Quem observa um golden retriever caminhando autoconfiante, com a pelagem balançando em passadas ritmadas, não pode imaginar que esta raça canina descende de cães de trabalho. Ele é um dos cães mais populares no mundo todo; no Brasil, é um dos mais registrados entre os pets de porte médio e grande.
Os ancestrais do golden retriever eram cães d’água, cujas características se fixaram no leste do Canadá, em cruzamentos espontâneos. Ele é primo em primeiro grau dos retrievers do Labrador e dos terras novas. O tipo atual, no entanto, foi desenvolvido na Escócia, no século 19. A Grã-Bretanha é o país patrono da raça.
Um pouco de história
Oficialmente apresentada apenas em 1908, numa exposição, em Londres, do The Kennel Club (associação cinológica da Grã-Bretanha), a história da raça teve início muito tempo antes, na época dos vikings, povo que habitou a Escandinávia desde o século 8º.
No século 11, os vikings já haviam desenvolvido técnicas náuticas suficientes para se aventurar no mar aberto. Eles fizeram incursões (e saques) em vários pontos da costa europeia antes de navegar para locais mais distantes. Eles colonizaram a Islândia e a Groenlândia e há evidências de que também atingiram a costa leste do Canadá.
Os vikings foram acompanhados, em suas viagens, por cães nórdicos de grande porte. Quase todas estas raças já foram extintas, mas ainda há um representante finlandês para “contar a história”: o cão de urso da Carélia (região fronteiriça com a Rússia, em pleno Ártico). Ele é especializado na caça a grandes presas.
Na América do Norte, os cães vikings acasalaram com animais nativos. Bem mais tarde, a partir do século 15, outros conquistadores europeus ocuparam e exploraram o continente: portugueses, espanhóis, ingleses, franceses, flamengos, etc.
Os tripulantes desses navios eram sempre acompanhados por cães d’água, excelentes ajudantes nas muitas atividades das caravelas. No Canadá, ao desembarcarem, os peludos encontraram os cães pretos nórdicos já miscigenados e assim surgiram os primeiros terras novas. O nome genérico dos cachorros era “newfoundland”, ou “nova terra descoberta”.
Na colônia, a preferência era pelos cães de pelagem reta, considerados mais fortes e resistentes, especialmente em relação ao clima, com invernos rigorosos e verões curtos, mas muito quentes. Assim surgiram os terras novas atuais e os retrievers do Labrador.
Mas estes cães, volta e meia, geravam filhotes mais claros – são os ancestrais dos atuais golden retrievers e retrievers do Labrador amarelos e fígado (chocolate). Um empresário escocês, em visita ao Canadá no século 19, ficou encantado com os cães, especialmente os de pelagem mais longa e ondulada.
Na viagem de volta, ele levou um cachorro amarelo para a sua propriedade, na região de Tweed (sul da Escócia), a mesma em que foi desenvolvido o tecido com o mesmo nome, que é usado até hoje na indústria da moda.
Dudley Majoribanks, que em 1880 se tornou o primeiro barão de Tweedmouth, decidiu cruzar o cão canadense – que recebeu o nome de Nous – com a sua cachorra de caça referida: Belle, uma tweed water spaniel. Esta raça já foi extinta, mas está na raiz de outros cães, como o curly coated retriever.
Na primeira ninhada, nasceram três filhotes: Cowslip, Crocus e Primrose, que, com a contribuição posterior de outras raças escocesas, galesas e inglesas, são os “patriarcas” do golden retriever, ancestrais comuns a todos os cães atuais. Poucos seres no mundo podem traçar a árvore genealógica até o ascendente mais antigo.
Na exposição inicial, em Londres, os cães foram apresentados como golden flat coated retrievers (recuperadores dourados de pelo liso, em contraposição aos já conhecidos “curly coated”, de pelo ondulado ou encaracolado. O nome da raça foi encurtado na mostra de 1911.
Curiosidades sobre o golden retriever
01. Cães de Companhia
Adotados principalmente como cães de companhia, os golden retrievers são valentes cães trabalhadores. As características dos antigos animais que auxiliavam marinheiros e pescadores continuam presentes e, por isso, estes peludos precisam se manter ocupados.
02. Ajudam no resgate e salvamento
Eles são atléticos e muito vigorosos. Diversos golden retrievers são empregados em ações de resgate e salvamento, em atividades de combate ao tráfico de armas e drogas ilícitas e, como já foi dito, como suporte terapêutico. Em casa, eles também precisam ter uma rotina bastante agitada.
03. Gulosos
Os cães da raça são muito gulosos e engolem todo alimento que estiver ao seu alcance. Os tutores precisam controlar a quantidade diária de comida e resistir às tentações. Um golden retriever sabe usar muito bem as técnicas de convencimento. A alimentação balanceada previne o sobrepeso e a obesidade, bastante comuns: afetam seis em cada dez cães da raça.
