É preciso calcular as despesas no momento de adotar um pet. O “custo cachorro” pode ser elevado.
Quase todos nós conhecemos os benefícios de conviver com um cachorro. Os peludos são leais, divertidos, cúmplices, guardiães – em suma, são os nossos melhores amigos. No entanto, antes de receber um cachorro em casa, é preciso calcular as despesas que ele gera. Adotar gera um aumento no custo doméstico, que pode ser bastante impactante.
Viver com um cachorro traz um sem-número de alegrias e reduz sensivelmente a previsibilidade do dia a dia: a cada momento, estes filhos de quatro patas nos surpreendem com uma brincadeira, uma descoberta ou uma “arte” – que pode ser o lixo revirado, o xixi fora do lugar, a apropriação de uma almofada ou de uma poltrona inteira, etc.
Por outro lado, ter um cachorro acarreta uma série de responsabilidades. Não importa se ele foi adquirido no canil mais prestigiado da cidade ou se foi recolhido da rua: um peludo exige tempo, paciência, dedicação e responsabilidade. Ele também implica custos e, por isso, é bom que o novo tutor esteja preparado
O “custo cachorro”
A primeira despesa para quem escolhe comprar um cachorro é exatamente o custo da aquisição. É possível comprar filhotes sem pedigree – o registro oficial que garante a “pureza da raça” – por R$ 200 ou R$ 300.
Filhotes de cães premiados, no entanto, podem custar até R$ 6.000, dependendo da raça escolhida. Este valor é referente apenas à aquisição do animal, sem considerar outras despesas necessárias ao registro.
Há pessoas que entendem que os cachorros têm direito a uma vida sexual ativa e, por isso, todos os anos, distribuem uma ninhada de seus peludos. Normalmente, eles são doados a parentes e amigos – sem custo ou apenas com o ressarcimento das despesas com gravidez, parto e acompanhamento inicial dos filhotes.
Mas, mesmo que o cachorro seja encontrado em um canil – há diversos, em praticamente todas as cidades brasileiras, em abrigos oficiais e em outros mantidos por entidades sem fins lucrativos –, a adoção também envolve despesas.
Pode ser necessário fazer algumas adaptações na casa, com a instalação de telas nas janelas, portinholas portáteis para as escadas, cobertura de pisos escorregadios e até mesmo degraus para que os cachorros tenham acesso a sofás e camas.
Os cachorros precisam de alguns brinquedos. Eles são úteis para o desenvolvimento físico e emocional. Algumas bolinhas, bastões, cabos-de-guerra, etc. são suficientes para entretê-los, inclusive quando os tutores não estão em casa.
Os filhotes também precisam de mordedores, para aliviar o desconforto da erupção dos dentes (tanto os de leite quanto os definitivos). Eles também são importantes para impedir que os peludos fiquem entediados e se tornem destrutivos.
Com exceção dos mordedores, se houver necessidade, todos os brinquedos podem ser improvisados com objetos e utensílios antigos e sem uso na casa – garrafas pet, ursos de pelúcia, itens que as crianças não usam mais, etc. –, para reduzir as despesas iniciais com a adoção.
Os tutores precisam apenas certificar-se de que eles não tenham arestas, pontas, não se desfaçam com facilidade (permitindo a ingestão de peças pequenas) e não provoquem alergias – as pelúcias, especialmente as mais velhas, quase sempre são alergênicas, mas o efeito pode ser atenuado se forem lavadas e secas ao sol.
Os cachorros também precisam de um cantinho. Mesmo que os tutores liberem camas e sofás para os peludos, é importante que eles tenham uma caminha, para se refugiar quando estiverem cansados, indispostos e até mesmo para “pensar na vida” – sim, os cachorros refletem sobre as ações cotidianas.
O espaço também pode ser improvisado, mas o ideal é adquirir pelo menos um colchonete impermeável, que pode ser recoberto com cobertas velhas. No caso dos filhotes, travesseiros e cobertores atuam como “substitutos” para a mãe e os irmãos de ninhada, amenizando a sensação de solidão e isolamento.
Os tutores precisam se lembrar de que os cachorros crescem: aquela almofada que parecia perfeita no momento em que eles foram adotados torna-se minúscula em poucos dias, especialmente para os animais de grande porte, cujo desenvolvimento físico é muito rápido.
