Alguns mais, outros menos, todos os cachorros sentem frio. Veja como protegê-los no inverno.
No Brasil, faz calor na maior parte do ano. Quando chega o inverno, no entanto, é preciso proteger os cães das frentes frias e massas polares, que às vezes alcançam até a região Norte. Apesar das lendas urbanas, todo cachorro sente frio.
Roupas, casas bem vedadas e mantas são alguns dos recursos que os tutores podem usar para garantir o conforto térmico dos cachorros. Vale lembrar que a sensibilidade ao frio varia de acordo com a idade, a raça, o tipo de pelagem, o porte físico e o nível de atividade.
Cachorros realmente sentem frio?
Com a entrada de frentes frias e a consequente queda das temperaturas, os cachorros sentem a diferença. Alguns pets chegam até mesmo a “prever” o frio: eles começam a procurar esconderijos alguns dias antes de os termômetros despencarem. Muitos tutores percebem o comportamento, mas não existe uma explicação científica para o fato.
Felizmente, os cachorros costumam dar alguns sinais de que estão desconfortáveis. Os tutores devem ficar atentos à linguagem corporal e ao comportamento dos peludos. Esconder-se é o indicativo mais evidente.
Os cães de menor porte também tendem a apresentar tremedeiras. Este sintoma pode ser exibido por qualquer cachorro, mas, nos nanicos, é muito mais evidente. Chihuahuas e pinschers miniatura são famosos pelos tremores.
Quando a temperatura cai, os cachorros podem precisar de uma ajuda extra para aquecer o corpo. Eles não sentem frio como os humanos – afinal, a imensa maioria é dotada de um casaco natural –, mas podem apresentar um ou mais dos seguintes sinais:
- tremer o corpo;
- deitar-se com o corpo enrolado;
- evitar pisos frios;
- esconder-se pelos cantos da casa;
- reduzir a intensidade das atividades físicas.
Apesar de os tremores preocuparem bastante os tutores, eles não são sinais de que alguma coisa esteja muito errada. É uma estratégia bastante eficiente, que acelera o ritmo cardíaco e eleva a temperatura corporal em alguns décimos.
O deitar-se enrolado também é característico. Nesta posição, os cachorros procuram ocultar o focinho, a barriga (geralmente sem pelos) e as patas. Com o nariz protegido (quase sempre pela cauda), o ar inspirado se aquece antes de entrar nas vias respiratórias, ajudando a aquecer o corpo inteiro.
Um jeito simples de verificar se o cachorro está sentindo frio é sentir a temperatura nas patas, orelhas e nariz. Se essas áreas estiverem geladas, o cachorro está desconfortável. Quase nunca é sinal de urgência, mas um cobertorzinho é sempre bem-vindo.
É importante considerar que a sensação de frio é diferente entre cachorros e humanos. Além das defesas naturais – mesmo curta, a pelagem oferece proteção adequada – os peludos não sentem frio “por antecipação”. Eles não consultam a previsão do tempo e dificilmente compreendem que uma queda de temperatura promete uma noite gelada.
Quando começa a ser perigoso?
Uma postagem que sempre circula na internet durante o inverno mostra cães de regiões temperadas e polares enfrentando temperaturas baixíssimas, quase sempre desempenhando algum tipo de trabalho: caçando, puxando trenós, etc.
Em paralelo, as últimas fotos mostram cães brasileiros (mas também poderiam ser moradores de outras regiões tropicais). Enquanto os colegas enfrentam nevascas e temperaturas negativas, os nossos peludos já procuram uma cama quente quando o termômetro cai para 15°C.
O meme é engraçado, mas pode-se dizer o mesmo dos humanos. Um morador das regiões Norte e Nordeste sente frio ao ter de enfrentar, por exemplo, as madrugadas geladas de São Paulo e Curitiba. Tudo depende dos hábitos.