04. Muita fome
O golden retriever também apresenta uma voracidade incrível: ele devora uma tigela de ração em poucos segundos. Por isso, recomenda-se fracionar a quantidade diária, oferecendo três ou quatro refeições ao longo do dia. Muitos destes peludos sofrem com transtornos gastrointestinais (vômitos, diarreias, flatulência, etc.) e é frequente encontrar golden retrievers nas emergências de clínicas veterinárias, com quadros de torção gástrica, uma condição que pode ser fatal.
05. Criança eterna
Os cães da raça apresentam desenvolvimento físico lento. A altura máxima é atingida aos 18 meses, mas a maturidade sexual costuma chegar apenas com dois anos de idade. A expectativa de vida é de 12 anos. Um golden retriever é uma eterna criança: os adultos e mesmo os idosos saudáveis continuam cheios de vida e vigorosos.
06. Mestre na linguagem corporal
O golden retriever é capaz de diferentes vocalizações, entre latidos, ganidos, uivos e choros. Ele também é um mestre na linguagem corporal, que os tutores conseguem compreender com facilidade. Mas, ao contrário da maioria dos cães, os animais da raça não usam as orelhas para se comunicar. Elas ficam sempre na mesma posição. O único movimento é levá-las para trás e achatá-las, um sinal de que os peludos estão ansiosos ou com medo. Isto acontece porque as orelhas são planas e caídas.
07. Expressivo
A boca, por outro lado, é extremamente comunicativa. Eles se expressam lambendo os lábios, mostrando os dentes, mantendo a boca semiaberta, etc. Também recebem toda a família com muitas lambidas. Mas atenção: lamber as patas excessivamente pode indicar problemas de saúde. Lamber os lábios continuamente pode indicar algum nível de estresse.
08. Amam brincar na lama
Os jardineiros primorosos podem experimentar algumas frustrações com os golden retrievers, porque eles adoram cavar buracos, rolar sobre canteiros e pisotear as plantas. Se a terra estiver úmida com a rega, melhor ainda: eles amam brincar com lama. Naturalmente, o trabalho de limpar os peludos cabe aos tutores.
09. Fertilidade
As cadelas são famosas pela fertilidade. Em média, cada ninhada é formada por oito filhotes, mas há algumas muito maiores. Em 2009, a golden retriever Giselle, que vivia em Winnipeg (Canadá), deu à luz 17 cãezinhos, todos viáveis. O Canadian Kennel Club acompanhou o parto (naturalmente, Giselle foi submetida a uma cesariana). Quem quer fazer uma criação precisa restringir o período de acasalamento para apenas um ou dois dias.
10. Displasia de quadril
Um dos problemas de saúde mais comuns é a displasia de quadril, uma condição congênita que vem sendo corrigida com a castração dos animais com histórico da doença, para que apenas os indivíduos saudáveis sejam empregados nos acasalamentos.
11. Neoplasias
Os cães da raça também são muito suscetíveis às neoplasias. De acordo com levantamento da Associação Americana de Medicina Veterinária (AVMA, na sigla em inglês), 60% dos animais que atingem a idade adulta desenvolvem tumores malignos em algum momento da vida. Os excessos alimentares parecem estar relacionados a esta propensão. Quem não pretende dar início a uma criação deve castrar os pets, para prevenir tumores nas mamas, ovários e útero (fêmeas), testículos e pênis (machos).
12. Otites e dermatites
As otites e dermatites são relativamente frequentes. Uma forma de prevenção é secar muito bem a pelagem e os pavilhões auditivos depois dos banhos e das brincadeiras com água. Transtornos oculares também podem ocorrer. As consultas regulares com o veterinário ajudam a prevenir, controlar e superar os sinais e sintomas.
13. Heroísmo
Os cães da raça são heroicos. Um exemplo disso é Todd. Em 2018, ainda filhote, este golden retriever salvou a vida de sua mãe, Paula Godwin. Durante um passeio, a tutora quase pisou sem querer em uma cascavel, serpente cuja peçonha pode ser fatal. Todd se colocou entre a mãe e o réptil, recebendo a picada. Paula correu para a emergência e felizmente os veterinários conseguiram aplicar o soro anticrotálico em tempo hábil. O fato ocorreu no Arizona (sudoeste dos EUA).
14. Padrão da raça
Os criadores do Brasil, em maioria, seguem as diretrizes da Federação Cinológica Internacional e reconhecem apenas um tipo de golden retriever: o britânico. Na América do Norte, são aceitas as variedades americana (maior e menos ágil) e canadense (mais alta e corpulenta, com pelagem bem clara, ondulada e leve). Os cães “ingleses”, na verdade, foram desenvolvidos na Escócia.