É preciso adquirir comedouros e bebedouros, que também podem ser tigelas velhas e sem uso esquecidas no fundo do armário. Para quem passa boa parte do dia fora de casa, no entanto, o ideal é comprar itens com depósito, para que a ração não perca o aroma e a textura. Os bebedouros com circulação de água garantem líquido fresco a qualquer hora do dia.
A ração é um item fundamental e, neste caso, não é possível pensar em economia. Há diversos produtos de boa qualidade disponíveis no mercado, mas os tutores devem evitar os artigos muito baratos – inclusive os vendidos a granel, porque nunca se sabe em que condições as embalagens foram estocadas, abertas e reembaladas.
Os tutores precisam escolher rações balanceadas, que consigam suprir todas as necessidades nutricionais dos cachorros – e estas variam de acordo com a idade, sexo, porte físico, nível de atividade física e condições gerais de saúde.
Além da ração de boa qualidade, os tutores precisam comprar alguns petiscos para os cachorros. Bifinhos e biscoitos são ideais durante o adestramento inicial (o aprendizado dos comandos básicos), mas é preciso atentar para a produção e manuseio desses alimentos, evitando produtos com corantes, conservantes, etc.
Os ossos naturais devem ser evitados. Os de aves se fragmentam com facilidade e passam a apresentar pontas agudas. Os de porcos e bois apresentam alguns inconvenientes: crus, podem ser vetores de vermes e micro-organismos; cozidos, podem perder a consistência, quebrar-se e facilitar os acidentes.
Fazer comida caseira – inclusive submeter os cães a regimes alimentares de acordo com as convicções dos tutores, como vegetarianismo, por exemplo – quase sempre sai mais caro do que comprar a ração industrializada.
Além disso, cozinhar os alimentos caninos requer tempo e algumas noções de nutrição. É necessário garantir todas as proteínas, gorduras, açúcares e micronutrientes, nas quantidades ideais para cada fase da vida dos cães.
As vacinas
Todos os cães devem receber as primeiras doses das vacinas ainda na fase de amamentação. Por volta das oito semanas de vida, quando os filhotes começam a receber alimentos sólidos e as incursões pelo ambiente ao redor se tornam mais frequentes.
Algumas cidades brasileiras promovem campanhas de vacinação para cães e gatos, mas quase sempre elas se resumem à imunização contra a raiva e os peludos, especialmente os filhotes, estão expostos a uma série de outras doenças.
O ideal é aplicar a vacina múltipla, além da antirrábica. A V8 protege contra cinomose, hepatite infecciosa canina, adenovirose, coronavirose, parainfluenza canina, parvovirose e leptospirose. Há outras opções, como V10, V11 e V12, cuja diferença está na imunização contra mais subtipos dos vírus que transmitem a leptospirose.
A maioria dos veterinários recomenda também a aplicação da vacina contra a giárdia. Ela não protege totalmente contra a giardíase, mas, caso a doença ocorra, os sinais serão mais brandos. O protozoário Giardia lamblia é responsável por diversas disfunções gastrointestinais, como diarreias, vômitos, dores abdominais, etc.
Apresentamos a seguir o calendário básico da vacinação para os cachorros.
Entre seis e oito semanas:
- vacina múltipla – 1ª dose.
Com 12 semanas:
- gripe (inclusive parainfluenza, adenovirose e tosse dos canis);
- vacina múltipla (segunda dose);
- giardíase.
Com 16 semanas:
- gripe (segunda dose);
- vacina múltipla (terceira dose);
- gripe (segunda dose);
- antirrábica.
A imunização contra a gripe é feita em duas doses apenas quando a escolha for pela vacina injetável. No caso do imunizante intranasal, aplicado em gotas, basta uma única aplicação, que pode ser feita a partir das oito semanas de vida.
Ao contrário das outras vacinas, a antigripal não protege integralmente os cães de contrair gripe, parainfluenza e tosse dos canis, porque os vírus responsáveis por estas doenças sofrem mutações com muita rapidez.
De qualquer forma, a imunização protege contra diversos subtipos dos vírus e, quando os cães contraem as doenças, estas se manifestam de maneira mais sutil. Além de reduzir o desconforto, a vacina também elimina uma série de despesas com medicamentos.
Quando o animal completa um ano de idade, sempre de acordo com as orientações do veterinário, ele deve receber mais doses da vacina múltipla, antirrábica, antigripal e contra a giárdia. As imunizações, a partir de então, precisam ser feitas anualmente.
