro de porte médio. Seja como for, é muito difícil precisar a força de uma mordida. Além da capacidade anatômica, é necessário avaliar a motivação.

Se eles mordessem sempre com a mesma força (ou algo semelhante), seria impossível treiná-los em agility, atividades policiais, defesa e ataque. Aliás, seria impossível facetar essa imensa força: eles já teriam dominado o mundo há muito tempo.

“Quando um pitbull ataca um bicho, é sinal de que pode atacar uma pessoa”.

Exercícios de futurologia podem ser feitos por qualquer pessoa, mas não existem evidências de que um cão que não goste de outros pets seja mais propenso a também não gostar de pessoas.

Os cães boiadeiros e pastores, por exemplo, não são muito sociáveis. Eles se acostumaram a permanecer isolados, durante séculos cuidando de carneiros e vacas.

Por outro lado, os cães de caça podem perseguir e matar uma presa, mas nem por isto são agressivos. A caça à raposa (mais um “esporte” de triste memória), por exemplo, era praticada por matilhas numerosas. E os beagles não se atacavam uns aos outros.

“Os pitbulls não sentem dor”.

Esta é mais uma lenda do tempo das lutas. Os pitbulls, assim como os buldogues ingleses, são muito resistentes à dor. Mas isto não quer dizer que eles não sintam nada.

Nas lutas, os pitbulls produziam mais adrenalina — o neurotransmissor associado à capacidade de avaliação das possibilidades de ataque e defesa — e, temporariamente (por alguns minutos), conseguiam “esquecer” a dor. Depois, quando eram premiados pela vitória, eles associavam o prêmio a bem-estar e se dispunham a continuar lutando.

O mecanismo é semelhante em todos os animais que se envolvem em combates (inclusive os peixes beta). Quanto aos perdedores, eles não sobreviviam para desenvolver estrutura que os impedissem de voltar à rinha.

O que fazer?

Quem convive com um pitbull sabe que ele não é um cachorro perigoso. Pelo menos, a maioria deles. No Brasil, há mais de 20 anos, canis sérios selecionam animais mais dóceis para serem usados nos cruzamentos.

Os filhotes já demonstram o comportamento excessivamente agressivo quando ainda estão amamentando. É preciso que estes animais sejam castrados e adotados por tutores experientes.

Ninguém espera que um cachorro perca totalmente a sua agressividade, porque ela faz parte da estrutura emocional da espécie. Um animal que seja constantemente recalcado em suas atitudes crescerá desajustado. Poderá se tornar um cão covarde por toda a vida, como também poderá “explodir” em qualquer momento da sua vida. As duas situações são ruins.

Nossos cães já são dóceis e afetuosos. Os animais violentos e solitários permaneceram na selva. Os mais tranquilos e obedientes vieram conviver com os homens. Eles estão conosco há milênios.

Esta é a principal evidência de que o pitbull não é perigoso. Mas o bicho homem, este pode fazer qualquer coisa — para o bem e para o mal.

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