Como regra geral, pode-se dizer que, quando a temperatura cai para 16°C ou menos, todos os cachorros brasileiros sentem frio – uns mais, outros menos. Os cães de pelos longos e mais escuros são mais resistentes.
Animais de raças que vieram do frio, como huskies siberianos, samoiedas, malamutes do Alasca, São Bernardos, etc. são evidentemente mais resistentes ao frio. De qualquer forma, a percepção da temperatura varia de indivíduo para indivíduo.
Cães obesos tendem a sentir menos frio, mas esta não chega a ser uma vantagem, porque os quilos extras prejudicam a saúde em geral (coração, vias respiratórias, circulação sanguínea, articulações, etc.).
Os pequenos, especialmente os de pelagem clara e curta, são mais friorentos. Nesta categoria, entram também os cães braquicefálicos (de focinho achatado), como pugs, buldogues, boxers, etc., porque o ar atmosférico chega aos brônquios ainda frio, derrubando a temperatura corporal.
De qualquer forma, os grandões possuem uma cobertura de gordura mais espessa do que os pequenos. Diversas raças caninas também desenvolveram pelagem dupla (subpelo e pelo de cobertura), que ajuda a manter o corpo aquecido. É o caso do chow-chow, rottweiler, border collie, São Bernardo, husky siberiano, etc.
Uma pesquisa da Universidade Tufts (Massachusetts, EUA) indicou que, abaixo dos 4°C, os efeitos do frio começam a ser perigosos. Sob temperaturas negativas, cães de pequeno e médio porte não devem ser mantidos em ambientes externos por mais de 30 minutos.
Esta realidade pode ser muito diferente no Brasil, onde até mesmo os grandões se adaptam às condições climáticas do país: para quem está acostumado com 30°C, dez graus a menos já começam a causar reações. Vale lembrar que a imensa maioria das raças caninas já está no país há décadas.
Os cuidados com os cachorros no inverno
Apesar de todos os cachorros sentirem a queda das temperaturas, os efeitos podem ser mais nocivos para os filhotes e os idosos. Até os dois ou três meses de vida, os bebês devem ser mantidos com as mães, que se responsabilizam por aquecer a cria.
Em média, a partir dos sete anos de vida, o metabolismo se desacelera e os cachorros começam a exibir os sinais da idade. Desta vez, são os pequenos que levam vantagem, porque têm uma expectativa de vida mais longa, levando mais tempo para serem considerados cães idosos. Os animais sem raça definida também são mais longevos.
O sistema imunológico também é menos eficiente nos filhotes e nos idosos. Nos mais novos, o sistema ainda não está totalmente formado e nos velhinhos, o funcionamento começa a decair. O tempo frio facilita infecções como a tosse dos canis e a gripe canina, por exemplo.