15. Hóspedes da Casa Branca
Dois golden retrievers foram hóspedes da Casa Branca, sede do governo e residência oficial dos presidentes americanos. Liberty, a cadela de Gerald Ford, esteve lá entre 1974 e 1977. Na década seguinte, Ronald Reagan manteve o cão Victory de 1981 a 1989.
16. Palácio da Alvorada
Nenhum presidente brasileiro levou um golden retriever para o Palácio da Alvorada, mas muitos famosos já circularam com cães da raça. Alguns exemplos são: a atriz Bárbara Paz e o golden Federico Fellini, a jornalista Gabriela Nolasco, com Amora e Paçoca, o apresentador André Marques e Bolinha (eles vivem com outras quatro cadelas), a jornalista Mari Palma e Chica, a ex-modelo Ana Hickmann e o Tatuí, o apresentador Marcos Mion e Pankeka e os atores Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso, com a Alice Fernanda.
17. Treinados para missões perigosas
Os tutores admiram a raça em função da beleza e camaradagem dos golden retrievers, mas eles não se destacam apenas pelo alto nível de fofura: cães da raça são treinados também para missões perigosas, como identificar e desarmar bombas, atuar em calamidades (terremotos, desabamentos, etc.) e até mergulhar para resgatar vítimas de afogamento.
18. Sofrem de ansiedade de separação
• Apesar de geralmente serem equilibrados, os golden retrievers podem sofrer com a ansiedade de separação. Alguns se tornam destrutivos, outros latem sem parar até o retorno dos tutores. Se o peludo tiver de ficar sozinho, é preciso haver atividades para ele se entreter: brinquedos, petiscos e até peças de roupas da família, para eles evocarem a memória dos parentes ausentes.
19. Goldendoodles
Alguns criadores estão cruzando poodles e golden retrievers, em busca de uma nova raça para companhia. São os goldendoodles. Apesar de bonitos e ativos, eles não são reconhecidos, porque os filhotes são muito diferentes entre si e não apresentam nenhuma uniformidade. Tecnicamente, eles são cães híbridos, sem raça definida (os populares vira-latas).
20. Gollies
Os gollies são híbridos de golden retrievers e border collies. As tentativas de fixação das características, neste caso, estão mais avançadas. Os mestiços apresentam a inteligência dos border collies (a raça mais esperta para o adestramento, de acordo com o ranking elaborado pelo especialista americano em comportamento canino Stanley Coren, uma das maiores referências da área). Mesmo assim, eles não são reconhecidos por kennel clubs e, assim, não recebem pedigrees.
21. Outras tentativas de acasalamentos
Há também tentativas de acasalamentos com huskies siberianos, corgis galeses ou com pastores alemães, ainda sem sucesso. Especificamente nos cruzamentos com os pastores alemães, há evidências de maior incidência de displasia de quadril e de alguns tipos de câncer.
22. Padrão de cores
Com alguns tipos à venda, é preciso tomar cuidado com golden retrievers brancos, vermelhos, pretos e prata. O black parece ser apenas a recuperação de alguns genes relacionados à pigmentação. Não existem cães brancos desta raça (os “ingleses” são pálidos, mas a pelagem não é branca). O “prata” é só um truque de marketing e, ao que parece, resulta do cruzamento com pastores australianos. Os vermelhos são mestiços com setters irlandeses.
23. Pelagem
A pelagem é uma das características mais atraentes. Ela pode apresentar diversas tonalidades, de bege pálido a dourado intenso. Nos filhotes recém-nascidos, a cor é mais apagada, acentuando-se a partir das 12 semanas de vida. Os tons ficam ainda mais escuros a partir dos sete ou oito anos, idade em que os golden retrievers começam a ficar um pouco mais tranquilos e bonachões, sem nunca perder o companheirismo.
O golden retriever apresenta pelagem dupla, que precisa ser escovada pelo menos a cada dois dias, para evitar a formação de nós e manter-se brilhante. A escovação é, talvez, a parte mais trabalhosa de se viver com um cão da raça. De qualquer forma, é um momento a dois para o cão e o tutor, que contribui para fortalecer os elos e aumentar a cumplicidade da dupla.
Ainda sobre a pelagem: o golden retriever perde muitos pelos, praticamente durante o ano inteiro. A queda é mais intensa na primavera e no verão. Um corte leve nas pontas pode atenuar o problema, mas é preciso ficar atento, porque o subpelo não pode ser alterado: ele é impermeável e protege os cães das variações climáticas (não só do frio, mas também dos raios ultravioleta). Os tutores devem estar preparados para receber uma nova decoração nos móveis, tapetes e cortinas.