A vermifugação
Esta é uma providência fundamental para os tutores de cachorros. Ao contrário dos gatos, que, com exceção dos que costumam frequentar telhados, becos e quintais alheios, só precisam de uma dose quando são filhotes, os cães devem receber doses de vermífugos anualmente.
O motivo é que a maioria dos bichanos passa o tempo todo dentro de casa, sem se expor aos riscos potenciais de contrair vermes. Os cachorros, por outro lado, passeiam na rua diariamente – as caminhadas são fundamentais para o equilíbrio físico e emocional. Por isso, eles ficam mais expostos.
Os cachorros sempre inspecionam as fezes de outros animais, deixadas pelo caminho por tutores irresponsáveis. Apesar da reação quase instantânea dos humanos, de afastar-se instintivamente, os peludos querem investigar.
O motivo é que o cocô alheio é uma fonte preciosa de informações. Com uma simples cafungada, os cachorros descobrem se o “autor” é macho ou fêmea, se já é conhecido ou um novato nas imediações, se é agressivo, se está com medo e até se tem algumas doenças.
Além disso, nem sempre a fonte dos vermes – ovos e larvas – está evidente nas ruas. A maioria dos tutores recolhe os dejetos dos animais, mas alguns parasitas resistem e podem infestar os que passarem logo depois, alojando-se no organismo (especialmente no intestino) e causando muitos prejuízos.
A primeira dose do vermífugo deve ser ministrada cedo, quando o filhote tem de duas a quatro semanas, com um reforço depois de um intervalo de 15 dias. O motivo é que as cachorras podem estar infestadas por vermes e transmiti-los no parto, na amamentação e na própria convivência no ninho.
Depois do desmame, por volta dos 45 dias de vida, os cachorros precisam receber uma nova dose, renovada a cada três meses até que eles atinjam a idade adulta. O intervalo pode ser menor, de acordo com a rotina dos filhotes.
A partir dos 18 meses de idade, os cachorros devem tomar novas doses de vermífugo, sempre com um reforço 15 dias depois da aplicação, porque os medicamentos agem sobre os vermes adultos, deixando ilesos alguns ovos e larvas.
Os cachorros adultos que saem com muita frequência e têm uma vida social intensa – passeiam várias vezes por dia, ficam hospedados em hotéis, estão matriculados em escolinhas e clubes de atividades físicas – devem receber novas doses a cada quatro meses.
Vale o mesmo para aqueles que brincam com os cães (e até mesmo os atos) da vizinhança, que se divertem fuçando lixeiras e que são autorizados a sair de casa sem a supervisão dos tutores – apesar de não ser recomendada, esta é uma situação muito comum.
Já para os animais mais tranquilos, que passam a maior parte do tempo em casa, são mais seletivos nas brincadeiras e explorações, passeiam por pouco tempo e mal interagem com outros animais, a vermifugação pode ser feita a cada seis meses.
Antes da vermifugação, de acordo com os hábitos do cachorro, o veterinário pode solicitar exames de fezes, para identificar eventuais parasitas e fornecer a medicação mais adequada a cada caso.
Vale lembrar que alguns vermes que parasitam os cachorros (e os gatos também) podem atingir os humanos. As larvas dos ancilostomas, por exemplo, podem permanecer viáveis no chão (no piso do quintal por exemplo) e penetrar a nossa pele se andarmos descalços no local.
A higiene
Esta deve ser uma preocupação constante dos tutores. Há muito mais qualidade na vida dos cachorros limpos e higienizados, que são mais saudáveis (fisicamente e psicologicamente), confortáveis e longevos.
Os tutores devem providenciar alguns apetrechos básicos: escovas para a pelagem (mesmo para os cachorros de pelo curto), escovas ou dedais para a higiene bucal, cremes dentais, sabonetes e xampus e repelentes contra pulgas (escovas, talcos, produtos pour-on, etc.).
A lista pode ser ampliada com perfumes (específicos para cachorros), esmaltes, fitas e outros acessórios. Estes são itens supérfluos, mas muitos tutores gostam de manter os peludos muito elegantes; desde que os produtos não prejudiquem a saúde nem atrapalhem a movimentação e as atividades, não há nenhum mal em adquiri-los.
Alguns tutores optam por dar banho e tosar a pelagem em locais especializados. Apesar de os banhos poderem ser dados em casa, cada família deve definir o melhor procedimento, lembrando que alguns cães precisam de banhos a cada 15 dias.