Todos os cães, independentemente da idade, porte e pelagem, precisam ter recursos para se proteger contra o frio. Os tutores devem ficar atentos aos sinais e disponibilizar alguns confortos para eles:
• abrigo – especialmente para os cães que passam a maior parte do dia (ou o dia inteiro) em quintais ou jardins. Eles precisam ser uma casinha bem vedada. A porta deve ficar voltada para o norte, para ficar mais protegida dos ventos. O piso deve ser forrado com mantas e papel jornal ou papelão, trocados e higienizados regularmente;
• roupas, cobertores e mantas – estes acessórios são mais úteis para os animais que vivem em ambientes internos. Os cães podem ser cobertos, especialmente à noite, mas a maioria prefere apenas ficar ao lado de uma fonte de calor. As roupas devem ser confortáveis, não impedir os movimentos, preferencialmente de tecidos naturais, como algodão (brim) ou lã;
• luvas e botas – a maioria dos cães não gosta de acessórios nas patas, mas eles podem ser úteis para proteger contra o frio. Vale o mesmo para toucas e gorros. As luvas e botas são indicadas para proteger as patas nos passeios em dias de Sol, quando as calçadas se aquecem rapidamente, apesar das temperaturas baixas;
• “tocas” – na natureza, os lobos sabem que, quando a temperatura cai, é o momento de procurar uma toca. Em casa, os tutores podem providenciar uma caminha confortável ou mesmo a poltrona preferida, longe da passagem, com mantas e almofadas, para os pets “organizarem” o espaço;
• passeios – mesmo nos dias mais frios, as caminhadas não podem ser negligenciadas. Elas são fundamentais para garantir o equilíbrio físico e emocional dos cachorros. Sempre que possível, os tutores devem dar preferências às horas mais quentes do dia;
• banhos – a frequência deve ser reduzida e os banhos secos são mais indicados. Em casos de imersão, o pelo deve ser bem enxuto e o animal precisa ficar em local protegido, mesmo depois da agitação natural pós-banho;
• tosa – cães de pelo longo apresentam esta característica justamente como uma proteção – ao frio, à exposição excessiva ao Sol, etc. Durante o inverno, as tosas devem ser suspensas ou limitadas à retirada de nós, que podem acumular umidade e contribuir para a sensação de frio, além de facilitar irritações da pele;
• imunização – os tutores precisam manter sempre a vacinação atualizada, para evitar uma série de doenças infectocontagiosas. Nos meses mais frios, as infecções nas vias respiratórias, como gripes e resfriados, são mais frequentes;
• alimentação – existem rações disponíveis no mercado que oferecem mais calorias, acelerando o metabolismo e colaborando para reduzir a sensação de frio. Outra opção é fracionar a quantidade diária, oferecendo o alimento em duas ou três porções ao longo do dia: com o sistema gastrointestinal funcionando, o corpo fica mais aquecido.
As consequências do frio para o cachorro
Em condições extremas, um cachorro pode entrar em hipotermia e até mesmo morrer de frio. A temperatura corporal dos cães gira em torno de 38,7°C e 39,5°C; quando cai para 37°C ou menos, a hipotermia já está instalada. Nestes casos, os peludos podem apresentar arritmia cardíaca, com batimentos do coração fracos e/ou irregulares, respiração fraca, tremores e rigidez muscular.
As baixas temperaturas favorecem a letargia – muitas espécies animais hibernam durante o inverno e praticamente todas reduzem as funções orgânicas (inclusive porque a oferta de alimentos é menor). Quando o cachorro está com frio, ele pode querer apenas ficar quieto, escondido em um cantinho.
Não há nada de errado nisso, quando se trata de uma exceção – o primeiro dia de uma massa polar estacionada na nossa região, por exemplo. Mas a redução das atividades físicas não pode se prolongar. Por isso, o cachorro deve ser aquecido e estimulado a se exercitar, mais ou menos no mesmo ritmo dos dias quentes.
Do contrário, ele pode desenvolver uma série de doenças, que vão das dores musculares e nas articulações até a redução das funções hepáticas e renais, que podem se tornar crônicas. Em descanso, o sistema cardiorrespiratório é menos exigido, mas, com a frequência excessiva, podem surgir problemas no coração e nos pulmões.
O frio também facilita a instalação de infecções nas vias respiratórias, como gripes, resfriados e, caso o cachorro frequente ambientes fechados, como creches e hotéis para pets, aumenta bastante a possibilidade do surgimento da tosse dos canis.
A pelagem fria e úmida também favorece o desenvolvimento de doenças alérgicas na pele. Além disso, a umidade favorece a proliferação excessiva de fungos, que podem levar a dermatites, perda de pelos, etc.
Alguns tutores, no entanto, pecam por excesso. Um tutor sedentário naturalmente sente mais frio do que um cachorro saudável e ativo. Recomenda-se não exagerar nos cuidados, como exagero nas roupas e acessórios. Se o cachorro estiver ofegante ou salivando demais, é sinal de que os cuidados ultrapassaram os limites.