Quando os tutores saem de casa, os cachorros sentem saudade? Descubra como eles se sentem.
Os cachorros sentem saudade, tanto dos tutores como de outros animais de estimação com quem vivem. Quando eles ficam sozinhos por muito tempo, a ausência dos familiares é percebida e, em muitos casos, também é lamentada.
A saudade que os cachorros sentem pode ser percebida em algumas alterações da rotina. É o caso, por exemplo, do fim das férias dos tutores e, mais recentemente, do retorno ao trabalho depois de um período mais ou menos longo de trabalho em casa, por causa da pandemia de Covid-19.
Alguns tutores chegam a ficar angustiados, procurando meios para tentar minimizar os efeitos da separação nos melhores amigos. Felizmente, os cachorros são extremamente adaptáveis e podem ter a saudade atenuada com algumas providências relativamente simples.
Cachorro sente saudade? A palavra da ciência
Todos os tutores podem testemunhar: os cachorros sentem saudade quando passam longos períodos sozinhos e chegam a demonstrar as suas preferências por um ou outro humano da família. A sensação é mais nítida em casos de afastamentos prolongados, como viagens.
Os cachorros também elaboram o luto, quando ocorre a morte do tutor. Sem conseguir compreender o fenômeno, eles podem passar meses procurando o amigo extinto, inclusive recusando companhia, brincadeiras e alimento.
Passado um tempo, os peludos quase sempre acabam se conformando, mas há relatos históricos de cães que passam anos esperando a volta dos tutores falecidos. É o caso de Hachiko, um akita que se tornou um símbolo de lealdade.
Depois da morte de Hidesaburo Ueno, Hachiko continuou indo todos os dias a uma estação de trem em Tóquio, a capital japonesa, onde tinha se habituado a esperar o amigo. O akita fez isso durante nove anos, de 1925 a 1935, quando morreu. Uma estátua em homenagem ao cachorro foi instalada na estação ferroviária.
Foi no Japão, na Universidade de Azabu, que uma equipe demonstrou cientificamente a saudade canina. O estudo, publicado em 2022 na revista “Current Biology”, revelou que os peludos “choram de felicidade” ao reencontrar os tutores depois de algum tempo separados.
Os níveis de ocitocina, um hormônio produzido pelo hipotálamo, se elevam quando os cachorros reveem os tutores – e até mesmo quando veem imagens ou gravações de áudio. O hormônio, que regula contrações uterinas durante o parto e estimula a produção de leite materno, é conhecido pela associação com sentimentos de amor e amizade, interações sociais e bem-estar.
Takefumi Kikusui, o líder do experimento, comprovou que os cães literalmente derramam lágrimas associadas a sensações positivas quando reveem os tutores. O “choro” já tinha sido identificado em cadelas durante a amamentação.
Foram empregados 21 cães durante a pesquisa. Os técnicos usaram o teste de Schirmer (a colocação de uma fita porosa nas pálpebras, para absorver eventuais lágrimas). Depois de cinco horas de ausência, todos os animais produziram lágrimas ao rever os tutores, fato que não foi observado na presença de estranhos.
A aplicação de ocitocina sintética nos olhos dos cães provocou o mesmo efeito. Concluiu-se, portanto, que a visão dos tutores provoca o aumento do chamado “hormônio do amor”. Os cães realmente sentem a falta dos tutores e ficam emocionados quando estes retornam ao ambiente. Os pesquisadores tiveram o cuidado de selecionar cães de portes e temperamentos diferentes para o estudo.
O alívio
Mesmo com a comprovação, muitos especialistas em comportamento animal afirmam não ser possível confirmar que os cachorros sentem saudade da mesma forma como nós experimentamos a sensação.
Os peludos não contam o tempo como nós e, por isso, não percebem a ausência da mesma forma. Pode-se dizer, de qualquer forma, que eles se sentem muito satisfeitos com o retorno dos tutores, apesar de disporem de outras estratégias para superar as separações.
Mesmo de forma primária, os cães sentem a falta da família. A intensidade varia de acordo com a personalidade do animal e com a forma de interação com os humanos. Os tutores podem adotar algumas providências para atenuar a saudade.
Organizar a rotina
É importante que o cotidiano seja bem organizado. Em alguns dias, os cachorros conseguem entender que os tutores saem de casa pela manhã e retornam à noite, por exemplo. O importante é que outros horários também sejam estabelecidos.
Para isso, os peludos podem ser acostumados a brincar, passear e receber as refeições sempre em horários próximos. Os cães conseguem prever as atividades do dia: fazer as necessidades, receber carinho, ver os tutores saírem de casa, brincar com os objetos preferidos, encontrar petiscos e brinquedos escondidos, reencontrar a família, brincar, passear, comer, dormir.
Se for possível, os tutores devem sair de casa (e voltar) sempre no mesmo horário. Não é preciso cronometrar entradas e saídas, mas manter uma rotina aproximada. Aos poucos, os cachorros compreendem que, nesse intervalo, eles devem fazer as atividades organizadas para eles.
Esta rotina se baseia no ciclo circadiano, um termo derivado do latim “circa” (por volta de) e “diem” (dia): é o nosso relógio biológico. Em 24 horas, nós estabelecemos um cronograma de atividades e os cachorros também podem se adaptar a ele.
O reforço positivo é muito importante para atenuar a saudade. No retorno para casa, os tutores podem elogiar o comportamento do peludo, revisar as atividades do dia (comida, brinquedos, sonecas, etc.) e oferecer algum tipo de recompensa material nos primeiros dias.
Na sequência do treinamento, à medida que o cachorro entende como deve agir ao ficar sozinho, os prêmios podem ser dispensados, mas os carinhos e palavras de incentivo continuam sendo fundamentais para o aprendizado – e também para o bem-estar dos peludos.
Não se esqueça: as recompensas só devem ser oferecidas depois que o cachorro se acalmar – em geral, eles “explodem” de felicidade ao rever a família. Espere o peludo se tranquilizar e parar de sinalizar a ansiedade. Só então entregue os prêmios, para que ele associe o presente ao comportamento que se espera introjetar.
O ambiente deve ser enriquecido: afinal, ninguém gosta de ficar sozinho, preso em casa e sem nada para fazer. Os tutores devem providenciar brinquedos, posicionados estrategicamente nos ambientes em que os cachorros podem circular quando os humanos estão ausentes.
Algumas surpresas também são bem-vindas. É o caso de alguns petiscos, que podem ficar escondidos embaixo de almofadas e outros objetos. Uma boa opção é deixar um brinquedo que obrigue o cachorro a planejar uma estratégia: por exemplo, uma garrafa pet com ração, que ele precisa encontrar uma forma de abrir.
Ao voltar para casa, depois da excitação da festa, os tutores precisam dedicar um tempinho para ficar com os cachorros. Não é preciso providenciar nada especial, apenas ficar ao lado, fazendo um cafuné ou coçando a barriga. Os peludos associarão os momentos de bem-estar à presença, focando no tempo em que a família está reunida – e não no período em que eles ficam sozinhos.
Às vezes, um cachorro pode ficar “doente de saudade”. Literalmente, ele pode desenvolver algumas enfermidades por ficar separado dos tutores. Ao perceber quaisquer sintomas, como apatia e desinteresse, é preciso levar o peludo ao veterinário. Garantir a saúde e a qualidade de vida também são tarefas dos tutores responsáveis.