A tosa, por outro lado, pode ser obrigatória em alguns casos. O Brasil é um país de clima tropical e muitas raças caninas foram trazidas de locais temperados ou até mesmo glaciais. Para um husky siberiano ou um lulu da Pomerânia, manter a pelagem longa e espessa pode ser um verdadeiro suplício.
Ainda no quesito higiene, os tutores, principalmente os que vivem em apartamentos e casas pequenas, devem providenciar tapetes higiênicos para os cachorros fazerem as necessidades fisiológicas – existem opções laváveis e descartáveis. O uso de jornal impresso é contraindicado, porque a tinta pode ser prejudicial à saúde dos peludos, especialmente da pele e da pelagem.
O veterinário
Os filhotes precisam ser acompanhados por um veterinário, assim como os bebês humanos. Na medida das possibilidades financeiras da família, o ideal é que os cachorros sejam levados a consultas mensais, para que o profissional avalie o desenvolvimento físico e emocional e investigue alguns problemas potenciais, como ganho excessivo de peso, alergias e dermatites, etc.
Com relação aos animais adultos e saudáveis, eles devem ser levados ao consultório pelo menos uma vez por ano, para uma consulta de rotina. Nestes casos, o veterinário pode solicitar alguns exames de laboratório, para conferir a saúde dos peludos.
Os idosos, especialmente os que desenvolvem doenças específicas, precisam de um acompanhamento mais próximo. A partir dos sete anos (ou mesmo antes, para algumas raças, como o buldogue inglês), a avaliação médica é necessária para conferir se está tudo bem.
O veterinário é o profissional mais indicado também para orientar os tutores sobre a alimentação, a frequência e a intensidade dos exercícios físicos, a prevenção e correção de transtornos mentais e, claro, para o tratamento de doenças e traumas.
Algumas cidades brasileiras mantêm hospitais veterinários públicos, oferecendo consultas, exames, cirurgias, fisioterapia e muitos outros procedimentos. A maioria desses estabelecimentos é vinculada a faculdades de medicina veterinária.
Mesmo assim, estes hospitais são raros e, inclusive pela falta de oferta, não conseguem proporcionar as orientações necessárias para a manutenção da saúde, bem-estar e equilíbrio dos cachorros.
Há também planos de saúde para os peludos, com atendimento conveniado na maioria das médias e grandes cidades do país. Alguns desses planos são realmente excelentes, mas os tutores devem desconfiar de apólices vendidas a custos mensais muito baixos, que nunca conseguem suprir as necessidades dos cachorros.
Os candidatos a tutores precisam estar preparados também para as emergências. Os cachorros podem engolir objetos estranhos e alimentos não indicados para eles, machucar-se nas brincadeiras (principalmente os de pequeno porte, mas também os mais afoitos), desenvolver doenças e sofrer acidentes. Afinal, assim como nós, eles também são seres vivos.
É importante considerar que adotar um cachorro, seja através de compra, seja de doação, é um projeto de longo prazo. Os peludos vivem relativamente pouco, quando pensamos nas alegrias que eles proporcionam, mas permanecerão conosco durante 12 a 15 anos.
Não é possível considerar os cachorros como objetos, que podem ser descartados quando perdem o aspecto de novidade, a serventia, ou quando as condições de vida sofrem alterações. Quem recebe um cachorro em casa deve mantê-lo para sempre.
Os cachorros importados
Além disso, quem escolhe uma raça estrangeira precisa calcular os custos de importação e permissão para entrada no país. É preciso pagar pelos atendimentos médicos iniciais no país de origem: vacinas, atestado de saúde obrigatório para viagem, passagens aéreas, etc.
No Brasil, o importador também precisa estar preparado para os impostos. Há duas taxas básicas principais: uma equivale a 60% do valor do frete aéreo e outra, com o mesmo percentual, sobre o preço do animal.
De acordo com a Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC), criadores brasileiros importam cerca de 1.000 cães por ano – na maioria, filhotes. As raças mais procuradas são: buldogue francês, rottweiler, spitz alemão, pastor alemão e buldogue inglês.
Mas há quem prefira raças mais exóticas, raras e caras. A CBKC também registra algumas importações do dandie dinmont, do leonberger, do löwchen, do cão pelado mexicano, do cão de crista chinês e até do cão cantor da Nova Guiné.